Num mundo laboral, ainda dominado pelos homens, como é ser mulher e liderar um projeto na área da saúde?
É uma enorme responsabilidade! É lutar para diminuir estigmas e preconceitos! Implica continuar a alertar que ainda se perpetuam desigualdades, das salariais às de igualdade de progressão e de oportunidades. É também expor o estado de exaustão de muitas mulheres pela acumulação de tarefas da esfera familiar. Apostar em uma carreira torna-se, assim, muito mais difícil. Liderar a Maria Vinagre é um motivo de realização pessoal e profissional.
A Maria Vinagre é um projeto criado para ajudar a equilibrar a vida, no seu amargo e doce. Como caracteriza este projeto?
A clínica Maria Vinagre, tal como o nome sugere, propõe-se apoiar o empoderamento no agridoce da vida, através das terapias, cuidados com o corpo e com a mente. Nos tempos de hoje, em que se parece procurar, de forma incessante, a felicidade e a perfeição, pretendemos, através de uma equipa multidisciplinar, reforçar que a vida é feita de desafios, com momentos felizes e outros amargos e que todos temos, dentro de nós, o potencial para lidar com os mesmos.
Que características suas acredita que este projeto comporta?
Sou psicóloga há 23 anos. Desde que me conheço que me defino como uma “pessoa de pessoas”, que tenta praticar a empatia e a tolerância, na sua vida pessoal e profissional. A clínica Maria Vinagre tem como filosofia ser um espaço clínico onde todos cabem e são acolhidos na sua singularidade, sem julgamentos. Pretende ser um local de empoderamento e de cura.
Enquanto psicóloga, quão importante é poder trabalhar num espaço seu?
Poder escolher, para a clínica, uma equipa na qual confio, é muito importante. Da Psicoterapia, passando pela Psicologia Clínica e Educacional, pela Sexologia, às necessidades educativas especiais, Terapia da Fala e Nutrição.
Temos um corpo clínico do qual me orgulho muito e nos permite fornecer uma resposta de qualidade, na área da saúde mental, integrando corpo e mente na nossa definição de bem-estar psicológico.
Considerando as áreas que disponibilizam a quem vos procura, quais aquelas que são mais solicitadas? De que forma é que isso permite, simultaneamente, fazer uma leitura da forma como está, atualmente, a saúde mental da população, de forma genérica?
Na Maria Vinagre, trabalhamos em equipa multidisciplinar olhando a pessoa e não o sintoma. Na área da Psicologia Clínica, nos últimos anos, nomeadamente após a pandemia COVID-19, temos assistido a um aumento crescente das perturbações de ansiedade, depressão e isolamento social. Por outro lado, as perturbações de burnout são também muito frequentes, associadas a uma sociedade onde se parece cultivar cada vez mais o sucesso e a perfeição. Para as mulheres, fruto da maior multiplicidade de tarefas, da esfera familiar à profissional, a exaustão será tendencialmente maior. As consultas de Sexologia são também muito procuradas, com especial destaque para a sexualidade da mulher, ainda muito encapsulada por preconceitos e uma moral judaico cristã, que tem vindo a inibir as mulheres de se realizarem plenamente a nível da sua sexualidade.
Como líder da Maria Vinagre e psicoterapeuta, que impacto tem, também para si, o facto de conseguir, verdadeiramente, ajudar quem a procura?
Ser líder da Maria Vinagre representa também ser empresária na área da saúde e ter de lidar com muitas responsabilidades e exigências. Precisei de aprender, ao longo de mais de 20 anos, a reconhecer os meus limites, a
reconhecer quando a minha resiliência e persistência se podem estar a transformar em teimosia. Tive de aprender sobre lutas e lutos. E, sobretudo, que não consigo salvar todos. Essa será uma das minhas maiores aprendizagens, a par da importância do autocuidado no profissional de saúde mental. Se eu não estiver equilibrada, em todos os domínios, se eu não me permitir viver toda a panóplia de cores que a vida tem para oferecer, não farei o melhor trabalho possível, com cada paciente. Acredito que é assim que mudamos o mundo: sendo a melhor versão de nós mesmos.