Europa: O Futuro decide-se agora

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Os tempos são duros e exigirão escolhas claras. A reconstrução da Europa no pós-guerra assentou no Estado social e nos direitos do trabalho, na paz e no direito internacional. Hoje, quem dirige a Europa faz por esquecer e enterrar as lições do pós-guerra e das décadas que nos trouxeram mais prosperidade e justiça social.
Com a guerra no continente europeu, a União Europeia quis ser inútil na procura da Paz. Estados Unidos, Turquia, Rússia e China decidem o que será e a UE assiste. Enquanto isso, coloca-se ao lado do genocida Netanyahu e perde qualquer credibilidade internacional como guardiã do direito internacional. Esta perda moral, interna e externa,
tem consequências tão graves quanto imprevisíveis. Com a guerra comercial entre os EUA e a China, fica destapada também a enorme vulnerabilidade económica da UE. Décadas de desindustrialização e uma crença no comércio livre sem paralelo (mesmo no outro lado do Atlântico) ditaram a completa dependência. É assim na
energia, na indústria e no digital. Nem mesmo em áreas onde a inovação é ainda europeia, a UE mantém qualquer autonomia. As substâncias ativas de que dependem os medicamentos são sobretudo chinesas.

Finalmente, é mesmo de dentro da UE que vem o maior risco para o seu futuro. O consenso neoliberal que se foi instalando ditou a privatização dos setores estratégicos e o enfraquecimento do Estado Social e dos rendimentos e direitos do trabalho. Nos últimos 20 anos, até os povos de países com Estado Social e contratação coletiva
tradicionalmente muito fortes, como os nórdicos, sentiram essa perda. O futuro da Europa definir-se-á no confronto entre dois campos. Há um campo que insiste na subalternização estratégica aos EUA (mesmo quando lhe chama autonomia), na crença absoluta no mercado e que troca a transição justa pelo armamento. É um campo vasto e só aparentemente contraditório. Os liberais que recusam políticas públicas para resolver a falta de investimento e inovação da economia europeia já provaram que se sentem bem na companhia dos “patriotas” europeus que juram fidelidade ao americano Trump. E todos servem muito bem Musk e restante broligarquia. Conhecemos o trágico futuro desta linha, porque é a tragédia do nosso passado.

Existe outra possibilidade de futuro: colocar a inovação ao serviço do progresso social e aprender com a construção popular e democrática que ergueu a Europa das cinzas da Segunda Grande Guerra. A enorme esperança está numa maioria social que recuse a barbárie e que transporte a exigência de respeito pelo trabalho, de regras na economia
para o controlo do custo de vida, habitação e transportes, de uma transição justa que corresponda simultaneamente a uma nova industrialização da Europa e um território mais seguro. Uma esperança que vive ainda na recuperação da credibilidade do direito internacional e da comunidade das nações. Com a certeza de que as escolhas que fazemos aqui e agora terão um impacto planetário. A União Europeia é a segunda economia do mundo. A paz e o antifascismo são a nossa maior responsabilidade.