Com base na experiência na Casa da Saúde do Telhal, que técnicas de reabilitação cognitiva considera mais eficazes no contexto da neuropsicologia?
A reabilitação cognitiva é composta por um conjunto de técnicas que tem como objetivo estimular e melhorar as funções nervosas superiores, nomeadamente a atenção, memória, linguagem e funcionamento executivo que tenham sido perdidas ou prejudicadas em determinada patologia. É um trabalho de equipa multidisciplinar, mais individualizado e focado nas dificuldades e necessidades do paciente. Avalia-se as necessidades e posteriormente elabora-se uma intervenção. Uma das técnicas é a estimulação cognitiva, está muito ligada à Neuropsicologia e consiste em estimular, reorganizar e criar novas ligações neuronais, podemos fazê-lo através de jogos, os chamados “serious games”, os quebra-cabeças, exercícios de memória, atenção, entre outras. Treinar a capacidade de organização, a comunicação, a criação de rotinas e autonomia nas atividades de vida diária.
As técnicas de relaxamento, mindfulness e meditação também são de extrema importância, ajudam a diminuir os níveis de stress e ansiedade e é possível melhorar a nossa capacidade de concentração, gestão emocional e saúde física.
O que distingue uma abordagem em contexto hospitalar, escolar e de consultório privado? Como é que adapta as suas estratégias conforme o ambiente em que trabalha?
São abordagens diferentes sim, começando pelo setting terapêutico que é diferente e fundamental para a segurança e para o estabelecimento da relação terapêutica, ou seja, o ambiente em que a consulta ocorre. É importante que seja um espaço tranquilo, agradável, acolhedor para a pessoa, onde consiga sentir confiança para partilhar e refletir sobre as suas questões com a máxima privacidade. Os gabinetes hospitalares podem não trazer esse conforto que é importante, há sempre ocorrências, é um local onde existe sempre muito movimento. Existem muitos desafios emocionais num hospital, é um local onde existe a cura, mas onde a doença está muito presente, muitas pessoas não se sentem confortáveis quando têm de se deslocar ao hospital. O meu trabalho em contexto escolar era através de um protocolo entre a clínica e a escola, o foco da intervenção é diferente, centra-se nas problemáticas ao nível da aprendizagem, questões de comportamento de integração e inclusão para que as crianças e jovens consigam lidar com os desafios pessoais e académicos que existem na escola. Em consultório privado acaba por ser uma abordagem mais personalizada, o setting é mais tranquilo e a gestão das
consultas é mais flexível e ajustada á disponibilidade do psicólogo e do paciente.
Trabalhou com crianças e adolescentes em agrupamentos de escolas. Como analisa a questão da eventual proibição de telemóveis em recinto escolar, a nível de saúde mental?
Considero que pode ser arriscado quando se tenta proibir algo, mas de facto compreendo o porquê desta decisão e considero que deva existir uma regulamentação. É essencial mais controlo no uso dos telemóveis nas escolas e
considero até noutros contextos. Os telemóveis trouxeram muitas ferramentas úteis para a nossa vida, no entanto penso que não existe um equilíbrio, o uso do telemóvel está a tornar-se uma dependência, é uma situação que tem vindo a crescer e a preocupar, quer pais, quer professores e profissionais de saúde. As crianças e jovens têm vindo a deixar de parte atividades que são essenciais ao desenvolvimento, isolam-se mais, estão mais sedentárias, não têm tantas interações entre pares, as relações são em grande parte virtuais. Pode impactar no rendimento escolar pois percebemos que a capacidade atencional também fica prejudicada, como também questões relacionadas com a ansiedade e depressão. Penso que ainda existe pouca supervisão por
parte dos pais, e as crianças estão muitas vezes expostas a conteúdos que não são adequados à idade, isso prejudica o seu desenvolvimento emocional e psicológico.
Qual o impacto da Neuropsicologia na vida quotidiana dos seus pacientes? Que mudanças positivas observa mais frequentemente após as intervenções terapêuticas?
Além do diagnóstico, quando existe compreensão e tratamento de condições que afetam o cérebro e o comportamento é possível recuperar capacidades perdidas e criar estratégias para lidar com as limitações da pessoa no dia a dia, é possível melhorar o desempenho, prevenir o declínio cognitivo acentuado e promover um envelhecimento ativo e saudável.