“Falta criar condições reais para fomentar o empreendedorismo feminino”

Bárbara Azevedo fundou a Private Label há sete anos, em parceria com um sócio. Esta empresa exporta atualmente praticamente tudo o que comercializa, mas é em Portugal que aposta para levar a cabo a construção das peças de mobiliário de luxo que vende. Esta empreendedora salienta como é o processo de criação de uma empresa quando já se é mãe e destaca os apoios e as necessidades técnicas que é importante colmatar para que mais mulheres empreendam.

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O que a levou a apostar na criação de uma empresa própria?

A Private Label é o meu primeiro grande projeto enquanto empreendedora, tendo eu já trabalhado numa empresa ligada ao mobiliário de luxo. Quando surgiu a oportunidade de criar uma empresa, o que pretendia era concretizar uma visão sobre o serviço que deve ser prestado no setor do design de mobiliário de luxo. Juntamente com o meu
sócio, que tem a direção criativa das marcas, focamo-nos em desenvolver e comunicar aquilo que de melhor se faz em Portugal. O nosso país é exímio na produção de mobiliário, mas depois são poucas as empresas que sabem vender e comunicar o seu produto.
O problema está em dar a conhecer. Como vender para o mundo sempre foi o nosso principal foco, nós sabíamos que o nosso posicionamento era fundamental e que era necessário ter um design apelativo; uma comunicação bem direcionada e clara; e ter uma boa equipa, que é a imagem da Private Label perante clientes, fornecedores e outros envolvidos.


Como avalia o projeto Private Label, atualmente? Em que momento se encontra o projeto e como se desenha o futuro da marca?

Este é um projeto bastante desafiador. No entanto avalio de uma forma bastante positiva, porque o nosso grande foco sempre foi ter um crescimento sustentado. Sendo a Private Label uma holding, neste momento já conseguimos posicionar as marcas da empresa enquanto referências no mercado de luxo, e essa é a nossa grande conquista. Já estamos presentes nas melhores feiras de design do mundo, como a Isaloni, em Milão; a ICFF, em Nova Iorque ou a Maison et Objet em Paris… Neste momento, o nosso grande objetivo é consolidar a empresa e, simultaneamente, apostar na expansão da empresa. Desenhamos o futuro da Private com bastante solidez, queremos continuar a inovar, através da criação de novos segmentos, nomeadamente Decor e Mobiliário de Exterior.

Que impacto tem a sua liderança nesta evolução?

Acredito que a minha liderança tenha um impacto direto na forma como o projeto vai evoluindo e isso acaba por ser a cultura da empresa. Faço sempre questão de estar muito próximo das equipas, ouvi-las, desafiá-las, porque isso tem-se traduzido no sucesso da empresa, até porque, hoje, ter um bom Design não é suficiente – a forma como se
presta o serviço é muito importante, por isso digo que vendemos muito mais do que Design.

Acredita que as mulheres, dado o seu papel social, deveriam beneficiar de um maior apoio quando pretendem abrir um negócio próprio?

Sim, isso é muito importante. Quando iniciei este projeto já era mãe e nós, enquanto mulheres, assumimo-nos como cuidadoras e gestoras do lar. Isso é uma carga adicional para nós. O empreendedorismo já é suficientemente
desafiante para que toda esta carga fique só agregada à mulher. Importa deixar claro que mesmo tendo filhos e uma vida familiar para gerir, há espaço para empreender, desde que exista uma verdadeira rede de apoio. Em Portugal persiste uma escassez significativa de apoio às mulheres. Há falta de redes de apoio, como por exemplo creches; há falta de programas de apoio e de formação, para preparar a profissional para o processo de crescimento e gestão de
uma empresa; e de apoio técnico. Mais do que criar incentivos financeiros, falta criar condições reais para que as mulheres consigam empreender com a mesma liberdade de ação dos homens. Apoiar mulheres empreendedoras não
é uma questão de privilégio, mas de equilíbrio.