“Ninguém lidera verdadeiramente sozinho”

Joana Carvalho ajudou a fundar a ARGO em 2017, uma consultora boutique que é próxima dos seus clientes e onde todos os projetos são customizáveis à necessidade do cliente. Enquanto pessoa de afetos e psicóloga de formação, acredita numa liderança humana e destaca a mentoria e a formação como ferramentas importantes para um crescimento saudável da carreira.

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A Joana cresceu como sendo uma mulher de afetos. Como é que isso moldou a sua relação com as pessoas e a sua opção pelas áreas de Psicologia e Gestão de Recursos Humanos?

Nasci e fui criada no seio de uma família grande, em número e em afetos. Essa vivência ensinou-me a escutar, a cuidar e a observar com atenção, e fez-me desenvolver uma forte apetência para as pessoas. Na faculdade, a minha opção pela área da Psicologia Social e das Organizações surgiu de forma espontânea, e foi aí que nasceu o gosto pela área dos Recursos Humanos.
Aliás, esse interesse pelo impacto social tem sido uma constante no meu percurso, hoje mantenho esse compromisso vivo através do meu envolvimento com a Stand4Good. Foi também nessa fase que percebi que o que me movia era ajudar as pessoas a crescer, a encontrar o seu lugar, a gerir as suas carreiras e a desbloquear o seu potencial.

Quais as características principais da sua liderança?

Acredito que ninguém lidera verdadeiramente sozinho. Sempre fui, e continuo a ser, uma observadora atenta de quem sabe conduzir equipas com integridade, empatia e coragem. Acredito que ser exigente não é incompatível
com ser generoso, que apoiar não significa poupar ao esforço, e que cuidar de uma equipa é também saber dizer o que precisa de ser dito, mesmo quando não é fácil.
Para mim, liderança é saber criar uma ligação autêntica com as pessoas e apoiar o seu desenvolvimento, é essa a abordagem que valorizo e tento cultivar.

Qual a importância da mentoria e da formação para que as mulheres possam desenvolver a sua carreira e a sua presença no mercado de trabalho?

No meu caso, trago comigo algumas pessoas de referência, que procuro para refletir sobre temas estratégicos, decisões de negócio ou até sobre a minha própria evolução como profissional e que têm um grande impacto nas decisões que tomo hoje. A mentoria tem essa força: ajuda-nos a ganhar clareza, a tomar decisões com mais consciência e a alinhar o nosso percurso com o que realmente queremos construir. Já a formação complementa esse caminho, oferecendo ferramentas práticas, consolidando competências e, acima de tudo, reforçando a confiança. Mas há ainda outras dimensões que considero fundamentais: a atualização permanente de conhecimentos, a exposição, perspetivas diversas e a partilha de experiências reais, que tantas vezes só acontecem nestes contextos de aprendizagem.

Vê diferenças no mercado, considerando uma maior abertura para a presença de mulheres e a forma como as mesmas se posicionam para criar os seus próprios empregos ou assumirem um cargo de liderança?

Sim, e muitas delas são positivas. Há uma maior abertura, uma maior consciencialização e até uma crescente valorização da presença das mulheres em cargos de liderança e em contextos de decisão. Vejo também mais mulheres a criarem os seus próprios projetos, a posicionarem-se com mais ambição e confiança e a ocuparem o seu lugar com uma voz mais clara e segura. Mas, ao mesmo tempo, continuo a sentir que esse caminho exige, muitas
vezes, um esforço redobrado.
O que noto também, e que considero muito relevante, é uma mudança na forma como as mulheres definem sucesso. Há um desejo maior de alinhar propósito com impacto, de criar valor para os outros, de liderar com autenticidade e
isso tem vindo a transformar não só o lugar que as mulheres ocupam, mas também a forma como o próprio mercado olha para estas líderes.