Numa altura em que tanto se fala de crise económica e grande parte das famílias vê os seus rendimentos reduzidos por questões relacionadas com lay-off, desemprego e outras situações que levam à perda de atividade, é importante falar de Dinheiro e da forma como o mesmo é gerido diariamente.
Desde 2013, altura em que criei o projeto AESS – Associação Economia Solidária e Sustentável que defendo o conceito de “Cidadão Financeiramente Saudável” nas minhas intervenções. Mas, afinal, de que se trata este conceito? Para mim, um cidadão financeiramente saudável é alguém que usa o dinheiro para satisfazer as suas necessidades e os seus desejos, não o contrário.
E agora, isto quer dizer o quê?
Durante seis anos estive na vertente da consultoria financeira e uma das minhas atividades diárias era ajudar pessoas e famílias na consolidação dos seus créditos. Nessa altura, vi muitas pessoas a serem usadas pelo dinheiro, ou seja, a gastarem mais do que o que ganhavam e, por esse motivo, passarem mais de metade dos seus dias a pensar como pagar as prestações. Se algumas tiveram sucesso na consolidação, outras nem por isso, e avançaram para processos de perda de bens e insolvências pessoais. Esta é a situação limite do endividamento e quando já não podemos curar, apenas remediar.
O termo, ser “usado” pelo dinheiro, remete-nos ainda para um outro aspeto que se prende com a forma como consumimos. Como satisfaço as minhas necessidades e os meus desejos quando faço as minhas compras? Sou um Consumista ou um Consumerista?
Quando sou um Consumista gasto tudo aquilo que tenho, e às vezes o que não tenho, em produtos supérfluos, que muitas vezes não são necessários nem são o que necessito, mas tenho curiosidade de experimentar devido à publicidade, à moda ou por ser um produto de marca. Ser consumista faz-me comprar compulsivamente coisas que, até sei, que não irei usar ou que não têm utilidade. Compro apenas para atender à vontade de comprar. Quando sou consumista corro o risco de gastar mais do que o que tenho disponível e posso cair em situações de endividamento.
Quando sou um Consumerista adquiro somente aquilo de que necessito de forma racional, controlada e responsável, tendo em conta as consequências económicas, sociais, culturais e ambientais do próprio ato de consumir.
Ser Consumerista é importante porque me leva a refletir sobre as necessidades, aspirações e recursos que tenho, nunca me desligando das consequências dos meus atos. Gastar dinheiro é um ato de responsabilidade, logo ao pensar na forma como estou a usar o dinheiro estou a ser um cidadão responsável e, como consequência, financeiramente saudável. Ser financeiramente saudável tem ainda vantagens ao nível da saúde.
Quando faço uma gestão equilibrada do meu dinheiro contribuo também para o meu bem-estar pessoal evitando o stress e as alterações emocionais associadas a um uso errado do dinheiro: ansiedade devido às contas a pagar, tristeza porque compro por impulso o que não preciso, insatisfação por desejar algo que foi posto pela compra impulsiva, entre outras.
Gerir dinheiro de forma saudável é possível, basta perceber como, quando e onde gasto cada euro e cada cêntimo!
