Precisamos de tempo para amar

Precisamos de (mais) tempo para amar, para partilhar o que somos, para sentir o que trazemos, o que vivemos, o que sentimos, para crescermos com o outro e através do outro também.

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Para partilhar dores e desafios, para crescer e viver. Precisamos de (mais) tempo para ser pessoa, porque onde não há amor não crescem pessoas e sem tempo não se ama. Precisamos de (mais) tempo para crescermos sozinhos, para aprendermos a estar connosco e em nós e para ser e estarmos com o outro. O amor não vive sem toque, sem olhar, sem voz, sem rosto e sem cheiro. O amor não vive sem uma partilha com pele, osso e cheiro. O amor não vive sem o tempo para se amar. Precisamos de mais tempo.

Precisamos de distinguir o essencial do supérfluo, o importante do urgente e assumir como queremos viver, crescer e amar. Não se ama por mensagem, não se ama com bens, não se ama sem afeto. Afetos não são coisas e as coisas não semeiam o que nos faz realmente prosperar e ter saúde. Estamos perdidos do que somos e por isso traçamos objetivos para o que querermos ter. Queremos que os nossos filhos cresçam felizes mas para termos filhos felizes precisamos de filhos com tempo com os seus pais, com pais que os toquem, que os olhem, que os escutem, que lhes coloquem limites e que com eles consigam crescer e resolver os conflitos de todos. Estar-se conectado virtualmente não é amar, porque não há amor sem experiência e partilha.

Confundimos uma mensagem com uma conversa olhos nos olhos, um beijo escrito com um beijo sentido, um amo-te em palavras com um amo-te com som e presença. Não se conversa por mensagem. Conversa-se com presença. Estamos desenraizados de nós e dos outros porque aparentemente não temos tempo para amar.

Perdidos em querer dar e ter uma boa vida perdemos muitas vezes a vida em si. Claro que precisamos de trabalhar, construir, contribuir, participar e prosperar. Isso faz-nos felizes também. Mas para isso, temos sempre tempo, já para amar. Tudo ficará e só o amor levaremos. O que demos a nós e o que vivemos com os outros que amamos.

Passamos mais tempo ligados aos que pouco ou nada nos dizem, ou nem conhecemos, para estarmos desligados dos que dependem de nós, dos que estimam a nossa presença e dos que dão outro sentido às nossas vidas. Estamos sempre em todo lado, mas às vezes não estamos mesmo em lado nenhum. Corremos para tudo, mas às vezes não corremos para os sítios certos, onde tudo prospera, onde tudo faz sentido, onde tudo começa e acaba.

Somos um todo, precisamos de um todo, mas não nos percamos do essencial, do que nos faz homens e mulheres construtores de um mundo com sentido, paz, respeito, igualdade e amor. Porque o amor será sempre o início e o fim de tudo. Quanto tempo investimos realmente a amar? Não falo do investimento do mundo virtual, nem da quantidade de mensagens que trazem o “onde estás”, “o que fazes” ou “com quem estás”. Falo do “como te sentes?”, “como me sinto?”, “O que faz sentido para ti?”, “o que faz sentido para nós?”, da partilha de silêncios com presença, da partilha de sentimentos com cores.

Gastamos tanto tempo a responder a milhares de mensagens, a rir para um ecrã, a estabelecer ligações virtuais, focados em construir uma imagem que marque e comunicamos tão pouco com os que temos ao lado, com os que olham para nós, a construir caminhos de amor, liberdade e saúde. E no fim até podemos ter milhares de amigos virtuais, até podemos sorrir para um ecrã topo de gama e até podemos ter uma imagem de marca, mas continuaremos a viver sozinhos, sem laços e com poucos sorrisos, sem o calor da partilha e sem sentir o pulsar do amor no coração, no dos que amamos e no nosso. Precisamos de tempo para amar, para não vivermos numa pressa vazia.