O cansaço abate-se sobre a quantidade de literatura sobre o “novo normal” e as novas lideranças, os novos desafios e do magnífico que é descobrirmos que afinal até somos capazes de comunicarmos todos à distância (seja através de aplicações informáticas, seja a 2 metros uns dos outros, com máscaras na cara, trocando palavras abafadas e “alhos por bugalhos”), e da inteligência artificial e do teletrabalho e de todas as novas tecnologias e do “diabo a sete”. Sim, tudo isso. Está tudo muito bem. Sim, parte de tudo isto será inevitável, mas provavelmente, por tanta leitura na minha área profissional e de parecer que “vira o disco e toca o mesmo”, gostava que alguém mudasse um pouco esta playlist.
O cansaço abate-se pela esquizofrenia de, por um lado, ouvir falar de tantas empresas em lay off, em processos de despedimentos e dos senhores do Banco de Portugal com projeções catastróficas e logo a seguir ouvir o “lado B” sobre a maravilha da “Champions League” e da euforia de desatarem todos a fazer webinares e formação online para tudo e mais alguma coisa e fingir que chegou uma solução milagrosa e que ninguém ainda tinha pensado nela! Não me julguem “velho do restelo”, já quase há 15 anos que apostei na área de e-learning (mais corretamente dizendo, formação a distância), cheguei a trabalhar nesta área e há muito boa gente a estudar e a desenvolver estes modelos muito antes do tempo dos cursos que vinham por correio para casa (quem for mais novo não saberá do que falo, com certeza).
Mas o que andamos nós a fazer? Mais concretamente, o que a área da Gestão das Pessoas anda ou vai fazer? Pelo que me toca, tento recentrar as ideias, repensar o que sinto sobre a atual Gestão de Pessoas, tento encontrar um ponto de equilíbrio para as mudanças necessárias (?) e principalmente fujo dos extremos. De facto não acredito que a saída seja (apenas) pela via das tecnologias e a colocar todos a trabalhar de casa para reduzirmos os custos e assim conseguirmos manter tudo como dantes.
Os Japoneses tem um termo muito curioso que é “Shokunin”, que traduzido à letra significa artesão ou artista, mas o real conceito não é bem esse. Shokunin significa possuir não só as habilidades técnicas necessárias para algo, mas também uma atitude e uma consciência social. Significa ter uma obrigação de trabalhar no seu melhor e de uma busca constante da perfeição para o bem-estar geral de todos (independentemente da atividade em causa). No fundo é fazer algo não só pela alegria de o fazer, mas executá-lo com todo o primor e ao máximo da sua capacidade. Shokunin torna-se assim um estilo de vida, uma maneira de pensar, uma característica pessoal que irá afetar por completo a interação com o mundo.
Então qual deverá ser a motivação de todos os que trabalham na área da Gestão de Pessoas? Para mim, a resposta é clara: Temos de sentir verdadeiro prazer em melhorar a vida das pessoas. Sentir o impacto na vida de alguém e saber que o que fizemos trouxe algo de bom e positivo. Em fases difíceis como esta, poderá não ser tão evidente este contributo (até por vezes poderá ter um sabor amargo), mas garanto que as nossas atitudes não passarão despercebidas e farão a diferença. Não sei se chegarei um dia a ser um verdadeiro Shokunin na minha “arte”, mas como diz José Régio “Não sei por onde vou, Não sei para onde vou, Sei que não vou por aí!”.