Confiança

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João Torres, Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor

Em 2019, o desempenho da economia nacional fez superar os valores estimados pelo próprio Governo e o peso das exportações no produto interno bruto cresceu, mesmo perante uma conjuntura internacional mais adversa, demonstrando a resiliência e a competitividade do nosso tecido económico. Nos dois primeiros meses de 2020, o volume de negócios do emprego e das remunerações nas atividades de comércio e de serviços cresceu sustentadamente, como confirmam as estimativas já publicadas. O rumo trilhado passava pelo crescimento e pela convergência face aos congéneres europeus, reforçando a confiança no futuro.

Em meados de fevereiro, porém, o novo coronavírus alastrou-se à Europa, surgindo, no início do mês de março, o primeiro caso de infeção em Portugal. O desconhecimento sobre o vírus e sobre os seus mecanismos de propagação obrigou à adoção de um vasto conjunto de medidas para proteger a saúde pública, o que determinou que se suspendessem atividades e se definissem restrições ao funcionamento de diversos setores da economia.

Desde a primeira hora, o Governo assumiu três objetivos fundamentais, nos quais esteve, está e permanecerá empenhado: a manutenção dos postos de trabalho e dos rendimentos dos trabalhadores, a facilitação do acesso a liquidez por parte das empresas e, naturalmente, a preservação da capacidade produtiva instalada. Tendo em vista o cumprimento destes objetivos, foram concretizadas várias medidas, que vão desde a dinamização de linhas de crédito com garantia pública à possibilidade de acesso a um regime de lay-off simplificado, entre outros instrumentos de proteção dos cidadãos e dos sinais vitais da economia. Adicionalmente, o contexto de acentuada imprevisibilidade suscitou preocupação quanto ao funcionamento da cadeia de abastecimento agroalimentar. A hipótese da emergência de perturbações que espoletassem ruturas no fornecimento de bens essenciais exigiu a articulação permanente entre representantes de diversos setores, num esforço conjunto cujo resultado é assinalável.

O regresso ao quotidiano comunitário e a gradual retoma da atividade económica marcaram o início de um novo período. Sem nunca menosprezar a preponderância da saúde pública, o plano de desconfinamento apresentado pelo Governo acautelou a necessidade de gerar e sedimentar, desde a primeira hora, confiança. Por forma a auxiliar as micro, pequenas e médias empresas no esforço de adaptação dos seus estabelecimentos, de métodos de organização do trabalho e de relacionamento com clientes e fornecedores, foi concebido um programa de apoio específico especialmente oportuno e relevante, por exemplo, para os setores do comércio, dos serviços e da restauração. Tem sido,pois, absolutamente notável o empenho dos operadores económicos na adaptação a este novo normal. Sem o extraordinário – mas não surpreendente, para quem conhece os Portugueses – esforço e a capacidade de adaptação dos trabalhadores e dos empresários, nada teria sido igual. Ainda no período do estado de emergência, a redução da mobilidade contribuiu para o crescimento significativo das encomendas e, consequentemente, das entregas, tanto de produtos alimentares, como de refeições preparadas, ou ainda de bens e produtos de outra natureza, ilustrando o esforço de digitalização e de recurso a soluções inovadoras por parte das empresas.

Nos futuros próximo e imediato, a dinâmica da economia nacional não será exatamente idêntica à que existia no período anterior ao surto que – ainda – enfrentamos. Mas os pilares essenciais da nossa estratégia de desenvolvimento mantêm-se intactos e foram, antes mesmo desta nova e difícil circunstância, bem assinalados pelo Governo: o desafio da digitalização, a necessidade de reforço do combate às alterações climáticas, a abordagem integrada e inclusiva da demografia e a redução das desigualdades. Para que, em breve, possamos retomar a trajetória que vínhamos seguindo, coletivamente, é fundamental que todos os cidadãos – consumidores – assim como as empresas, continuem a ser agentes ativos de contenção da propagação da Covid-19.

Com passos comedidos, mas sólidos, acredito que estaremos à altura do desafio de combater o vírus SARS-CoV-2 e de, simultaneamente, retomar a atividade económica, para o que a responsabilidade e a confiança são, justamente, os fatores mais decisivos.