Quais as principais doenças associadas ao estado de gravidez ou pós-parto?
Esta transição de mulher para mulher-mãe exige grandes mudanças e adaptações ao nível biológico, psicológico, social e relacional, principalmente aquando do primeiro filho. Uma em cada 7 novas mães sofre de depressão pós-parto. E por isso, a maternidade é considerada um período de crise de especial vulnerabilidade psicológica, uma
vez que todas as mudanças envolventes conduzem frequentemente ao aparecimento de “novas” psicopatologias e/ou então agravamento de perturbações previamente existentes. Caso não sejam intervencionadas correta e atempadamente, isso pode tornar-se um obstáculo ao processo de vinculação mãe-bebé e, consequentemente, terá repercussões nefastas no desenvolvimento do bebé, bem como na saúde mental materna.
As principais psicopatologias associadas à gravidez e ao pós-parto são a depressão perinatal, ansiedade perinatal, perturbação de ansiedade generalizada, perturbação de pânico, fobia social, perturbação obsessivo-compulsivo, perturbação de stress pós-traumático e perturbações do sono.
O baby blues (também conhecido como tristeza puerperal, tristeza pós-parto ou disforia puerperal, geralmente dura cerca de duas semanas) é uma condição “recente” e muito comum e ocorre devido às alterações hormonais no pós-parto, cansaço físico devido a dormir pouco, stress emocional, mudanças na rotina e preocupações com os cuidados
com o recém-nascido. Por norma, não há necessidade de tratamento específico, porém recomendamos sempre que a mãe repouse, durma sempre que for possível e peça ajuda ao companheiro e familiares para as tarefas diárias. Por outro lado, a depressão perinatal, incluindo a depressão pós-parto, é a condição mais prevalente, que pode afetar
a mulher durante a gravidez e no pós-parto.
A depressão pós-parto geralmente manifesta-se entre a quarta e a oitava semanas após o parto, afetando entre
10-15% das mulheres.
“A maternidade é
considerada um
período de crise de
especial vulnerabilidade
psicológica,(…)”.
Quais os sintomas que são mais reconhecíveis enquanto preocupantes e indicadores de uma possível doença mental a necessitar de ajuda?
Na maternidade e o pós-parto, alguns sinais de alerta para as perturbações mentais incluem: tristeza excessiva e prolongada, irritabilidade e choro fácil, perda de interesse ou prazer em atividades, dificuldade em cuidar do bebé (exemplo: Sentir-se incapaz de cuidar do bebé, medo de magoar o bebé, falta de ligação com o bebé), alterações
de sono e apetite. Em situações mais complexas poderemos de parar com a existência de pensamentos de morte e/ou de prejudicar o bebé (pensar em morte, suicídio ou em prejudicar o bebé), o que é um sinal muito grave e que exige uma intervenção imediata. É crucial agir atempadamente, logo que surja o primeiro sinal, já que os sintomas poderão perdurar por meses ou até piorar. Tais como a tendência para que a recém-mamã desenvolva: perceção negativa sobre os comportamentos do bebé; ansiedade sobre a saúde do bebé; distanciamento emocional,
alheamento e falta de estimulação, relativamente ao bebé; diminuição da atenção, sensibilidade e empatia para com o bebé; diminuição da resposta afetiva, atividade e espontaneidade da mãe para o bebé; não adesão ao seguimento do programa de vigilância infantil ou vacinação; procura excessiva dos cuidados de saúde.
Como podem a comunidade familiar e os amigos próximos ou mesmo os colegas de trabalho ajudar uma mãe que esteja a passar por uma depressão pós-parto, por exemplo?
Os amigos e a família são elementos fulcrais na vida de uma grávida e de uma recém-mamã que esteja a passar por uma depressão pós-parto, para partilhar os sentimentos de ansiedade, incertezas e medos que surgem e dominam a mente e os dias destas mulheres. A família e os amigos podem ajudar uma recém-mamã de várias formas, desde o apoio emocional e prático, no dia a dia e nas novas rotinas, permitindo que a mãe descanse e recupere. O apoio não vai ajudar a recém-mamã a sair desta condição clínica, mas pode torná-la menos dolorosa e penosa. Na verdade, só os profissionais de saúde podem ajudar.
“Uma em cada 7 novas mães sofre de depressão pós-parto. E por isso, a
maternidade é considerada um período de crise de especial vulnerabilidade psicológica, (…)”.
Que conselhos deixa, de forma resumida, a quem possa estar a passar por estas questões?
Ouve-se sempre dizer que depois dos filhos a vida nunca mais é a mesma e que se deixa de poder fazer tudo como antes e acaba-se por constatar que é verdade. Por isso, de forma a viver a maternidade de forma mais leve e
segura, existem algumas atitudes que devemos priorizar:
Aproveitar as sestas do bebé – é a regra-chave, principalmente nos primeiros tempos do bebé em casa, pois as noites ainda são mal dormidas. É importante esquecer as tarefas domésticas e optar por descansar e até dormir, nos momentos em que o bebé também está a dormir.
Cuidar de si mesma – é importante perceber que se estivermos cansadas e esgotadas também não tiramos o melhor partido dos momentos em que temos que cuidar dele. Por isso, sempre que houver oportunidade de o deixar com o pai, avós, ou outra pessoa de confiança, sair por 1h ou 2h, ir ao cabeleireiro, manicure, ginásio, ler um livro no parque.
Pedir ajuda – não hesitar em pedir ajuda se precisar de alguém. Sobretudo não se isole, e se tiver amigas em circunstâncias parecidas apoiem-se mutuamente.
Fazer exercício e preferencialmente fora de casa – mesmo que não tenha onde ou com quem deixar o bebé, faça uma caminhada com ele no carrinho ou no marsúpio.
Estabelecer algumas rotinas – os bebés funcionam melhor com rotinas diárias e habituais e na gestão familiar é melhor ter alguns momentos já definidos porque ajuda a encaixar os planos extra naquilo que já está programado.
Gerir prioridades – Priorizar o que é realmente importante.
Dizer não – quando a vida já está tão confusa e preenchida, por vezes é importante dizer que não a novas solicitações. Pergunte-se se quer assumir aquele compromisso e pense de que forma ele vai afetar as suas rotinas atuais. Isto é válido também para o excesso de visitas que se recebem logo após o bebé ir para casa.
Ver o lado bom de algumas rotinas – os cuidados ao bebé podem ser muito rotineiros, mas por vezes estamos a esquecer o lado benéfico e prazeroso de dar um banho ao bebé e fazer deste um momento lúdico para ambos através do toque, da sensação agradável de estar dentro de água, ou mesmo utilizando alguns brinquedos quando o bebé é mais crescido.
Perceber que não somos infalíveis – não partir do pressuposto que vamos conseguir fazer tudo num dia e sermos pais perfeitos, mas sim pensar que na parentalidade fazemos o melhor possível e que isso inclui os erros e as consequentes aprendizagens.
Acima de tudo, confie nos seus instintos, siga o seu coração e conseguirá ler os sinais do seu bebé!
