Como se revê no conceito minimalista de Arquitetura que se vem intensificando nas construções novas?
O conceito minimalista na Arquitetura não é um tema recente. A corrente minimalista que surgiu com a escola Bauhaus, o uso de uma simplicidade abstracionista de De Stijl, para a obtenção de soluções arquitetónicas depuradas e dedicadas ao funcionalismo tem sido uma constante fonte de inspiração para arquitetos. A Arquitetura foi-se reinventando através da evolução dos processos construtivos, com a evolução social, com a economia, a política, etc. Tudo influencia a comunidade criativa e aponta sempre para diferentes resultados, mais ou menos interessantes, mas o ser humano é feito de experiências e de um todo que só o tempo depura. As escolas de Arquitetura também desempenham um papel fulcral na formação de profissionais e na sua componente criativa. Ainda hoje, ao fim de 30 anos após conclusão do curso pela F.A.U.P. sinto que os grandes mestres da escola do Porto, como Fernando Távora, Siza Vieira, Eduardo Souto de Moura, entre outros, e esses com vasta influência
nos grandes arquitetos do sec. XX, como Mies van der Rohe, Alvar Aalto, Le Corbusier, apenas como exemplos, são um pilar fundamental na forma de criar Arquitetura, seja ao nível funcional seja ao nível formal, tectónico. A Arquitetura que desenvolvemos no atelier ficará para sempre ancorada a essas influências.
A Natureza é, agora, um elemento muito presente na Arquitetura. Que impacto tem este conceito de integração da Natureza nos elementos arquitetónicos?
A relação da peça arquitetónica com a Natureza é algo absolutamente indissociável. O contrário não me atrai. Trazermos a Natureza para a Arquitetura será sempre um processo artificial de expressão daquilo que nos envolve vindo da Terra Mãe. Nunca o ser humano conseguirá recriar a Natureza dentro da sua obra arquitetónica. É impossível copiar a mão de Deus, diria que proibido. Deverá ser a Arquitetura a integrar-se na Natureza de uma forma humilde e enquadrar-se no espírito do lugar, independentemente da urbanidade ou ruralidade onde se insere.
“Portugal não carece de
modernidade. Portugal carece
de formação técnica
para projetistas e executantes”.
A sustentabilidade na Arquitetura é conseguida não só através da própria Arquitetura, com janelas mais altas e maior luminosidade exterior, mas também – e bastante – através dos materiais utilizados e dos processos de construção. Quando desenvolve um projeto, tem em conta os materiais que utilizará e a respetiva sustentabilidade dos mesmos?
A sustentabilidade que se aponta como objetivo generalizado no processo construtivo passa, desde logo, pela própria sustentabilidade na forma de projetar. Passa pela escolha de materiais, mas também pela forma como a indústria trata a sua produção. O mesmo material pode ser produzido em fábricas diferentes, mas o processo da sua preparação, produção, embalagem, expedição, podem ser muito diferentes. Paralelamente estamos inundados por uma legislação vasta que nos obriga a procurar soluções mais sustentadas, como por exemplo a própria certificação energética dos edifícios, ainda que só influencie diretamente o resultado do uso e não o da construção. Não obstante, as próprias diretivas europeias influenciam os processos construtivos e transformação de matérias. No atelier, a construção sustentável passa por um cuidado de coordenação entre os diferentes intervenientes no projeto, com claro protagonismo das engenharias para uma abordagem matemática, objetiva, pois os dados
técnicos são precisamente os elementos que nos demonstram eficácia e resultados.
Como caracterizaria Portugal, a nível arquitetónico? Portugal ainda carece de alguma “modernidade” e “novas tendências” que já se encontram noutros países europeus?
Portugal tem uma excelente mão de obra, mas vê-se a mãos com novos processos construtivos. Portugal é um país moderno com muita tradição, um país burguês com aspirações gigantes a novas modernidades. Nesta dicotomia encontramos uma forma muito peculiar de construir, em que o arquiteto encontra regulamente em atelier e em obra diversos desafios de incrementação de novas soluções e entendimento dos resultados perspetivados. Portugal
não carece de modernidade. Portugal carece de formação técnica para projetistas e executantes. Portugal vive um panorama arquitetónico interessante e é sinónimo mundial de qualidade de construção assente em tradição, de belíssima Arquitetura ao longo dos séculos. Um país rico de expressão e criatividade, de autores anónimos que
desenham a paisagem construída e que deixam um contributo vasto no que nos rodeia.
Paralelamente é um país extremamente regulado, demasiado até, em diversas vertentes que influenciam a Arquitetura e a construção. Portugal é um país para novos desafios, para novas arquiteturas.
Acredita que a Lei dos Solos, recentemente aprovada, poderá impactar o setor da construção? Gerará mais trabalho, a nível da Arquitetura?
O DL n.º 117/24 altera o RJIGT, possibilitando, a título excecional, a criação de áreas de construção em solos compatíveis com área urbana já existente. A procura de agilidade no uso do território de forma a dar resposta a mais habitação é o tema central do novo RJIGT e do RJUE. Inevitavelmente maior procura irá gerar maior oferta de trabalho para o setor. Importa realçar que maior procura de serviços de Arquitetura eleva o arquiteto a um patamar de maior responsabilidade e dever perante a sociedade no sentido de, dentro de uma lógica de pressão e velocidade de decisão, sejam sempre cumpridas as devidas obrigações.
“Deverá ser a Arquitetura a integrar-
se na Natureza de uma
forma humilde e enquadrar-se
no espírito do lugar”.
