Tendo em conta a sua experiência, na área da Psicologia, com adolescentes e adultos, quais os problemas de Saúde Mental com maior incidência?
Os problemas de maior incidência são as perturbações de humor, essencialmente a Depressão, e as perturbações da ansiedade, nomeadamente perturbações de pânico.
Quais os maiores desafios que pais e filhos enfrentam, sobretudo relacionados com a presença constante da tecnologia na vida dos adolescentes?
O maior desafio é a falta de consciência que todos temos relativamente ao alcance das tecnologias. Por vezes o limite entre o que é partilhável ou não é ténue. A linha que separa a utilização adequada e a utilização excessiva das tecnologias também. A comunicação passa a ser feita maioritariamente através de um ecrã e cada vez menos através de uma conversa cara a cara. Partilhamos cada vez menos dentro de casa e cada vez mais fora dela.
No que respeita à parentalidade positiva, que conselhos pode deixar para contribuir para uma relação mais profunda e saudável entre pais e filhos?
Um conselho básico é o estabelecimento de regras e limites claros, bem ajustados à idade dos filhos. Negociar estas regras e limites com eles, bem como as consequências em caso de transgressão, é importante para que se sintam responsáveis pelas suas ações. Não ceder em caso de insistência dos filhos também é importante, pois os filhos aprendem que, se insistirem, os pais acabarão por ceder e começam a utilizar isso como estratégia para conseguirem o que querem. Uma comunicação clara e direta, em que os filhos podem contar aos pais os seus problemas e preocupações sem serem julgados, é essencial. E isso não significa que não sejam repreendidos ou responsabilizados pelas suas ações, significa que os pais se mostram disponíveis para ouvir os filhos sem partirem logo para uma reação. Encontrar o equilíbrio é sempre a chave para qualquer relação.
Quais os grandes desafios que a pandemia e o teletrabalho, a necessidade de maior convivência familiar e a telescola trouxeram às mentes dos adultos e dos jovens?
Um dos desafios é a dificuldade em separar os vários contextos em que nos inserimos, uma vez que todos passaram a estar conjugados no mesmo local. Termos locais diferentes onde realizamos diferentes tarefas é saudável para conseguirmos organizar-nos mentalmente. Além disso, enquanto antes as famílias conviviam por um número reduzido de horas no mesmo espaço, com o confinamento isso deixou de se verificar, o que conduziu a um aumento da tensão, do stress familiar e conflitos.
Parece-lhe que esta é uma boa altura para que a saúde mental veja a sua importância reavaliada e reconhecida?
Sem dúvida! Ao longo dos últimos anos tem havido um reconhecimento do quão importante é a saúde mental, mas é necessário que este seja mais profundo. A pandemia veio demonstrar o quanto a nossa saúde mental influencia a nossa capacidade de lidar com situações adversas em momentos críticos. É necessário um investimento sério na área da saúde mental, aumentando o número de profissionais nos serviços de proximidade, permitindo à população aceder a estes serviços.
Que impacto terá este período na saúde mental dos portugueses?
É de esperar um aumento de sintomas psicopatológicos nos próximos meses e anos, não apenas decorrentes da situação atual de pandemia, mas também da crise económica. É comum surgirem mais casos de ansiedade, Depressão, suicídios… Situações de stress vividas de forma intensa podem desencadear surtos psicóticos.