Os implantes mamários são das cirurgias mais realizadas na área da cirurgia plástica. As razões que levam as mulheres a fazer este procedimento divergem, porém. Da sua experiência, quais as principais razões que levam as mulheres a optar por alterar a aparência do peito?
A mamoplastia de aumento com implantes de silicone serve para aumentar o volume da mama e também melhorar a sua forma. A maioria das senhoras que procuram este procedimento desejam aumentar o tamanho da sua mama e torná-la mais proporcional com o resto do corpo. Outras, procuram corrigir assimetrias e melhorar a sua forma. Os implantes podem também ser utilizados para melhorar a aparência da mama desinsuflada (por exemplo, após a amamentação ou perda de peso) ou levantar a mama que está ligeiramente descaída. Casos mais raros e severos
de deformação, como a mama tuberosa, têm também indicação para esta cirurgia.
Existem pacientes a quem não é aconselhado ser submetida a uma intervenção cirúrgica deste género? Em que casos não é a cirurgia aconselhável?
Pelos motivos óbvios, as pacientes com mama de tamanho moderado a grande não são candidatas a este tipo de procedimento. Quanto às pacientes com mama mais pequena, a maioria será candidata, desde que não apresente patologia grave associada, como doenças do coração, fígado ou outras. Pacientes com expectativas não realistas ou
problemas graves na autoestima podem também não ter indicação.
Que cuidados devem as mulheres ter no pós-operatório?
Atualmente, o pós-operatório de uma mamoplastia de aumento é relativamente simples. A paciente terá que utilizar um soutien pós-operatório nas primeiras semanas e tomar a medicação prescrita. Os cuidados com a cicatriz, com os devidos cremes e massagens, serão recomendados. Deve evitar exercícios vigorosos, sobretudo com os braços, nas primeiras três a quatro semanas. Nesta altura, poderá progressivamente retomar as rotinas
normais. A maioria retorna ao trabalho uma a duas semanas após a intervenção.
Quais os sinais a que devem estar atentas, para reconhecer, por exemplo, um problema como uma infeção, uma contratura ou problemas mais graves depois de realizada a cirurgia?
No pós-operatório imediato (primeiros dias e semanas após a intervenção) as complicações mais frequentes, embora sejam raras, estão associadas a acumulação de líquidos ou a infeção. Estas manifestam-se através de uma alteração do volume da mama, do surgimento de sinais inflamatórios como vermelhidão, dor e calor, ou distorção da sua forma.
Quanto às complicações tardias (meses ou anos após a cirurgia), a contratura capsular é de longe a mais frequente, podendo manifestar-se como um aumento da firmeza da mama e, nos casos mais graves, com distorção.
Com os implantes e técnicas cirúrgicas atuais a sua incidência é muito baixa.
“Pacientes com mama de
tamanho moderado a grande não são
candidatas a este tipo de procedimento
(…) [e] pacientes com expectativas
não realistas ou problemas graves
na autoestima podem também
não ter indicação”.
O BIA-ALCL, linfoma anaplásico de grandes células associado aos implantes mamários, é um cancro raro do sistema imunitário. Há cinco anos, o Infarmed reconhecia numa circular informativa que existia uma predominância da presença deste linfoma em pacientes com implantes texturizados, embora, à data, nenhum estudo tivesse ainda sido efetuado para provar que assim era. O que pode vir a causar este linfoma?
O BIA-ALCL foi reconhecido como doença pela OMS em 2016 e até 2023 foram documentados 1170 casos em todo o mundo. A sua causa parece ser inflamatória e multifatorial. O tipo de superfície do implante (texturizado versus liso) parece ter alguma influência no surgimento desta doença. Estudos recentes demonstram que a prevalência é superior nas pacientes com implantes texturizados (0.03%) relativamente a pacientes com implantes de qualquer
tipo (0.006%). Atualmente começa a surgir alguma evidência que a texturização dos implantes é apenas um potenciador passivo e que a verdadeira causa seja uma resposta imunitária crónica.
“Desde que a paciente não
apresente qualquer queixa e
que os exames de imagem de
rotina não apresentem alterações
como roturas, não há motivo
científico para que [os implantes]
sejam substituídos”.
Quais os sintomas aos quais as mulheres devem estar atentas que podem indicar a existência de um BIA-ALCL?
O tempo médio para o diagnóstico de um BIA-ALCL após a colocação dos implantes ronda os 10 anos. Cerca de 2/3 dos casos manifesta-se como uma acumulação de líquido (seroma) em volta do implante, vários anos após a sua colocação. Assim, qualquer aumento tardio do volume mamário deve ser estudado com exames apropriados. Em
apenas 1/3 dos casos, o BIA-ALCL manifesta-se como um nódulo ou massa que pode ser palpado pela paciente ou médico, ou então, detetada em exames de imagem.
Ainda existem atualmente recomendações para que os implantes sejam retirados ou substituídos decorrido um determinado período de tempo, ainda que não exista qualquer sintoma ou problema de saúde associado?
Os implantes atuais são muito resistentes e seguros. Desde que a paciente não apresente qualquer queixa e que os exames de imagem de rotina não apresentem alterações como roturas, não há motivo científico para que sejam substituídos. A maioria das remoções ou substituições de implantes é realizada por motivos estéticos (por exemplo, para um tamanho acima ou abaixo) ou por rotura do implante detetada nos exames de rotina.
Como está a Cirurgia Estética a desenvolver-se, tecnologicamente, e também a nível de descobertas científicas, que sustentem uma evolução nesta área médica?
A evolução nesta área poderá ser dividida em duas partes: na técnica cirúrgica e no desenvolvimento tecnológico dos implantes. Quanto à técnica cirúrgica, há cada vez mais evidência que procedimentos asséticos e com pouca manipulação dos implantes, lavagem abundante da loca cirúrgica, controlo rigoroso da hemorragia e utilização de certas incisões e tipos de implante podem reduzir drasticamente as complicações a curto e longo prazo, ao mesmo tempo que melhoram o resultado estético. Relativamente aos implantes, o desenvolvimento faz-se em várias áreas.
Na sua superfície, procuram-se tipos de texturização menos agressivos, que consigam reduzir a incidência de BIA-ALCL, mas também da contratura capsular. No preenchimento do implante, cada vez estão a ser desenvolvidos tipos mais estáveis de gel de silicone coesivo, que permitem não só um toque mais natural, mas também uma grande panóplia na forma dos implantes. Das várias marcas existentes no mercado, cada uma delas tem mais de 500 modelos e tamanhos de implantes diferentes. No que toca ao invólucro do implante, desenvolvimentos na sua resistência e capacidade de interagir com o gel de silicone que está no seu interior, tornam estes dispositivos menos propensos à rotura e com resultados estéticos superiores.
