Há mais de 30 anos que se formou em Direito e está quase a completar três décadas da sua inscrição na Ordem dos Advogados. Ao fim de todo este tempo, o que mudou na área da Advocacia no que respeita às mulheres?
As mulheres cada vez mais tomam conta do mundo do Direito. É superior o número de advogadas, de magistradas e de procuradoras. O elevado número de mulheres licenciadas em Direito determinou que, ao longo do tempo, as profissões do Direito fossem ocupadas por mulheres. Esta foi uma das alterações absolutamente evidentes. A Justiça, do ponto de vista exclusivamente feminino, evoluiu muito, veja-se o fenómeno da violência doméstica, e do ponto de vista legislativo, os direitos e proteção da parentalidade.
Quais as maiores dificuldades na área da Justiça, atualmente?
Quando comecei a ir para o escritório do meu patrono, em setembro de 1994, os tribunais tinham atrasos de dois, três anos para uma sentença e agora voltámos a esse estado de coisas, não porque o juiz leve um ano a proferir
a sentença, mas porque, por exemplo, a sentença leva um ano a ser notificada. Quando eu iniciei a minha carreira, tudo era entregue exclusivamente em papel, nos tribunais. Hoje, já existe muita digitalização, muito registo eletrónico e a evolução foi imensa. Mas depois há coisas que faltam, como funcionários judiciais suficientes para darem cumprimento aos despachos. Há tribunais em que os procuradores ou juízes despacham, mas depois é a secretaria que vai fazer a notificação e são estas notificações que estão muito atrasadas.
Fundou uma sociedade de advogados. Este foi um passo importante na sua carreira?
Criei a sociedade alinhada com o momento profissional que atravessava. Julguei que fundar uma sociedade de advogados poderia ser benéfico em termos da gestão e organização do trabalho. Aproveitar gostos e competências distintos para, por um lado, poder prestar um melhor serviço ao cliente, e, por outro, permitir que cada um de nós, advogados, também estivesse mais à vontade em fazer aquilo de que mais gosta, mantendo por perto colegas que nos possam ajudar e apoiar, com quem discutimos estratégias e raciocínios e que, de certa forma, validam o nosso pensamento.
Que fatores considera importantes para alcançar uma carreira bem sucedida na Advocacia?
O primeiro fator que pode conduzir ao sucesso é o conhecimento – o conhecimento do Direito, da Lei – a capacidade de, perante um problema, saber orientar para uma solução. E isto é tão importante perante o cliente como perante o patrono ou perante o grupo de pessoas com quem se está a trabalhar; o segundo segredo é a organização – nós
temos de ser organizados, trabalhamos com prazos.
Há muitos profissionais liberais que, recebendo as notificações com prazos de resposta de 30 dias, procrastinam e depois trabalham até altas horas da noite ou aos fins de semana, ou acabam a pagar multas por não terem conseguido cumprir os prazos.
Se assim for, não há espaço para imprevistos, nem para oportunidades… Organização e método são fundamentais. O terceiro aspeto – e aqui mais direcionado a profissionais muito jovens do sexo feminino – importa saber ler os potenciais sinais de assédio.
A capacidade de trabalho também faz parte do caminho para o sucesso. É preciso perceber que, na nossa atividade, não é possível fazer um horário das 09 às 18h. Às vezes há obstáculos, imprevistos que nos somam trabalho ao dia. Há ainda a destacar a gestão do dinheiro. O advogado deve fazer uma clara distinção entre o que é dinheiro dele e dinheiro do cliente. Por exemplo, o cliente entrega uma provisão para despesas e honorários e saber apresentar contas sobre o que se fez e o que se gastou é fundamental.