“Portugal tem enorme potencial empreendedor, mas falta melhorar as condições para as mulheres”

Paula Novais Borges iniciou um percurso no empreendedorismo há 20 anos. Corria o ano de 2005 quando esta profissional, vinda da área de Letras, decidiu criar um negócio ligado à tecnologia e respetiva venda e distribuição de consumíveis e equipamentos informáticos – a Tech Plaza. Passadas duas décadas, reconhece o caminho trilhado, explica as dificuldades enfrentadas e como as superou e deixa uma mensagem clara: não esperar para fazer acontecer, porque o tempo certo é agora.

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Como pode o medo do fracasso ser superado?

O medo do fracasso é natural, mas não pode ser impeditivo. Acredito que a melhor forma de o superar é através da preparação e da resiliência. Quanto mais sólido for o planeamento, desde o modelo de negócio ao estudo de mercado, mais confiança temos nas nossas decisões. E mesmo quando algo corre mal, é importante ver o “fracasso” como aprendizagem. Cada obstáculo ultrapassado dá-nos ferramentas para sermos melhores líderes e empresárias. Considero o autoconhecimento como uma ferramenta igualmente essencial para que possamos reconhecer os nossos pontos fracos e dar mais força aos nossos potenciais.

Que obstáculos enfrentou ao longo da sua carreira?

Ao longo do meu percurso, enfrentei vários obstáculos: a falta de financiamento inicial, a dificuldade em conquistar credibilidade num setor maioritariamente masculino, a gestão do equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Mas todos estes desafios ajudaram-me a desenvolver perseverança, capacidade de adaptação e foco estratégico. O maior obstáculo, porém, foi muitas vezes interno: a autocrítica, a pressão para corresponder às expectativas da sociedade ou da família, às minhas próprias, a dúvida de estar ou não no bom caminho e a seguir o meu propósito.
Lembro-me de estar isolada inicialmente a trabalhar, a tentar angariar clientes, fornecedores e de nem saber se chovia ou estava sol lá fora, de recusar convites para sair com as minhas amigas. Superar tudo isto foi determinante para crescer.


Quais as medidas que lhe parecem importantes de implementar em Portugal para fomentar o empreendedorismo feminino?

Portugal tem um enorme potencial, mas ainda falta criar condições mais justas para que as mulheres possam arriscar: acesso facilitado a financiamento e investimento; programas de mentoria e redes de apoio; políticas de conciliação entre vida empresarial e familiar; educação para o empreendedorismo: desde cedo é essencial, garantindo ferramentas que transformem o bloqueio ou medo de falhar num degrau para crescer. Acredito que o autoconhecimento, já reconhecido como uma ferramenta de excelência em programas de aceleração e em processos de mentoria, deveria estar presente desde o início do percurso formativo. Foi também através dele que me tornei mentora, e estou convicta de que quanto mais cedo for trabalhado, mais empreendedoras confiantes, resilientes e preparadas teremos. Para além disso, é fundamental que o próprio percurso escolar integre este tipo de competências. Estou certa de que no futuro teremos até disciplinas que expliquem o que é empreender, como avançar e lidar com desafios e obstáculos, formando uma nova geração de empreendedoras mais fortes e conscientes.

Que mensagem deixa à nova geração de empreendedoras?

A minha mensagem é clara: não esperem pela perfeição nem o tal momento certo para começar. O caminho constrói-se a fazer e a aperfeiçoar a cada etapa. Claro que o planeamento é fundamental, mas há situações que nunca são contempladas e vamos ter de confiar e saber estar à altura. Rodeiem-se de mentores, de outras empreendedoras e de uma rede de apoio sólida. Criem negócios alinhados com os vossos valores e propósito,
porque é isso que vos vai dar força para continuar nos momentos mais desafiantes. E sim, é possível ter uma vida profissional e familiar a coexistir sem culpa.