O CENFIM é reconhecido como um centro de formação de excelência nas áreas da Metalomecânica e Metalurgia. Que análise faz à evolução do vosso trabalho, nacional e internacionalmente?
Para além da atividade formativa, o CENFIM tem participado ao longo dos anos em inúmeros projetos internacionais, não só na Europa, mas também na grande maioria dos países pertencentes à CPLP, em particular, desde 1992, em países africanos de língua oficial portuguesa, nomeadamente Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé. Esta cooperação tem vindo a crescer de forma sustentável ao longo dos anos, existindo da nossa parte e dos nossos parceiros, a vontade e o empenho na criação de condições para o seu desenvolvimento
futuro. Destes projetos, nomeadamente em relação a Moçambique, destacamos a cooperação com o Centro de Formação Profissional da Metalomecânica (CFPM) em Maputo, que de forma paulatina e sustentada tem vindo a conseguir um papel cada vez mais relevante na formação de quadros para o setor da Metalomecânica, fruto da aposta em planos de formação que respondem às necessidades reais do setor. As áreas que se têm vindo a desenvolver nos planos de cooperação entre o CENFIM e as diversas instituições parceiras nos países da CPLP têm abrangido todas as atividades ligadas à formação profissional – as atividades formativas e as atividades de apoio técnico relacionadas com a organização e gestão das organizações. Tendo em conta o desenvolvimento crescente e continuado das relações que o CENFIM tem vindo a estabelecer e a reforçar ao longo destes 30 anos com as mais diversas instituições particulares ou oficiais dos países que constituem a CPLP, consideramos que são excelentes e que, acrescentando este fator ao know-how e à experiência acumulada pelo CENFIM ao longo destes 32 anos (como referimos) estamos extremamente otimistas no seu reforço e continuidade por muito mais anos.
A parceria entre o CENFIM e Moçambique começou, de forma institucional, há quase 25 anos. O primeiro projeto era a reconversão e funcionamento do Centro de Formação Profissional da Metalomecânica. De então para cá, que conquistas foram sendo realizadas, a nível académico e formativo, neste país?
Ao longo destes 25 anos, para além do projeto ligado ao CFPM em Maputo, que tem evoluído de forma sustentável tanto em número de ações de formação como de valências formativas, sendo neste momento um Centro de Formação certificado pela ANEP, o CENFIM tem estado envolvido em vários outros projetos de cooperação, dos quais destacamos nos últimos anos o acordo de implementação celebrado com o Instituto Camões (Projeto +Emprego – Parceria Público-Privada para o Emprego dos Jovens em Cabo Delgado). A
participação do CENFIM tem privilegiado a Formação Técnica de Formadores (em particular nas áreas da soldadura, eletricidade industrial, automação industrial) com o objetivo de, através da melhoria da qualidade técnica da formação ministrada, proporcionarem aos jovens a melhoria das suas competências e, consequentemente, as suas perspetivas de empregabilidade nas diversas empresas existentes na região de Cabo Delgado.
Por que motivo é importante para o CENFIM esta colaboração com Moçambique?
Sendo bastante positivo o balanço que o CENFIM faz da cooperação realizada com países da CPLP, tanto através dos protocolos e parcerias estabelecidos, como através das atividades formativas e planos de formação implementados nas mais diversas empresas e instituições sediadas nesses países, nomeadamente em Moçambique, seja pelo seu crescimento contínuo e sustentado, seja pelo feedback dos milhares de formandos e profissionais que têm participado das atividades realizadas ao longo dos anos que nos orgulham enquanto instituição e nos incentivam a continuar, consideramos extremamente importante continuar a aprofundar os laços criados, não só mantendo as parcerias e projetos de colaboração atuais, como apostando de forma dinâmica e empenhada em novas parcerias e acordos de cooperação.
Com a falta de mão de obra técnica especializada de que Portugal sofre, existem recursos humanos formados em países da CPLP, tal como Moçambique, que podem, posteriormente, encontrar em Portugal um local de trabalho ou mesmo um país onde possam seguir os estudos superiores?
Sim. Essa é uma possibilidade. Outra possibilidade é a existência de programas de formação em Portugal de jovens oriundos de países da CPLP que lhes permite uma especialização, tendo depois a possibilidade de ficar em Portugal e ajudarem a suprir a falta de mão de obra especializada ou, se preferirem, voltarem aos seus países e apoiarem o seu desenvolvimento. Neste sentido o CENFIM tem promovido a criação de protocolos com entidades desses países, dos quais destacamos o exemplo de sucesso com jovens oriundos de Cabo Verde, que vieram para Portugal fazer formação em CNC no nosso núcleo da Marinha Grande, através de um protocolo assinado entre o Governo de Cabo Verde, a Câmara Municipal da Marinha Grande e o CENFIM ao abrigo do qual, no final de 2023, 11 jovens terminaram a sua formação e a grande maioria deles, já estão a trabalharem empresas do município da Marinha Grande.
Considerando que, em Portugal, dados recentes mostram que o abandono escolar aumentou, a formação profissional pode ser uma alternativa importante para não só conseguir fornecer recursos humanos técnicos especializados ao mercado de trabalho mas, simultaneamente, caminhar de mãos dadas com a indústria para que os recursos humanos nacionais tenham uma qualidade de ensino e de adequação ao mercado de trabalho superior?
Consideramos que a formação profissional pode e deve constituir-se como alternativa importante ao ensino
“tradicional”, não como segunda via ou solução de recurso para quem não obtém sucesso, mas como um caminho para a aquisição de conhecimentos e competências, a par do referido ensino. No caso específico de Portugal, onde constatamos diariamente a necessidade imperiosa, por parte do mercado de trabalho e da indústria em particular, de recrutar técnicos especializados, torna-se ainda mais premente continuar a apostarem ofertas formativas de qualidade (tanto em termos de instituições como de currículos formativos) adaptadas às
reais necessidades das empresas, como caminho para a aquisição dos conhecimentos e competências tão necessários aos setores produtivos nacionais, não descurando a sua promoção como fator de garantia de
empregabilidade para os jovens que optem por esta via. No caso do CENFIM, por exemplo, a empregabilidade dos jovens que terminam com sucesso os nossos cursos de formação inicial situa-se acima dos 95%.
Num momento em que as eleições legislativas acabaram de se realizar, como vê o panorama educativo nacional? Quais as apostas que seriam cruciais para que Portugal tivesse uma formação virada para o futuro e preparada para os desafios que, por exemplo, as tecnologias de IA representam?
A qualificação das pessoas para os novos paradigmas do ambiente e do digital requer uma especial atenção dos programas a implementar. Consideramos a flexibilidade e a antecipação das necessidades como fatores cruciais para o bom desempenho do sistema de formação do país. A aposta não só nas novas tecnologias de produção, mas também em novas metodologias de formação, adaptadas aos formandos de hoje, permitir-nos-á responder de uma forma mais eficaz às necessidades concretas das empresas e das pessoas.