Como pode o medo do fracasso ser superado?
O medo do fracasso é natural, mas não pode ser impeditivo. Acredito que a melhor forma de o superar é através da preparação e da resiliência. Quanto mais sólido for o planeamento, desde o modelo de negócio ao estudo de mercado, mais confiança temos nas nossas decisões. E mesmo quando algo corre mal, é importante ver o “fracasso” como aprendizagem. Cada obstáculo ultrapassado dá-nos ferramentas para sermos melhores líderes e empresárias. Considero o autoconhecimento como uma ferramenta igualmente essencial para que possamos reconhecer os nossos pontos fracos e dar mais força aos nossos potenciais.
Que obstáculos enfrentou ao longo da sua carreira?
Ao longo do meu percurso, enfrentei vários obstáculos: a falta de financiamento inicial, a dificuldade em conquistar credibilidade num setor maioritariamente masculino, a gestão do equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Mas todos estes desafios ajudaram-me a desenvolver perseverança, capacidade de adaptação e foco estratégico. O maior obstáculo, porém, foi muitas vezes interno: a autocrítica, a pressão para corresponder às expectativas da sociedade ou da família, às minhas próprias, a dúvida de estar ou não no bom caminho e a seguir o meu propósito.
Lembro-me de estar isolada inicialmente a trabalhar, a tentar angariar clientes, fornecedores e de nem saber se chovia ou estava sol lá fora, de recusar convites para sair com as minhas amigas. Superar tudo isto foi determinante para crescer.
“Quanto mais sólido for o planeamento, desde
o modelo de negócio ao estudo de mercado,
mais confiança temos nas nossas decisões”.
Quais as medidas que lhe parecem importantes de implementar em Portugal para fomentar o empreendedorismo feminino?
Portugal tem um enorme potencial, mas ainda falta criar condições mais justas para que as mulheres possam arriscar: acesso facilitado a financiamento e investimento; programas de mentoria e redes de apoio; políticas de conciliação entre vida empresarial e familiar; educação para o empreendedorismo: desde cedo é essencial, garantindo ferramentas que transformem o bloqueio ou medo de falhar num degrau para crescer. Acredito que o autoconhecimento, já reconhecido como uma ferramenta de excelência em programas de aceleração e em processos de mentoria, deveria estar presente desde o início do percurso formativo. Foi também através dele que me tornei mentora, e estou convicta de que quanto mais cedo for trabalhado, mais empreendedoras confiantes, resilientes e preparadas teremos. Para além disso, é fundamental que o próprio percurso escolar integre este tipo de competências. Estou certa de que no futuro teremos até disciplinas que expliquem o que é empreender, como avançar e lidar com desafios e obstáculos, formando uma nova geração de empreendedoras mais fortes e conscientes.
Que mensagem deixa à nova geração de empreendedoras?
A minha mensagem é clara: não esperem pela perfeição nem o tal momento certo para começar. O caminho constrói-se a fazer e a aperfeiçoar a cada etapa. Claro que o planeamento é fundamental, mas há situações que nunca são contempladas e vamos ter de confiar e saber estar à altura. Rodeiem-se de mentores, de outras empreendedoras e de uma rede de apoio sólida. Criem negócios alinhados com os vossos valores e propósito,
porque é isso que vos vai dar força para continuar nos momentos mais desafiantes. E sim, é possível ter uma vida profissional e familiar a coexistir sem culpa.









