António Camisinha já trabalhava na área das energias renováveis quando resolveu apostar na criação de uma empresa própria. Em 2013, a Enersado ganhou forma e dedicou-se exclusivamente à energia fotovoltaica: “Iniciámos projetos com clientes portugueses e franceses, um dos quais dentro de um estabelecimento prisional na ilha de Reunião, onde construímos um parque fotovoltaico no solo e estufas fotovoltaicas com capacidade para suportar furacões de categoria 3, ou seja, fora do comum. Desde então, para além dos parques fotovoltaicos habituais, este tem sido o nosso caminho, o qual nos cria grandes desafios. Damos especial atenção a projetos para além da Europa, em áreas geográficas onde podemos fazer a diferença, como em ilhas, África e, quando possível, em situações onde o parque fotovoltaico concilia a produção de energia e a produção agrícola ou, por exemplo, em África, onde tem sempre um complemento de melhoria das condições de vida dos habitantes locais seja na formação e trabalho, seja no apoio agrícola com a criação de pontos de captação de água potável e preparação de terrenos”.
A Enersado é conhecida pelos projetos diferenciados que desenvolve, mas também pela capacidade que tem de fornecer os serviços, sem recorrer a subcontratação: “Evitamos subcontratar serviços. Desde que iniciámos, sempre fizemos questão de garantir aos nossos clientes que conseguíamos levar a cabo um serviço com qualidade e dentro do prazo predefinido e isso só se consegue se conseguirmos controlar todos os passos na execução do serviço. Por esse motivo, temos dificuldade muitas vezes em contratar mão de obra. Neste momento, temos cerca de 300 colaboradores, dos quais 60 por cento contratados no último ano e em plena pandemia, o que é para nós muito gratificante pela quantidade de famílias que indiretamente dependem de nós numa altura tão difícil para todos – e só a conseguimos através de formação na empresa, porque não existe mão de obra qualificada nesta área, o que nos leva a fazer um grande investimento. Algo que faz parte da nossa forma de trabalhar os projetos, nomeadamente em África, é formarmos cidadãos locais. Levamos apenas os técnicos necessários para a coordenação, supervisão, garantia de qualidade na instalação da obra e contratamos mão de obra local. Apenas como curiosidade, este sistema de contratação fez com que a pequena criminalidade em Kita, uma cidade no Mali, fosse praticamente nula, pelo menos no período de execução do trabalho em que contratámos cerca de 200 colaboradores locais. Estes projetos deixam sempre uma sensação muito enriquecedora e gratificante”.
O Mali é apenas um dos muitos países africanos onde a Enersado já desenvolveu projetos e tem 100 por cento de uma empresa sediada em Bamako (Enersado Mali SAS): “Nós fazemos questão de desenvolver trabalhos em locais onde as dificuldades vão além da própria execução do projeto – instalámos mais de 180 mil painéis fotovoltaicos em Kita, no que é atualmente o maior parque fotovoltaico da África Oeste. O Mali é um país em guerra, ao ponto de, durante a execução dos trabalhos, estarmos confinados à base de vida criada para o efeito e estivemos sempre sob condições de segurança muito apertadas, protegidos por uma unidade especial do Exército”. O mesmo acontece na região moçambicana de Cabo Delgado, onde também existe um projeto de grande dimensão atualmente em execução: “Já estivemos na Guiné-Conacri, no Burundi, Tanzânia, na Guiana Francesa, Caraíbas, Médio Oriente, Indonésia… Temos também trabalhos na Europa, sobretudo em França, Bélgica, Holanda e, claro, em Portugal”.
A instalação de grandes parques fotovoltaicos tem provocado alguma tensão entre grupos ambientalistas e mesmo a população, que por vezes não deseja a implementação destes equipamentos de produção de energia renovável na sua região. António Camisinha acredita que estas questões poderão ser evitadas, no futuro: “Na minha opinião a tendência passa pela instalação dos projetos fotovoltaicos em zonas não agrícolas, como as zonas rochosas, aterros sanitários, zonas montanhosas ou em estruturas de apoio agrícola, como por exemplo estufas. A Enersado já está a desenvolver um projeto de grande dimensão cuja instalação dos painéis fotovoltaicos será feita numa zona de serra, com inclinações que levam quer máquinas, quer os nossos colaboradores ao limite, em Portimão. Será um projeto que, depois de concluído, impressionará”. O diretor da Enersado salienta que os painéis fotovoltaicos podem ser instalados em qualquer lugar: “Existem principalmente dois tipos de estruturas de fixação para os parques fotovoltaicos – através de trackers, que obrigam a aplicação normalmente em zonas planas, e depois existe uma estrutura fixa que, neste caso, já permite que se instalem painéis fotovoltaicos em qualquer tipo de terreno”.
Outra hipótese de instalar painéis fotovoltaicos é fazê-lo em zonas agrícolas, que não estejam a ser utilizadas ou então fazê-lo em zonas de produção agrícola cultivada, mas onde possa existir uma sinergia entre a produção de energia e a própria cultura agrícola: “Acontece muito em ilhas, pois os terrenos férteis não são muitos e assim é possível juntar dois objetivos num mesmo local”.
Quando questionado sobre o futuro da Enersado e do mercado onde está inserido, António Camisinha reconhece que o mercado nacional ainda tem muito espaço para crescer, mas receia, simultaneamente, que a importância dada ao preço praticado e a concorrência menos leal que possa surgir venha asfixiar o mercado: “Este ano, acredito que vamos duplicar novamente a faturação – algo que já acontece há três anos consecutivos –. A Enersado procura neste momento projetos diferenciados como parques de estacionamento e estufas agrícolas e também entrar em novos mercados, particularmente no mercado africano, onde sabemos haver uma margem de crescimento exponencial, devido à grande carência de energia um pouco por todos os países e é também muito provável que aumentemos a nossa equipa, para cerca de 500 pessoas”.