Sei que não vou por aí!

0
949

O cansaço abate-se sobre a quantidade de literatura sobre o “novo normal” e as novas lideranças, os novos desafios e do magnífico que é descobrirmos que afinal até somos capazes de comunicarmos todos à distância (seja através de aplicações informáticas, seja a 2 metros uns dos outros, com máscaras na cara, trocando palavras abafadas e “alhos por bugalhos”), e da inteligência artificial e do teletrabalho e de todas as novas tecnologias e do “diabo a sete”. Sim, tudo isso. Está tudo muito bem. Sim, parte de tudo isto será inevitável, mas provavelmente, por tanta leitura na minha área profissional e de parecer que “vira o disco e toca o mesmo”, gostava que alguém mudasse um pouco esta playlist.

O cansaço abate-se pela esquizofrenia de, por um lado, ouvir falar de tantas empresas em lay off, em processos de despedimentos e dos senhores do Banco de Portugal com projeções catastróficas e logo a seguir ouvir o “lado B” sobre a maravilha da “Champions League” e da euforia de desatarem todos a fazer webinares e formação online para tudo e mais alguma coisa e fingir que chegou uma solução milagrosa e que ninguém ainda tinha pensado nela! Não me julguem “velho do restelo”, já quase há 15 anos que apostei na área de e-learning (mais corretamente dizendo, formação a distância), cheguei a trabalhar nesta área e há muito boa gente a estudar e a desenvolver estes modelos muito antes do tempo dos cursos que vinham por correio para casa (quem for mais novo não saberá do que falo, com certeza).

Mas o que andamos nós a fazer? Mais concretamente, o que a área da Gestão das Pessoas anda ou vai fazer? Pelo que me toca, tento recentrar as ideias, repensar o que sinto sobre a atual Gestão de Pessoas, tento encontrar um ponto de equilíbrio para as mudanças necessárias (?) e principalmente fujo dos extremos. De facto não acredito que a saída seja (apenas) pela via das tecnologias e a colocar todos a trabalhar de casa para reduzirmos os custos e assim conseguirmos manter tudo como dantes.

Os Japoneses tem um termo muito curioso que é “Shokunin”, que traduzido à letra significa artesão ou artista, mas o real conceito não é bem esse. Shokunin significa possuir não só as habilidades técnicas necessárias para algo, mas também uma atitude e uma consciência social. Significa ter uma obrigação de trabalhar no seu melhor e de uma busca constante da perfeição para o bem-estar geral de todos (independentemente da atividade em causa). No fundo é fazer algo não só pela alegria de o fazer, mas executá-lo com todo o primor e ao máximo da sua capacidade. Shokunin torna-se assim um estilo de vida, uma maneira de pensar, uma característica pessoal que irá afetar por completo a interação com o mundo.

Então qual deverá ser a motivação de todos os que trabalham na área da Gestão de Pessoas? Para mim, a resposta é clara: Temos de sentir verdadeiro prazer em melhorar a vida das pessoas. Sentir o impacto na vida de alguém e saber que o que fizemos trouxe algo de bom e positivo. Em fases difíceis como esta, poderá não ser tão evidente este contributo (até por vezes poderá ter um sabor amargo), mas garanto que as nossas atitudes não passarão despercebidas e farão a diferença. Não sei se chegarei um dia a ser um verdadeiro Shokunin na minha “arte”, mas como diz José Régio “Não sei por onde vou, Não sei para onde vou, Sei que não vou por aí!”.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here