Como foi o ano de 2022, para a Miravillage?
2022 foi um ano excelente, à semelhança dos últimos cinco a sete anos, mas, num contexto de mercado com assimetrias profundas, provocadas em grande parte pela escassez de imóveis para venda, sentimos alguma dificuldade em angariar imóveis para promover e, acima de tudo, por valores de venda “equilibrados”. Não só, mas também por essa razão, temos vários negócios fechados com imóveis ainda em construção. Apesar de entrega do bem não ser imediata, este modelo de negócio será uma tendência, que fará cada vez mais sentido.
Alguns problemas que surgiram no mercado imobiliário prendem-se com as demoras nos processos burocráticos, a menor construção de imóveis destinados à classe média e o investimento dos estrangeiros, que é apontado como uma das causas para a subida dos preços dos imóveis. Para si, que problemas lhe parecem importantes de resolver rapidamente?
Tocámos num ponto sensível, que importa salientar: a compra pelos não residentes foi e é bastante importante e vital para o setor. É absolutamente crítico que não se atribua o rótulo desse investimento ter sido o causador da subida de preço das casas. A importância do investimento estrangeiro é vital para todos os setores económicos da sociedade. Investimos tantos anos e dinheiro para promover Portugal como sendo um destino apetecível, para agora virmos considerar que os investidores não residentes são culpados da situação do mercado. Na verdade, o que torna os imóveis caros é a procura, face à escassez de oferta. Em qualquer produto, quando a procura excede a oferta, os valores tendem a subir. Há também outras questões associadas, como o brutal aumento do
custo da construção, especialmente após o início da guerra na Ucrânia.
Há maneira de minimizar esse impacto da subida de preços? Nomeadamente para os jovens casais?
O cenário idílico seria o de ajudar as empresas a serem mais produtivas, e como consequência, poderem pagar melhores salários. Com esses salários, existir uma poupança significativa, que permita o investimento num imóvel, seja na entrada, seja numa almofada de conforto, para pagamento das prestações ao banco, em caso de
acontecer um imprevisto. Outra solução que poderia ser equacionada era ajudar e proteger as classes mais baixas, nomeadamente os casais jovens, na compra de casa para habitação própria e permanente. Vejamos: para uma simulação, um imóvel a ser adquirido, no âmbito da habitação própria e permanente pelo valor de 250 mil euros, tem um IMT+IS (Imposto Municipal sobre as Transações Onerosas de Imóveis + Imposto de Selo) de aproximadamente 9.954,82 euros. Se for para habitação secundária/arrendamento, o IMT+IS serão de 10.925,46 euros. Há uma diferença de apenas 970,64 euros, entre um investidor, seja ele residente ou não, e alguém que quer comprar a sua casa de morada de família.
Parece-lhe que, considerando a conjuntura, vamos ter uma bolha imobiliária?
Ao dia de hoje, com os elementos que tenho, não acredito numa bolha imobiliária. Acredito muito mais numa correção, e que até pode ser útil. Nada pode crescer de forma sistemática e contínua ano após ano. O mercado tem de se reequilibrar e é fundamental comercializar os imóveis ao seu real preço.
O que podemos esperar, para 2023, do mercado imobiliário?
Será seguramente um ano desafiante. Saímos (aparentemente) de uma pandemia, teve início uma guerra na Europa, com vários constrangimentos, resultantes desse infeliz acontecimento, uma hiper-inflação e uma política
de subida dos juros. Por isso estamos a lidar com tempos de mudança e de incerteza. Acredito, em parte pela incerteza do momento, que o imóvel irá ser um bem de cada vez maior valor. O verdadeiro ativo de refúgio. A conciliar isso com a continuidade da não desburocratização dos processos administrativos e licenciamento, a
escassez de terrenos com edificabilidade dentro das zonas urbanas, e o elevado preço do custo da construção irão fazer com que a construção para venda seja cada vez mais escassa. Por outro lado Portugal e em particular a nossa zona vai continuar a ser atrativa para o investimento.