Valor Digital #011

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A economia e a sustentabilidade caminham lado a lado, por estes dias. As empresas precisam de se tornar mais sustentáveis, para cumprir critérios europeus já predefinidos e também para acompanhar os seus clientes e fornecedores nos seus desígnios de reduzir a pegada ambiental das produções industriais.

A transição para a economia circular pode impulsionar a inovação em diversos setores e, de acordo com o Parlamento Europeu, neste artigo, , pode levar também à criação de perto de 700 mil novos postos de trabalho na União Europeia até 2030.

Mas, o que é a Economia Circular?

É, segundo o mesmo artigo, “um modelo de produção e de consumo que envolve a partilha, o aluguer, a reutilização, a reparação, a renovação e a reciclagem de materiais e produtos existentes, enquanto possível. Isso faz, evidentemente, com que o ciclo de vida dos produtos se alargue. No fundo, o objetivo é reduzir o desperdício ao mínimo, fazendo o aproveitamento máximo de todos os produtos e reutilizando-os e transformando-os novos produtos ou utilizando-os para outros fins, de forma a continuarem a ser úteis.

Este é o modelo de Economia Circular:

Um dos grandes objetivos de levar a cabo esta transição económica é combater o efeito de estufa. Por outro lado, reduzir o consumo rápido (“compra-usa-deita fora”) é também crucial para a redução dos resíduos.

Segundo a mesma fonte, cada europeu gera, em média, por ano, 190 kg de resíduos embalagens, por exemplo.

Outro grande problema do aumento do consumo rápido são as matérias-primas cruciais, que são escassas e cujo valor aumenta devido à grande necessidade que delas existe.

A União Europeia pretende, por estas razões, assumir uma economia circular e neutra em carbono até 2050, e já começou a implementar medidas para tal, conforme se tem vindo a notar pelo posicionamento das empresas que trabalham no mercado europeu.

Em Portugal, uma outra iniciativa tomou forma: os Edifícios Circulares

Este projeto, desenvolvido pela Associação Smart Waste Portugal, em colaboração a 3drivers – Engenharia, Inovação e Ambiente, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e a Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção, foi financiado pela EEA Grants e pautava-se pelo objetivo de desenvolver ferramentas – que depois seriam disponibilizadas às empresas do setor da construção – que ajudassem a aumentar a reutilização de materiais e a reduzir os resíduos decorrentes de uma obra.

Para tal, foram criados:

  • Um Guia para criação de passaportes de materiais para edifícios;
  • Um Guia de boas práticas para promoção da circularidade nas Declarações Ambientais dos Projetos;
  • Um Guia de boas práticas para o cálculo de indicadores de eficiência de edifícios;
  • Uma Ferramenta de cálculo de impactes ambientais e económicos associados à reutilização de materiais e produtos de construção e tratamento de resíduos.

Este projeto segue os objetivos do Protocolo de Gestão de Resíduos de Construção e Demolição da União Europeia e do Plano de Ação para a Economia Circular do Governo de Portugal. Um exemplo já foi demonstrado, com a remodelação e ampliação da Escola Básica Dr. Flávio Gonçalves, na Póvoa de Varzim.

Projetos como este são cruciais para que Portugal se reposicione, face aos restantes países da União Europeia, quando analisamos a taxa de utilização circular dos materiais. Em 2023 (últimos dados disponíveis), Portugal era o 24º país, de entre os 27 com a mais baixa taxa de utilização circular de materiais, com apenas 2,,8%, tendo sido ultrapassado pela Lituânia, pela Bulgária e pela Letónia (fonte: PORDATA).

Os empresários cujo papel é ajudar outros a empreendedores a fazer a transição da sua empresa para uma economia circular afirmam que o interesse existe e é cada vez maior. Importa, no entanto, não esquecer que existem metas comunitárias para cumprir e que esta transição não pode significar perda de competitividade e capacidade produtiva para as empresas.

Os projetos existem e a forma como estão a ser aplicados parece promissora. Veremos se o país consegue, de facto, transformar a sua economia, através de uma versão mais amiga do planeta.