A Saúde Mental em Portugal é uma das principais causas de absentismo laboral. Que impacto isso tem na economia nacional?
Quando se fala em absentismo tem de se falar não só no sentido estrito, mas também do presentismo e dos custos associados. O relatório “Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho, em Portugal”, da Ordem dos Psicólogos Portugueses, calculou, em 2022, o custo da perda de produtividade das empresas portuguesas devido ao absentismo e presentismo em 5,3 milhões de euros.
Quais os principais problemas para os quais importa chamar a atenção das empresas e como podem elas estar mais atentas aos seus colaboradores, identificando problemas do foro mental e oferecendo ajuda ao colaborador?
Antes de mais é preciso que as empresas olhem para as suas práticas de gestão sob o que a lente da evidência científica nos informa, sobre as consequências dessas práticas não só para a saúde e bem-estar dos seus trabalhadores, mas também para os seus impactos na produtividade e, por exemplo, na vinculação e na atração de talento. Para isso tem de se olhar para aspetos que vão desde a autonomia que os trabalhadores têm para realizar as suas funções, o reconhecimento que têm do seu trabalho (para além, mas também incluindo, das condições financeiras) e qual a saúde das relações sociais existente na organização. Uma abordagem possível e desejada, não excluindo outras, é a de uma avaliação sistemática dos riscos psicossociais. E isso deve acontecer não como uma obrigação pura e simples que é necessária cumprir, mas como parte da estratégia da empresa e assumida, por isso mesmo, ao mais alto nível da gestão da organização.
Qual o papel do Estado e do SNS nesta necessidade de disponibilizar mais acessos públicos a estes profissionais de saúde (psicólogos)?
No que diz respeito às empresas, o papel do Estado é dar um sinal através de uma alteração legislativa, prometida pelo anterior governo, recomendada em documentos orientadores da Direção-Geral da Saúde, com acolhimento generalizado parlamentar e também presente no Livro Verde para a Saúde e Segurança no Trabalho. Uma alteração que consiste no reforço da obrigação dos riscos psicossociais e de planos de prevenção e na inclusão de psicólogos do trabalho nas equipas de saúde ocupacional.
Para além disso, a inclusão de fatores de majoração em candidaturas, por exemplo, ligadas à inovação nas práticas de gestão e similares pode também contribuir para uma adoção mais rápida destas práticas pela generalidade das organizações.
É ainda necessário assegurar que os centros de saúde têm um número mínimo de psicólogos para dar resposta à necessidade da população, coisa que atualmente está ainda muito distante de acontecer.
A Europa tem 11 milhões de euros reservados para avançar com políticas de combate ao preconceito e ao tabu relativamente à saúde mental, com o objetivo final de facilitar o acesso aos profissionais de saúde da área e incentivar a procura, por parte de quem possa sentir ter essa necessidade. A seu ver, uma política europeia de saúde mental poderia fazer com que o país melhorasse, também, as suas políticas?
Depende da política europeia de saúde mental. Se a política europeia que refere incorrer em erros já cometidos em Portugal de considerar, na prática (embora sobre o epíteto de saúde mental), medidas que são apenas e só referentes à doença mental e à sua remediação, não. É enviesado. É curto. É desproporcional e desadequado
um investimento feito de acordo principalmente com o modelo biomédico, não respeitando as recomendações da evidência científica para termos muito mais investimento, numa primeira linha, na intervenção psicológica e a necessidade de, aí sim, termos uma política que, envolvendo prevenção e promoção, possa efetivamente ser
uma política de saúde mental.
Numa altura em que se celebra o Dia Mundial da Saúde Mental, que mensagem é importante deixar a quem nos lê?
Que seja o primeiro a cuidar da sua saúde, seja ela física ou mental. Se é um líder de uma empresa, trata-se, antes de mais, de um imperativo ético e uma responsabilidade de gestão com impacto nos resultados que deixou de ser possível ignorar.