“A UE precisa de uma política industrial interna que reforce a competitividade”

A Europa atravessa uma fase em que há decisões fulcrais que necessitam de ser tomadas, sobretudo nas áreas da Defesa, da Sustentabilidade e da Competitividade económica. Isilda Gomes, eurodeputada eleita pelo Partido Socialista, destaca os principais aspetos a ter em conta para que a União Europeia se mantenha forte e unida.

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Considerando as políticas que estão em curso e o recente relatório Draghi, parece-lhe que a União Europeia continuará forte e robusta na concretização destas políticas?

A premência e pertinência do relatório Draghi, bem como do relatório Letta, prende-se precisamente com o facto de as atuais políticas não estarem a produzir os resultados desejados face aos muito imprevisíveis constrangimentos que enfrentamos. Se devidamente implementadas as recomendações destes dois relatórios, estaremos certamente numa posição mais vantajosa para defender os nossos valores e entregar às novas gerações um futuro melhor e mais justo.

Quais as áreas em que lhe parece realmente importante que o avanço aconteça?

Numa vertente interna, é necessário um reforço da nossa competitividade, através de uma política industrial coerente e ambiciosa, que salvaguarde a autossuficiência da UE, tornando-a menos vulnerável a choques externos. Na vertente externa, considero que a União Europeia tem a necessidade de se expressar a uma só voz, desenvolvendo uma política externa unificada e que promova os seus valores, interesses e prioridades.


Que riscos corre a União Europeia e a economia comunitária caso não consiga corresponder à capacidade de ser competitiva relativamente às economias chinesa e norte-americana?

A União Europeia enfrenta desafios muito sérios, que poderão vir a colocar em causa os nossos padrões de vida e a capacidade de suportar o modelo social europeu. Porém, não será com baixos salários e baixos padrões de vida que poderemos melhorar a competitividade, mas com elevadas competências e alto padrão tecnológico. Temos, portanto, de relançar a nossa economia, nomeadamente através de uma verdadeira Política Industrial em setores estratégicos de elevado valor acrescentado, e com aposta nas pessoas e no desenvolvimento das suas competências.

A preocupação com os jovens, por um lado, e com o envelhecimento da população por outro, traz também desafios particulares a nível demográfico. Como está a Europa a lidar com estes desafios?

Essas são matérias em que tem havido alguns avanços, mas é claro para mim que temos de ir muito mais longe. Foram os Socialistas Europeus que conseguiram que a Europa adotasse o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, onde são definidas ações e metas para questões tão sérias como o aumento do custo de vida, a pobreza ou a habitação. Foi também por exigência nossa que há agora, pela primeira vez na História, um Comissário Europeu com a pasta da Habitação, com o compromisso de lançar um Plano Europeu para Habitação Acessível.

António Costa assumiu recentemente a função de Presidente do Conselho Europeu. Que características, enquanto político, aporta António Costa a esta função que poderão revelar-se essenciais, dado o momento que a Europa atravessa?

Quem circula nas instituições europeias sabe bem o prestígio internacional de António Costa, considerado um líder muito eficaz, com uma grande capacidade de diálogo e de encontrar soluções em que todos se sentem envolvidos.
Essas características são essenciais para construir soluções de compromisso entre os 27 Estados-membros, e ninguém melhor do que António Costa para o conseguir fazer e desbloquear muitos dos problemas e desafios que a União Europeia enfrenta.