Que impacto se sente na procura, por parte dos clientes, por um crédito habitação?
A procura de crédito habitação para novas aquisições tem diminuído desde início do último semestre de 2022, essa diminuição no meu ponto de vista deve-se a múltiplos fatores como o aumento das taxas de juro, aumento da inflação e a pouca oferta no mercado. Se a estes multiplicadores negativos adicionarmos ainda a continuidade de grande procura de imóveis em Portugal por cidadãos estrangeiros com outra capacidade financeira, aumentando o seu valor no mercado para valores recorde, torna muito difícil às famílias portuguesas, principalmente jovens, a aquisição de habitação.
A inflação e as dificuldades resultantes da perda de rendimento são motivos pelos quais a procura pelos créditos pessoais tem aumentado ou, pelo contrário, as famílias retraem-se e preferem apostar numa solução de crédito consolidado para as prestações já existentes?
Pelo contrário, as famílias estão a apostar mais numa solução de consolidação de dívidas existentes, concentrando tudo num só produto, dilatando tanto quanto possível o prazo, numa tentativa de reduzir ao máximo o impacto da perda de rendimento real nas suas vidas.
Qual o impacto que, a longo prazo, a inflação e a perda de rendimentos poderão ter na vida de famílias e empresas?
Acredito que, a longo prazo, o impacto não será negativo pois, com o panorama atual, serão obrigadas, no curto prazo, a acomodar os aumentos das prestações dos financiamentos, seja por via de renegociações, seja pela redução de novos contratos, deixando-as mais capacitadas para o futuro.
Como pode um intermediário de crédito posicionar-se no mercado tendo em conta a atual conjuntura económica?
Na ótica da Orbiscrédito, com a conjuntura atual, o posicionamento de um intermediário de crédito no mercado deve centrar-se, principalmente, na ajuda aos consumidores, seja na procura de novas soluções, seja na melhoria das atuais. Para nós, quer opte por transferir os seus créditos habitação, consolidar a totalidade dos créditos ou renegociar os seguros obrigatórios existentes, comprometemo-nos com uma tentativa constante de diminuir o peso dos financiamentos no orçamento familiar, sem um único custo adicional.
Parece-lhe que o atual momento que a economia nacional atravessa é semelhante ao momento vivido aquando da crise do imobiliário, há cerca de 10 anos, ou estamos a lidar com uma situação económica diferente?
No meu entender, o momento atual que a economia vive é em tudo diferente quando comparado com o do inicio da década anterior. Se analisarmos os indicadores isolados, verificamos que mais diferente seria impossível. Em 2010, tínhamos a inflação em valores historicamente baixos e controlados, economia com crescimentos
residuais ou negativos, desemprego elevado e mercados sem liquidez. No momento atual, a economia portuguesa tem liquidez, o emprego é historicamente baixo, o crescimento económico e a inflação mais altos dos últimos 30 anos. O grande problema, e único ponto em comum, é o forte endividamento da economia portuguesa, que nos expõe a esta enorme subida das taxas de juro, consumindo uma enorme fatia dos baixos
rendimentos das famílias.
Como lhe parece que 2023 se vai desenrolar, no que respeita aos negócios que dependem de crédito, como a compra de casa?
Acredito que todos os negócios que dependem diretamente do crédito vão sofrer uma desaceleração generalizada durante 2023. Essa diminuição no crédito é motivada não só pelo aumento dos preços dos bens de consumo e do
imobiliário, como também pelo receio da continuidade de subida das taxas de juro, adiando essas aquisições para o futuro.
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