“Portugal precisa de criar políticas de investimento estáveis”

A Results trabalha em exclusivo no mercado dos clientes não residentes, oferecendo soluções desenhadas à sua medida, com a ajuda das entidades bancárias parceiras. Mara Oliveira e Lia Monteiro são sócias neste projeto que vê no investimento estrangeiro uma das principais formas de fazer avançar o país. No entanto, os desafios para a população estrangeira continuam a dificultar o investimento e são empresas como a Results que ajudam a descomplicar o crédito e as respetivas burocracias associadas à sua contratação.

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O que vos fez optar por este nicho de mercado dedicado aos clientes não residentes?

Optámos por nos focar no mercado de clientes não residentes por entendermos que existe uma crescente procura por serviços financeiros personalizados para este segmento. Portugal é um destino atrativo para investimentos imobiliários e muitos estrangeiros procuram adquirir propriedades aqui. No entanto, percebemos que os não residentes enfrentam desafios específicos, como a complexa burocracia e o processo de obtenção de crédito, também ele complexo e exigente. A nossa missão é simplificar esse processo, fornecendo soluções sob medida com o apoio dos nossos parceiros bancários.

Lia Monteiro, Co-founder e Sócia

Quais os desafios que se colocam, de forma particular, aos não residentes que procuram um crédito para a compra de um imóvel em Portugal?

Os desafios para não residentes são significativos. Um dos principais obstáculos é a adaptação das informações financeiras, muitas vezes formatadas de acordo com os critérios do seu país de origem, aos padrões exigidos em
Portugal e na União Europeia. Reunir todos os documentos necessários e garantir que apresentamos uma imagem financeira completa do cliente aos nossos parceiros é fundamental. O nosso papel é ajudar os clientes a superar essas barreiras, trabalhando juntos para alcançar resultados que todas as partes envolvidas esperam ser positivos.

Sendo uma população, por norma, mais informada sobre questões financeiras do que a portuguesa, que tipo de preparação, da vossa parte, é necessária para conseguirem responder a todas as suas questões? A exigência destes clientes é, normalmente, maior?

Acompanhamos clientes com diversos níveis de conhecimento financeiro. No entanto, a nossa abordagem é fornecer informações claras e detalhadas sobre os pormenores do financiamento e processo. Fazemos um
exercício constante de adaptação da nossa comunicação de acordo com o nível de compreensão do cliente.
Um exemplo é a diferenciação entre taxas fixas e taxas variáveis, embora desde o início deste ano, e no âmbito de medidas sobre habitação, o Governo tenha obrigado os bancos a disponibilizar ofertas de taxa fixa, na Results e pela exigência dos nossos clientes já apresentávamos simulações para ambas as opções, até porque para os clientes não residentes os contratos de taxa fixa são muito mais frequentes do que em Portugal. Em comparação com outros países europeus e de acordo com dados recentes do Banco Central Europeu (BCE) a propósito da contratação de novo crédito habitação com taxa variável, em Portugal, 73,15% do crédito habitação contratado em maio foi efetuado com taxa variável, e apenas fica à frente da Estónia (91,20%), Finlândia (98,10%), Letónia (90,42%) e Lituânia (96,48%). Acresce ainda que o produto de crédito habitação em Portugal é regulamentado pelo Regime Geral de Crédito e outros decretos-lei, que tornam este produto muito particular e cujo intuito do regulador foi facilitar o acesso ao crédito para a aquisição de casa. Este contexto é muito diferente do existente em outras geografias, sobretudo estados de cariz liberal, como por exemplo os EUA, e portanto, os clientes colocam muito mais perguntas para além dos juros. Querem entender o porquê de não termos crédito habitação com pagamento de juros apenas, conceitos de amortização antecipada, todas as questões que, no seu país de origem, são muito distintas daquela que é a prática em Portugal.

Como avaliam o mercado, atualmente, na perspetiva dos clientes não residentes? Portugal é um país ainda apetecível para investir?

Atualmente, Portugal continua no radar dos investidores estrangeiros, sendo um destino muito atrativo para investimento imobiliário por parte de não residentes. O ranking da PwC de 2023 das melhores cidades para investir em imóveis continua liderado por Londres, seguido de Paris, Berlim, Madrid, estando Lisboa no 11º lugar, tendo recuperado face aos dois anos anteriores (16ª posição em 2022 e 15ª posição em 2021). A qualidade de vida, o clima e o mercado imobiliário em crescimento são fatores que continuam a atrair investidores. No entanto, como em qualquer mercado, é importante acompanhar as mudanças, especialmente no que diz respeito às taxas de juro e aos sinais de desaceleração económica.

Que impacto tem, para este tipo de clientes, a subida das taxas de juro?

Os nossos clientes têm ajustado as suas estratégias de investimento face ao contexto de subida de taxas de juro e incerteza económica. A decisão passa por alavancarem menos os seus investimentos, ou seja, alocar mais
recursos próprios à compra do imóvel e, com isso, obter financiamentos menores, acomodando o custo dos mesmos a uma realidade de mercado em que as incertezas sobre os diferentes acontecimentos no globo
poderão impactaras suas decisões de investimento.

Que alterações isso causa em quem pretende comprar casa, mas precisa de crédito bancário para o fazer?

As alterações são as mesmas que assistimos em todas as principais capitais europeias. Para além do foco recente nesta temática, o assunto não é novo e temos relatos de familiares e amigos de dificuldade de acesso à compra de casa própria e/ou ao arrendamento. A realidade é que o rendimento médio português, de acordo com dados do Eurostat, continua entre os mais baixos da União Europeia, quando medidos em paridade do poder de compra. Não obstante, e de acordo com os últimos dados do Banco de Portugal (BdP), do total de crédito concedido em 2022, apenas 11,4% foi para clientes de outras nacionalidades, embora o número tenha vindo a crescer (em 2021 era de 9,36%). Os clientes residentes/nacionais continuam a ser mais expressivos.

Considerando a importância deste segmento de clientes para a economia nacional, o que falta fazer para agilizar os processos de obtenção de crédito e compra de imóveis?

Simplificar a burocracia e criar políticas de investimento estáveis, transparentes e previsíveis. A incerteza e constantes alterações, como as que temos assistido recentemente, pouco contribuem para estabelecer a confiança necessária ara o processo de decisão de investir. Exemplos disso são as ainda por concluir alterações à estrutura do anterior SEF, alterações aos programas de Golden Visa e NRH.

Como analisa a importância deste segmento de clientes para a economia nacional, agora e no futuro próximo?

A economia portuguesa tem como principal motor o turismo, as exportações (têxteis, calçado, produtos agrícolas) e o imobiliário. Portanto, manter Portugal atrativo ao exterior é fundamental. O nosso país é pequeno, logo também o mercado de consumo interno, pelo que necessariamente qualquer estratégia de crescimento tem de passar pelo investimento estrangeiro. No caso da Results, focamo-nos neste mercado por apresentar um potencial de crescimento significativo, mas muito do nosso sucesso passa pelo sucesso das políticas de captação de investimento estrangeiro do Governo português, de modo a manter a atratividade de Portugal enquanto país com um contexto favorável ao investimento. Hoje, mais do que nunca, é imperativo que haja estabilidade
governativa a longo prazo.