Consultas de Psicologia à distância de um clique

A Ondivan nasceu há oito anos, em resultado de uma experiência que a psicóloga Inês Mata, diretora clínica desta plataforma, fez aquando da sua mudança para Portugal: colocar os seus pacientes, durante cerca de um mês, em atendimento exclusivamente online. A ideia foi um sucesso – não só os tratamentos resultaram, como ainda foi possível aumentar o número de pessoas que procuravam ajuda pela via digital. Hoje, a psicóloga inês mata explica algumas razões que levam ao sucesso deste tipo de sessões e realça o bom trabalho que tem vindo a ser feito para desmistificar a saúde mental e a sua importância.

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O que a fez, enquanto psicóloga, empreender neste sentido e criar uma clínica de psicologia online?

Sempre acreditei na importância de fazer chegar a saúde mental a mais lugares, mas o grande motivador para a criação da plataforma veio de uma mudança pessoal. Ao imigrar para Portugal, a maior parte dos meus pacientes
não quis ser encaminhada para outros profissionais. Já tinha feito alguns atendimentos online, mas resolvi fazer um teste: em novembro de 2016, migrei, por 21 dias, todos os meus pacientes para o atendimento puramente por via online.
Para minha surpresa, pacientes que já estavam em acompanhamento presencial há anos apresentaram naqueles 21 dias resultados excelentes! O tempo foi passando e a minha clínica só crescia. Foi aí que entendi que o presencial havia dado lugar ao online, e mais, que eu poderia, para além de encaminhar pacientes para outros profissionais, reuni-los enquanto equipa e fazer chegar um suporte psicológico de excelência a pessoas que encontram dificuldades de acesso a serviços de saúde mental. Assim nasceu a Ondivan.

Acredita que o facto de os contactos entre paciente e psicólogo se desenrolarem online pode ajudar neste processo da procura de ajuda psicológica? Que outras vantagens traz, também, quer para pacientes, quer para psicólogos?

Para mim não há dúvidas de que o formato online é uma ferramenta poderosa na facilitação do acesso ao apoio psicológico. Muitos dos meus pacientes compartilham que a possibilidade de realizar sessões no conforto das suas casas faz com que o processo terapêutico se torne mais viável e menos intimidante. O facto de não
precisarem de se preocupar com deslocações, de não se sentirem expostos nas salas de espera, sobretudo em cidades pequenas, pode proporcionar uma sensação de anonimato e segurança, que encoraja muitos a abrirem-se mais rapidamente. Para os psicólogos, esse formato também oferece vantagens significativas como agendas
mais flexíveis, melhores possibilidades de gestão do tempo e a capacidade de atender pacientes de diferentes localidades.

Enquanto mulher empreendedora, e para mais ligada à Saúde, que considerações tece sobre a evolução desta plataforma que criou? Superou as suas expectativas? Como é gerir uma clínica de psicologia eHealth que está presente em 18 países?

Quando tudo isto começou, não fazia a menor ideia do quanto empreender é desafiador, e, embora no campo da Psicologia as mulheres sejam maioria, os lugares à frente dos negócios ainda são mais ocupados pelos homens. Gerir a Ondivan tem sido uma jornada extremamente gratificante e, ao mesmo tempo, desafiadora. Desde o momento da fundação, sabíamos que havia uma necessidade a ser atendida, mas o alcance que conseguimos e o impacto que tivemos nas vidas de tantas pessoas superou todas as minhas expectativas. A expansão da Ondivan
para 18 países é a prova do quanto a necessidade por suporte psicológico é universal.

Que características pessoais colocou neste projeto? Enquanto profissional da Psicologia, como se revê no mesmo?

Acredito firmemente que não existe terapêutica da saúde mental sem empatia, escuta ativa ou sem acolhimento. Na minha prática, assim como na minha vida, procuro priorizar a humanidade das pessoas e aprender através das histórias delas, sempre atenta ao que é importante para cada uma delas, com muito cuidado e respeito.
Sinto que, profissionalmente, isso se traduz na construção de um espaço clínico seguro, no qual as pessoas possam expressar-se livremente, sem medo de julgamentos ou constrangimentos. Cada pessoa possui a sua história e cada história é singular e importante. Quando sentem que isso é respeitado, os pacientes conseguem construir ferramentas de cura excecionais.

Como é tratada, atualmente, a área da Psicologia em Portugal? Tem havido uma evolução crucial no que respeita à forma como a sociedade lida com os problemas de saúde mental? Há ainda um caminho para percorrer?

Penso que a sociedade está, sim, mais aberta para discutir e tratar questões de saúde mental, especialmente após os desafios impostos pela pandemia. A começar pela excelente gestão da Ordem dos Psicólogos, cada vez mais inclusiva, didática e formativa com os profissionais e seguindo em direção à consciencialização da
população sobre a importância não só curativa, mas, acima de tudo, preventiva dos cuidados em saúde mental, pode-se dizer que a Psicologia tem ganhado aqui cada vez mais espaço e reconhecimento, o que é extremamente positivo. No entanto, não há como negar que ainda há muito trabalho a ser feito. Precisamos de continuar a
educar a população sobre a importância dos cuidados psicológicos e, obviamente, garantir que todos tenham acesso a esses cuidados.