A área em que desenvolve a sua atividade no PIN – Pediatria – será brevemente complementada com a formação em Neurodesenvolvimento. Sempre quis trabalhar nestas áreas?
Se a minha memória viajasse no tempo, encontraria a menina de cinco anos que queria muito ser médica e brincava “aos médicos”. Aos 17 anos, quando entrei na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, nasceu uma enorme paixão pelas Neurociências. O cérebro e os seus mistérios sempre me fascinaram. O binómio cérebro-comportamento é desafiante. Para além do neurocomportamento, que é uma forma de estar, o Neurodesenvolvimento é uma forma de ser. A par da atividade clínica, e de todo um trabalho em equipa, o meu interesse foca-se também na investigação e sensibilização da comunidade sobre as perturbações de Neurodesenvolvimento.
É mais desafiante estar ligada ao setor da saúde na área infantil e, sobretudo, quando falamos de crianças com problemas que necessitam de ser corretamente diagnosticados, entendidos e depois trabalhados com vista à melhoria contínua do indivíduo?
Olhar o desenvolvimento das crianças, detetar precocemente os seus desvios, implica um trabalho de detetive e pintor. Ouvir os pais que nos procuram, validar as suas queixas, orientar com assertividade e transparência são alguns dos aspetos a sublinhar no meu dia a dia. A deteção atempada de sinais de alarme em Neurodesenvolvimento faz toda a diferença em termos de prognóstico e otimização de competências da criança. O futuro é uma preocupação constante e muito lícita dos pais e para mim é das dificuldades maiores que sinto – a antecipação de um prognóstico.
“O futuro é uma preocupação constante e muito lícita dos
pais e para mim é das dificuldades maiores que sinto – a antecipação de um prognóstico”.
Enquanto mulher, como avalia o seu progresso profissional até ao momento?
Tem sido uma carreira pautada pela enorme paixão que tenho pelo que faço. Sinto um enorme privilégio e uma enorme responsabilidade. O apoio do meu marido e a inspiração dos meus filhos são ingredientes vitais e motores propulsores.
Como avalia o caminho trilhado pelo PIN, e o trabalho que é desenvolvido com as crianças, com vista a uma maior integração familiar e social e, sobretudo, um maior conhecimento e compreensão dos diferentes problemas de saúde que possam existir?
A nossa missão é dar uma resposta multidisciplinar, precoce e sensível às famílias que nos procuram. Validar as preocupações dos pais, olhar a criança com um modelo ecológico, no qual a criança está inserida numa família, numa escola, numa comunidade. Tal olhar permite detetar fatores que influenciam o perfil comportamental. Traçamos o perfil de funcionamento nos diferentes contextos de vida da criança. Cada criança tem um perfil único de
vulnerabilidade e resiliência. Esta rigorosa caracterização permite-nos desenhar o plano terapêutico, que envolve a criança, a capacitação dos pais, a escola. Criamos assim uma rede de suporte essencial. O trabalho em equipa é absolutamente distintivo.
Para além da vertente clínica, há uma vertente de formação e de investigação que complementam o trabalho clínico. Trabalhar nesta equipa de excelência é a força motriz que permite otimizar a resposta às necessidades de quem nos procura.