“As solicitações de crédito vão ser menores em 2023”

José Pinto Hespanhol é o diretor da Yes Crédito, uma empresa de intermediação de crédito qué é especializada em crédito automóvel. Embora deixe bem claro que o crédito bancário não deve ser visto como um problema, este empresário alerta para a importância de uma política de boa gestão, por parte das famílias e das entidades bancárias, para fazer frente às dificuldades que este ano pode trazer.

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O crédito é uma solução muito usada por quem pretende efetuar alguns projetos maiores na sua vida. Como avalia a situação atualmente, considerando toda a conjuntura que o país vivencia?

Começamos por um ponto muito importante: há uma noção generalizada de que muitas pessoas recorrem ao crédito de uma forma irresponsável e o crédito é qualquer coisa de maléfico, algo sobre o qual as pessoas não pensam bem. Eu considero que esse é um preconceito que tem de ser ultrapassado. Neste caso, a conjuntura do país influencia a concessão de crédito em duas vertentes: a primeira, a subida das taxas de juro veio fazer com que o rendimento disponível das famílias seja menor – vão pagar prestações mais altas por um crédito que já tinham contraído; simultaneamente, o acesso ao crédito fica ainda mais limitado, dado que o limite de taxa de esforço das famílias é facilmente atingido. Numa segunda vertente, existe por parte das entidades financeiras
algum conservadorismo e prudência que se impõem, precisamente por estarmos num período de incerteza, o que fará com que revejam as suas políticas de concessão de crédito, na medida em que têm de prevenir futuras situações de incumprimento.

O crédito automóvel é um dos principais créditos contratados pelas famílias portuguesas. Tendo em mente toda a nova cultura de deslocações “verdes”, bem como as alternativas que hoje existem para deslocações, tudo isto teve impacto na procura de crédito para compra de automóvel próprio?

As pessoas vão passar a ter o sentimento de usufruto de um bem e não o da sua posse. Hoje já é isso que se passa, no caso do crédito habitação. Grande parte dos créditos habitação não chegam à sua maturidade, porque as pessoas vendem as casas antes de pagarem o crédito e amortizam-no com o produto da venda da casa. O mesmo acontecerá, cada vez mais, com os automóveis. Para viaturas novas, já existem produtos definidos,
que estipulam a utilização dos veículos e não a sua posse. No entanto, no que respeita a viaturas usadas – o mercado para o qual estamos vocacionados – ainda não existem produtos definidos para este fim, pelo que o crédito automóvel continua a ser o mais utilizado, mas com o mesmo fim, o usufruto, tendo em consideração que os contratos de crédito automóvel, que são feitos por prazos bastante alargados, não atingem, na maioria das vezes, a sua maturidade.

Qual a importância de ter um intermediário de crédito envolvido num processo de negociação de créditos e que impacto isso pode ter na negociação final?

O intermediário de crédito dá ao cliente uma perspetiva muito mais abrangente do mercado e dos produtos que tem ao seu dispor, muitas vezes permitindo ao cliente contratar soluções que, se não tivesse o apoio do intermediário de crédito, não contrataria.

Essa procura pelos vossos serviços já se nota?

Continua a haver um preconceito muito grande face à profissão de intermediário de crédito, devido ao seu passado – ela nasceu de uma atividade de freelancers com algum grau de amadorismo e não especializados, que cometeram alguns erros e hoje ainda lidamos com essa herança. Pelo lado do consumidor, não acredito que saibam a importância dos intermediários de crédito; e, por parte das entidades financeiras, ainda existem
algumas reticências face a um histórico da atividade que não foi o mais positivo. Deveria haver uma associação que promovesse a atividade e, quando assim for, estou convencido de que teremos uma imagem completamente diferente no mercado.

Neste ano, que tendências de crédito poderemos esperar?

Diria que o que irá acontecer é que as solicitações de crédito vão ser menores, o ticket por solicitação – o valor médio solicitado – vai baixar, porque as pessoas vão adquirir bens ou serviços de valor mais baixo, para terem um montante financiado mais adequado à sua situação e a qualidade das propostas vai ser afetada porque teremos clientes com mais dificuldade em apresentar rendimentos de acordo com o montante de crédito que estão a solicitar. O mercado automóvel está muito dependente do produto de crédito, pelo que é fundamental que os clientes possam continuar a ter acesso ao crédito.