Com 65 anos de existência, a Adega de Borba é um dos ex-líbris da região alentejana. Prova disso são os cerca de 2800 visitantes que, de acordo o diretor, Delfim Costa (DC), visitamo espaço, anualmente. Óscar Gato (OG), diretor técnico de viticultura e enologia, e Sílvia Mendes (SM), diretora financeira, também não escondem o desejo de ver este projeto continuar a crescer.
DC: Lançámos a ideia do enoturismo há cerca de 12 anos. Atrevo- me a dizer que o que traz visitantes a Borba é principalmente a Adega. São visitas agendadas e pagas, o que reforça a ideia de que quem vem, vem com interesse. Temos uma loja onde disponibilizamos toda a nossa gama e, pontualmente, alguns produtos regionais. Desde há cerca de um ano, temos também o restaurante “Adega de Borba” a funcionar em pleno. Portanto, existe um conjunto de valências, que nós temos a ideia de vir a reforçar em breve, que torna interessante e apetecível esta visita.
Como se adequam as tecnologias que têm surgido ao fabrico do vinho?
OG: É uma questão de evolução ao longo do tempo. A adega foi evoluindo, foi criando e ampliando o seu próprio espaço e neste momento conta com uma capacidade de armazenagem de vinho de 350 mil hl. No que respeita aos equipamentos, dispomos de equipamento de fermentação com e sem pisa mecânica, cubas verticais e lagares, bem como diferentes tipos de barricas e tonéis, para envelhecimento do vinho. Na verdade, apesar de termos disponível a última tecnologia no que à vinificação diz respeito, tentámos nunca perder de vista aquilo que é a nossa característica principal: a genuinidade dos nossos vinhos e desta sub-região específica do Alentejo.
CARACTERÍSTICAS DO SOLO INFLUENCIAM PRODUÇÃO DO VINHO
A Adega de Borba está situada numa zona de extração de mármore (o “eixo dos mármores”). As características do solo desta região conferem especificidade ao “terroir” (extensão de terra cultivada), dando origem a vinhos com atributos diferentes.
Que características diferenciam os vinhos desta região?
OG: Nos últimos anos, há mais açúcar na uva, o que significa que também há um pouco mais de álcool nos vinhos e nós sempre demos preferência a ter vinhos com menos teor alcoólico. Na realidade, o nosso microclima permite-nos ter vinhos um pouco mais equilibrados do ponto de vista da frescura e acidez. Isso é algo que nos pode distinguir um pouco. Os nossos vinhos têm estrutura, equilíbrio e alguma elegância.
Os vinhos dividem-se entre castas brancas e tintas, sendo as principais:
– Castas tintas: Aragonês, Castelão, Trincadeira, Alicante Bouchet, Syrah, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon;
– Castas brancas: Roupeiro, Arinto, Fernão Pires, Rabo de Ovelha, e as novidades, Alvarinho, Verdelho e Gouveio.
Qual o contributo da Adega de Borba para o programa de sustentabilidade dos vinhos do Alentejo?
OG: Este programa nasceu de um plano que teve como orientação aquilo que alguns países já estavam a fazer, embora noutros contextos. No caso da Adega de Borba, neste momento, temos 50% dos nossos sócios no programa de sustentabilidade; 80% da nossa área está em produção integrada, por isso já estamos a fazer uma grande poupança a nível de água e de energia. Em média, há produtores que gastam 20 litros de água por ano para fazer 1 litro de vinho. Há três anos, o nosso objetivo foi conseguir 1 litro e meio de água por litro de vinho. Conseguimos fazê-lo. É importantíssimo poupar água na adega. Por outro lado, é preciso reduzir também a energia e por isso avançámos com o investimento em painéis fotovoltaicos. Relativamente aos resíduos, o que fazemos é separar tudo e entregá-los a empresas que fazem a reciclagem para que estes possam vir a ser reutilizados.
Recentemente, implementaram também um programa de business analytics. Quais as suas vantagens?
SM: O que nos levou a partir para esta solução foi a necessidade que existia por parte dos vários departamentos de aceder a informação. Nós já fazíamos isso, mas estávamos condicionados a rotinas para que nos pudessem retornar os dados que nós pretendíamos analisar. Portanto, as coisas ficaram muito dispersas. Esta foi, então, uma das soluções que nos foi apresentada com base no nosso software. Numa primeira análise, libertou as pessoas que analisavam dados para dar a outrem. Isso permitiu melhorar muito o nosso desempenho, no que respeita à rapidez de processos.
Como antecipa a próxima década em relação ao setor vitivinícola nacional?
DC: Há mudanças fortes no setor a nível mundial. A competição é crescente. Há mudanças a nível da distribuição que condicionam muito a forma de trabalharmos e o próprio negócio. A nível da produção, há mais constrangimentos ambientais. O próprio consumidor, hoje, é muito mais experimentalista e, portanto, menos leal à marca. Definimos cinco linhas estratégicas que são a resposta ao futuro que aí vem. Por um lado, continuar o trabalho de valorizar aquilo que é a qualidade e genuinidade do “terroir” de Borba. Depois, a questão da sustentabilidade social e ambiental. Outro pilar será pugnar pela eficiência em todo o ciclo de produção da uva. Depois trabalhamos para reforçar a internacionalização das marcas. Por fim, a questão da profissionalização da empresa. Reforçar a questão dos quadros e a valorização dos recursos humanos.