Portugal e China: uma história única

Com sede em Lisboa, a Fundação Oriente promove a relação entre o nosso país e o Oriente através das suas delegações em Macau, Índia e Timor-Leste. A cultura, a educação, a ciência e a filantropia são as principais áreas de intervenção desta fundação, que pretende valorizar e dar continuidade às relações históricas e culturais entre Portugal e o Oriente. Nesse sentido, Carlos Monjardino, presidente da fundação, faz um balanço deste percurso de mais de 30 anos de contactos culturais com a China.

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Que características definem a atividade da Fundação Oriente?

A Fundação Oriente desenvolve a sua atividade em várias áreas, em Portugal e, na Ásia, através das suas delegações. Em Macau a intervenção centra-se na área cultural e no ensino do Português para estrangeiros (sobretudo chineses). Na década de 90 do século passado desenvolvemos também uma forte componente filantrópica e social, a qual deixou de ser necessária após a transição de administração naquele território. Em Portugal criámos, em 2008, o Museu do Oriente que divulga a cultura oriental e o legado histórico da presença portuguesa na Ásia.

Há alguma iniciativa que possa destacar em Macau?

Em Macau realizamos um extenso programa de atividades, nomeadamente exposições de artistas locais e chineses, bem como de artistas portugueses. O mais importante é o Salão de Outono que decorre nas nossas instalações e é organizado em colaboração com instituições artísticas locais. Com a pandemia a circulação de pessoas e bens entre Portugal e Macau ficou praticamente suspensa mas será retomada logo que possível.

Que desafios trouxe a pandemia para o desenvolvimento de todas estas atividades?

Dificultou muito, como já referi, o que levou a que as atividades na Ásia sejam sobretudo de carácter local, embora, nalguns casos, se tenham realizado online.

A Fundação Oriente também oferece algumas bolsas de estudo. Como é que isto funciona?

Dispomos de programas anuais de bolsas para investigação, doutoramento e ensino da língua portuguesa (para estudantes asiáticos) e de línguas orientais (para portugueses). Em Portugal apoiamos também estudantes dos PALOP que nos são propostos pelas embaixadas ou universidades. Destacaria ainda o apoio à licenciatura de Estudos Orientais da Universidade do Minho e bolsas concedidas às comunidades macaenses espalhadas pelo Mundo, sobretudo no Canadá. Com a pandemia também ficaram dificultadas as deslocações dos bolseiros que estão agora a ser lentamente retomadas.

Que análise faz da evolução na relação entre Portugal e China?

As relações diplomáticas e económicas entre Portugal e a China desenvolveram-se bastante no século XXI, embora já fossem boas desde a retoma das relações diplomáticas a seguir ao 25 de abril. A pacífica transição de administração em Macau contribuiu muito para este desenvolvimento. Mais recentemente a evolução da situação política internacional e da política chinesa fizeram despertar alguns receios ocidentais e a situação em Macau reflete esta evolução. Portugal deve fazer notar que o acordo assinado com a China relativo a Macau deve ser respeitado, tal como previsto, até 2049.

É possível as relações estreitarem-se ainda mais?

É óbvio, mas depende da parte chinesa e da sua relação com Portugal que, até agora, tem sido de respeito e cooperação bilateral amigável. É isso que permite o investimento chinês em Portugal, o qual talvez possa ainda ser alargado a setores que sejam de interesse mútuo.