Sabe quem me conhece que sou sensível aos dramas sociais, portugueses e os outros, que infelizmente se multiplicam num planeta ainda azul, onde habitam milhares de milhões de espécies, de entre elas uma que se distingue pela sua capacidade de usar o seu cérebro para os mais imaginativos fins, bons e maus.
Não queria negar o Euro que ajudaria a que um sonho se tornasse real e devolvesse algum brilho a um olhar que já o perdera. E assim fiz. Tenho uma estrela na minha árvore.
Esta seria uma bonita estória de uma pequenina solidariedade, mas fui bruscamente assaltado por pensamentos menos nobres. Aconteceu que, de seguida, a senhora funcionária fez a uma senhora cliente a mesma proposta de levar para casa uma estrela. Que a senhora cliente recusou, dizendo que não levasse a mal, que é muito sensível à fome e à pobreza, mas que esse dinheiro, em Portugal, nunca chega às mãos de quem dele precisa. “E olhe que eu sei bem o que digo!”, terminou com ar decidido.
Talvez seja verdade, foi o meu pensamento ao ouvir isto, quase tentando esconder a minha estrela, que agora habita na minha árvore de Natal. Será que estou a cometer um crime, engordando os lorpas que vivem sob a égide da solidariedade e mais não fazem senão guardar para si o que outros dão a quem precisa. As direcções das associações, os contentores que não chegam ou chegam vazios. E os que chegam carregados de artigos de luxo, ocupando o lugar dos livros, dos alimentos que são recolhidos para matar as fomes, onde elas existem violentamente.
Talvez fizesse mal e devesse ter guardado o Euro, para gastar em coisas para mim, já que o ganhei honestamente. E assim, não chegaria a mãos erradas, mas também não chegaria a mãos nenhumas, que não as minhas.
Apaziguei o espírito, concluindo que não cometi nenhum crime, nem me sinto enganado por não saber bem onde vai parar aquela moeda. Acredito que existe gente boa no tal planeta azul, que irá usar a minha moeda para realizar um sonho. E a estrela que está na minha árvore, essa irá chegar ao céu. Acredito!