“A sociedade não está adaptada para mulheres que são mães e profissionais”

Ana Coimbra Fernandes é médica especialista em Tricologia e transplantes capilares. Lidera a equipa de Medicina Capilar da Clínica Macro, com 40 anos de serviço e procurada pelos seus altos padrões de atendimento e profissionalismo. Esta profissional assume que o facto de deter um cargo de coordenação a ajuda a poder gerir o seu dia de forma equilibrada, mas reconhece que é preciso uma ótima condição financeira para sustentar o equilíbrio entre uma vida familiar e uma vida profissional plenas.

0
243

A área da Saúde sempre foi aquela onde quis desenvolver a sua atividade? Porquê a opção pela área da Estética e da Tricologia?

Desde cedo, sonhava em ser médica, mas foi quando enfrentei “peladas” no cabelo devido a uma condição no pâncreas, que comecei a olhar a Medicina Estética com outros olhos. Percebi o impacto profundo que a aparência tem na autoestima, o que me levou a apostar na área dos cuidados capilares e conhecer a Tricologia, onde encontrei o meu propósito: combinar conhecimento médico e estético para ajudar pessoas a recuperar a sua confiança e bem-estar.

Existe ainda muito desconhecimento sobre o que é a Tricologia e há, também, alguma confusão entre o que é puramente estético e o que é doença. É possível esclarecer isso?

Sim. Na Medicina Estética nós melhoramos a autoestima, porque a pessoa quer sentir-se mais bonita. Na Medicina Capilar, não falamos apenas da parte estética, mas de uma doença do couro cabeludo, há uma queda de cabelo/
deflúvio que tem que ser tratado.

As pessoas acham que a queda de cabelo é normal?

A queda de cabelo é vista apenas como uma questão estética, levando as pessoas a procurar soluções no cabeleireiro, seja através de tratamentos superficiais ou cortes estratégicos. No entanto, a queda de cabelo está frequentemente ligada a causas orgânicas e complexas, como doenças autoimunes, intolerâncias alimentares
graves e fatores genéticos – especialmente nos homens, onde a calvície é uma condição hereditária. Para as mulheres, as causas hormonais desempenham um papel crucial nesse processo.

Quais os tratamentos e procedimentos que existem na Clínica Macro?

Em termos de tratamentos, temos o plasma, a mesoterapia, os exossomas, os polinucleóticos (colagénio), a toxina botulínica, tratamentos através da microinfusão de medicamentos para pessoas que têm problemas específicos de alopecia, nomeadamente alopecia inflamatória e cicatricial. Também realizamos tratamentos pré e pós transplante capilar, para melhorar o cabelo transplantado e impedir o nativo de cair a longo prazo.

Qualquer pessoa pode fazer um transplante capilar?

Não, nem toda a gente pode fazer transplante. Há pessoas com determinado tipo de alopecias que têm contraindicação absoluta para transplante.

Por que lhe parece que as mulheres ainda estão representadas em muito menor número nas funções de coordenação e direção de um negócio ou de uma área de especialidade?

Acontece porque as mulheres acabam por se confrontar com a maternidade num momento em que estão, também, a atingir o auge da carreira. Isso pode impedir-nos de prosseguir na carreira, porque optamos por dar atenção aos filhos. Ainda assim, creio que conseguimos fazer as duas coisas, só que infelizmente o mercado de trabalho não nos encoraja para isso.

Que conselho deixa para as mulheres que estão a iniciar o seu caminho profissional?

Acredito que a resiliência é fundamental para o sucesso. Trabalhar em cargos iniciais permite compreender melhor as pessoas que desempenham essas funções, o que se torna uma grande vantagem quando assumimos posições de liderança. Essa compreensão capacita-nos a construir equipas sólidas, tornando o trabalho em conjunto muito
mais eficiente e gratificante.