O Prémio Nobel da Economia em 2017 – Richard Thaler – defende e bem, que os agentes centrais da Economia são as Pessoas que, por isso mesmo, são previsíveis e propensas a errar.
Nesse sentido, aquele investigador foi um dos primeiros a unir a economia à psicologia. A sua premissa básica é a de que a nossa natureza nem sempre é racional, pelo que as nossas escolhas são, demasiadas vezes, baseadas em questões subjetivas, pessoais e culturais, ao ponto de poderem pesar mais mais do que a racionalidade, principalmente quando agimos sem grande reflexão, ou seja, por impulso.
Ora, sustentar a economia e planos de negócios de uma empresa apenas assente em intervenientes racionais e exclusivamente lógicos, corre o risco de se ignorarem as pessoas que alavancam o crescimento e transformam os sonhos em realidades.
Temos, assim, de aceitar que as Pessoas entram nas empresas com uma história de vida própria, de famílias sui generis e outras envolvências, que as influenciam nos seus estilos de personalidade e formas de comunicação, e que vão relacionar-se entre si no seio da empresa, com todas as inerentes vulnerabilidades e resiliências.
Havendo inovação e territórios para conquistar, vamos garantidamente ter propensão para errar, conflituar, entristecer, zangar, mudar, perder e ganhar. Quero com isto dizer que a nossa natureza não funciona apenas por lógica ou razão, mas sob influência inconsciente ou implícita de preconceitos, valores culturais, histórias de vida e emoções que são condicionadas pelos contextos envolventes e tipo de pessoas que nos rodeiam.
Compreender a aura com que cada um vê o seu mundo é a verdade individual do próprio. Nesse sentido, as verdades de cada um num grupo criam um ambiente organizacional que tanto pode potenciar a produtividade e a facturação, como também prejudicá-la. Compreender o impacto destas variáveis comportamentais na empresa, através de ferramentas cientificamente sustentadas e medidas com KPIs (Key Performance Indicators) permite, por isso, ganhar mais com as mesmas pessoas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (2016), o número de pessoas que sofre de depressão e ansiedade aumentou quase 50% entre 1990 e 2013, passando de 416 para 615 milhões em todo o mundo. E esta falta de saúde mental é um significativo problema de saúde pública, não só pelo dano que causa à Pessoa, mas também pelo custo anual que as doenças mentais têm no mundo: o dramático número de 870 mil milhões de Euros perdidos, segundo a mesma organização.
Analisando ainda mais ao detalhe a literatura científica, porque sem detalhe e objectividade de dados da investigação só temos opiniões, sabemos que uma em cada dez pessoas sofre, pelo menos, de uma doença mental, o que representa 30% do peso global de doenças que não são fatais.
Num estudo publicado na revista Lancet Psychiatry (2016), sobre o retorno de investimento quando as empresas agem sobre a saúde mental e riscos psicossociais dos seus colaboradores, os dados são evidentes sobre os ganhos que há, quer para as empresas, quer para a economia de um país. Nesta investigação sobre os custos do tratamento e benefícios em 36 países de baixo, médio e alto rendimento entre 2016 e 2030, os dados mostram que o retorno compensa largamente o custo.
O custo que as empresas têm em diagnosticar e intervir sobre os riscos psicossociais e saúde mental é de 128 mil milhões de Euros. Ao fazê-lo, e recuperando a saúde mental dos trabalhadores, a força de trabalho aumenta 5% e a produtividade alcança 349 mil milhões de Euros. Esta escolha dos decisores dentro das empresas, aumenta o retorno pela melhoria na saúde mental em 271 mil milhões de Euros. Tendo em conta que o investimento é de 128 mil milhões, compreende-se o ganho significativo do mesmo.
Dito de forma ainda mais objectiva e fácil de entender, a estimativa que a Organização Mundial de Saúde faz, pela primeira vez, sobre os benefícios nas empresas e na economia, mostra que, por cada 1 Euro investido, ganham 4 Euros pela recuperação da saúde mental e capacidade de trabalho.
Num estudo feito em Portugal pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, são 300 milhões de euros perdidos por ano, devido ao Stress, com tratamentos e perdas de produtividade alarmantes. Ao nível europeu, os dados evidenciam também que o custo anual do stress associado ao trabalho foi estimado em 20 mil milhões de Euros, e 50-60% do absentismo está directa ou indirectamente ligado ao stress.
Estou certo que, se as empresas ganhassem este dinheiro e o tivessem que pagar, estariam muito atentas a esta realidade, mas como esse dinheiro nunca entrou nas empresas, os empresários não têm consciência do que perdem de produtividade e do que podiam ganhar, com as mesmas pessoas.
Hoje, a Psicologia das Organizações enquanto ciência comportamental, tem ferramentas cientificamente sustentadas para ajudar as empresas a agir e melhorar a sua produtividade.
Citando Zig Ziglar, “não podemos acertar num alvo que não vemos, nem podemos ver um alvo que não temos”. Acções de teambuilding, formações, palestras motivacionais, Coaching, etc., só por sensibilidade dos cargos de direcção, apesar de louvável, não têm diagnóstico “clínico”, o que acaba por ser pouco cirúrgico para, de facto, agir sobre o que são os riscos psicossociais e de saúde mental dentro das empresas.
Sem um diagnóstico diferencial objectivo com base na avaliação individual subjectiva de cada funcionário, não se consegue fazer uma intervenção adequada. Quando muito, paliativa. Mas o que queremos é eficácia para competir no mundo complexo e volátil actual, para não sermos ultrapassados.
Podemos concluir que ouvir cada um (bottom up), juntando a visão de todos, quantificando cientificamente e com intervenções estruturadas com base na ciência do comportamento de excelência, é a melhor ferramenta que o mercado hoje tem disponível para as empresas que escolhem ir mais longe.
Ivandro Soares Monteiro
Psicólogo Clínico, Psicoterapeuta, Psicólogo do Trabalho e das Organizações. Executive Coach. Fundador e Director-Geral da EME Saúde. Professor Universitário. www.drivandro.com