“A Engenharia tem muito para evoluir”

A Criticalflow estabeleceu-se numa área dedicada ao fabrico máquinas para limpeza de componentes em setores vanguarda, como Automóvel e Aeronáutica. Sendo a única empresa no país com este modelo de negócio, o seu objetivo é continuar a internacionalização, fundamental para o seu crescimento sólido, que só tem sido possível de acordo com o CEO, Armando Pereira, graças a um constante investimento na pesquisa e na inovação, para apresentar aos clientes as mais avançadas soluções na área da limpeza de peças industriais.

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Quais são os vossos principais requisitos para se continuarem a manter na vanguarda e apresentarem os melhores resultados aos vossos clientes?

Esta é uma área em constante evolução. Os nossos equipamentos tocam em diversas vertentes, pois podemos desenvolver um equipamento – máquinas automáticas
de limpeza de precisão, mais exatamente – mas cada máquina é um conjunto de tecnologia, o que significa que cada equipamento é único, pois a sua aplicação será específica para cada
área de atividade e para o tipo de componentes que serão trabalhados. Nesse ponto de vista, as nossas tecnologias são transversais, no sentido em que temos de abranger muita
Engenharia – mecânica, eletrónica, de automação – mas também temos de ter conhecimentos de Química e Física. A Química é importante porque a máquina precisa de químicos para
realizar a limpeza com maior precisão e qualidade; por outro lado, a Física, a componente do estudo dos materiais, é fundamental para conhecermos os materiais que vamos limpar e como será a sua reação aos produtos químicos, até porque, cada vez mais, há novos componentes, novos compósitos, novos polímeros, que precisamos de conhecer bem para
depois interagirmos com eles e saber como os limpar.

A mão de obra, para uma empresa como a vossa tem de ser, obrigatoriamente, qualificada ou muito qualificada. Quão fácil é conseguir mão de obra para estas funções?

É muito complicado conseguir mão de obra qualificada, especialmente com alguma experiência. Quase todos os nossos quadros, atualmente, vieram das universidades e foram formados por nós, internamente e com a ajuda de alguns dos nossos parceiros. Muitos
vieram ainda em fase de estágio e acabaram por integrar, depois, os quadros da empresa.

Têm disponível, na empresa, um departamento para levar a cabo todas as pesquisas e desenvolvimento de novas soluções necessárias nesta área? Quão importante ele é para o desenrolar do vosso trabalho?

Nós não somos fabricantes de produtos químicos, mas temos diversas parcerias com empresas que são produtoras e que, quando querem lançar um novo produto para o mercado, recorrem primeiro a nós, para que façamos alguns testes e descubramos se o
produto realmente é útil ao mercado. Isto é importante para nós, também, porque nos permite ter acesso aos produtos de última geração que são lançados no mercado e, assim, podemos estudar as reações dos componentes aos mesmos. Eu próprio tenho como função principal estabelecer ligações entre os nossos diversos parceiros, para gerar um fluxo de comunicação e de estudos de mercado que nos permitam avaliar o que vai aparecendo em novas tecnologias.

Sendo a Criticalflow uma empresa que lida com diversos setores de vanguarda, quão importante é a aplicação da inteligência artificial aos equipamentos que fornecem?

Nós fabricamos máquinas, mas os clientes, quando nos procuram, não querem comprar uma máquina – vêm à procura de um processo. Esse processo consiste em garantirmos um determinado número de outputs, baseado num determinado número de inputs. Entre a chegada e a saída de componentes, existe a necessidade de perceber se os outputs estão
a sair com a qualidade pretendida. As nossas máquinas podem dar esse feedback, quer em
quantidade, quer em qualidade. Isso permite ao cliente saber quantas peças está a produzir, em quanto tempo e com que qualidade. Além disso, desde há cerca de dois anos, as nossas máquinas também dão feedback de prevenção para eventual manutenção, para evitar uma paragem não planeada. É a indústria 4.0 na sua evolução natural.

Quais as vossas soluções de limpeza e onde são mais aplicáveis?

Nós temos diversos tipos de tecnologia e, por vezes, há tecnologias combinadas no mesmo equipamento. Estas soluções podem ser totalmente aquosas – as que trabalham com água e alguns detergentes específicos; temos também processos que utilizam solventes de nova geração, que já não têm riscos de toxicidade e inflamabilidade; tecnologias de limpeza
que utilizam dois solventes em simultâneo, de forma separada ou conjunta, para conseguir a qualidade de limpeza desejada. Depois, temos ainda os processos híbridos, que começam, normalmente, com fase aquosa e finalizam a limpeza com solventes. Relativamente às áreas de negócio onde estas soluções se aplicam, isso é muito variado. Por exemplo, na área de manutenção ou produção da Aeronáutica existem normas específicas que controlam todas as tecnologias e materiais que devem ser utilizados. É uma indústria muito fechada e as questões de segurança são muito críticas… Cada vez mais, a qualidade da limpeza dos componentes é fundamental e existem, inclusivamente, normas do ambiente onde essa peça deve ser fabricada e qual o tipo de contaminação de partículas e fibras a que
pode ser sujeita. Temos clientes desde indústria automóvel, eletrónica, relojoaria, cutelaria, ótica, etc..

Quando pensa em Engenharia e em Futuro, enquanto empresário, o que lhe parece que podemos esperar?

É um grande ponto de interrogação…Há quem diga que a inteligência artificial vai atingir a capacidade do raciocínio humano em 2029, o que não está assim tão longe… A Engenharia em si ainda terá muito para dar. Em Portugal, eu acredito que aquilo a que nós nos vamos dedicar, cada vez mais, será a Engenharia para investigação e desenvolvimento, no que respeita à procura de novas tecnologias e novos processos para desenvolver novos equipamentos e formas de fabrico mais limpas.

Como se posiciona a Criticalflow rumo ao futuro, no que respeita ao investimento e à constante inovação, necessária para vos manter na vanguarda?

Em Portugal, outra empresa como a nossa, que abranja tantas tecnologias e processos diferentes, não existe. Somos únicos. Grande parte do nosso negócio é para exportação e muitos dos nossos clientes são multinacionais que trabalham em Portugal. Além disso, apostamos sempre na qualidade dos profissionais portugueses, porque a nossa formação é
muito boa, embora seja insuficientemente canalizada. O nosso objetivo é crescer, ainda que
saibamos que não é fácil, pois Portugal não tem tradição enquanto país que produz equipamentos tecnológicos de vanguarda. Por isso, não é fácil uma empresa portuguesa tentar singrar nesta área, mas continuaremos a lutar para levar o nome de Portugal
cada vez mais além.