“As políticas de saúde pública têm de resultar de uma cooperação intersetorial”

Dia 10 de outubro celebrou-se o Dia Mundial da Saúde Mental. Nestes momentos, a saúde mental é sempre destacada e surgem testemunhos da sua importância. No entanto, Portugal não é, ainda, um país conhecido por proteger a saúde mental da sua população.

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O Dia Mundial da Saúde Mental celebra-se a 10 de outubro. Como é que a Ordem dos Psicólogos Portugueses assinalou esta data?

A Ordem dos Psicólogos Portugueses assinala o Dia Mundial da Saúde Mental colocando na ordem do dia o tema “Promover a Saúde Pública através da Ciência Psicológica”. Daqui resultarão um conjunto de recomendações da ciência psicológica dirigidas a decisores políticos, empresas e lideranças, com o intuito de que estas sejam priorizadas no desenho de políticas públicas e empresariais, que de facto possam não só aumentar a eficácia das intervenções, mas também gerar ganhos económicos.

Como pode esta instituição posicionar-se e ajudar a desenvolver políticas que tragam a saúde mental para o primeiro plano da saúde no país?

A saúde mental é uma responsabilidade coletiva. Cabe à Ordem dos Psicólogos Portugueses colocar a Psicologia e os psicólogos ao serviço das pessoas, das empresas, das comunidades e do país. Tal significa participar ativamente no debate público, disponibilizar literacia em saúde, desenvolver e apresentar propostas e respostas baseadas na evidência científica, e apoiar os líderes do nosso país na tomada de decisões informadas e realmente úteis na construção de políticas que priorizem a saúde e o bem-estar das pessoas.

Que impacto teria, a nível da economia nacional, uma verdadeira política pública integrada de saúde mental? É possível saber o quanto o país perde, economicamente falando, considerando as faltas por doença associadas às doenças mentais?

O impacto seria altamente distintivo e transformante. As faltas ao trabalho, o presentismo laboral e as faltas ou baixas médicas relacionadas com problemas de saúde psicológica representam custos de produtividade nas empresas e perdas económicas muito superiores aos custos diretos com os cuidados de saúde à pessoa. O Relatório do Custo do Stress e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho, em Portugal publicado pela OPP, demonstra que os custos do stress e dos problemas de saúde psicológica para as empresas portuguesas podem chegar aos 5,3 mil milhões de euros por ano.
Os países podem perder 3% a 4% do PIB quando estes problemas não são tratados. Por outro lado, intervenções para prevenir e promover a saúde psicológica e o bem-estar dos trabalhadores podem representar 30% na redução
das perdas ao nível dos custos de saúde, perda de produtividade e substituição de trabalhadores, poupando às
empresas cerca de 1,6 mil milhões de euros por ano.

Como pode o país criar estas políticas integradas? A Ordem dos Psicólogos Portugueses está disponível para ajudar nesta necessidade de saúde pública?

A OPP tem insistido na importância de se criarem respostas que resultem de uma articulação e cooperação intersetorial de políticas e de práticas integradas de saúde mental. A metodologia de implementação obriga a estratégias de governança integradas com prioridades bem definidas, metas comuns e um calendário para o cumprimento de um mandato que requer autoridade de execução. É necessária uma liderança política assumida corajosamente, já que implica o envolvimento de todos os setores, a exemplo, o trabalho, a saúde, a educação, a
proteção social, a justiça e as comunidades.
Estamos disponíveis e temos propostas já feitas, nomeadamente ao nível da primeira infância e da criação de locais de trabalho saudáveis, que permitem a implementação de planos de ação com medidas concretas a nível local e nacional.