Humanismo e proximidade no cuidado dos idosos

A Cuidarvos nasceu há pouco mais de dois anos, fruto da necessidade de Tatiana Lopes de entregar a quem a procurava um serviço de apoio domiciliário humano. A proximidade e a empatia dos cuidadores, junto das famílias e dos idosos, é fundamental para esta profissional, que deixa também alertas sobre o que é necessário fazer para assegurar um futuro digno aos idosos em Portugal.

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Como caracteriza a Cuidarvos e a forma como se posiciona no mercado?

A Cuidarvos tem cerca de dois anos e meio de existência e nasceu com o objetivo de tentar trazer ao apoio domiciliário privado um serviço de maior proximidade e disponibilidade, aumentando a confiança dos clientes. Eu sentia muito, no meu dia a dia profissional – trabalhei em Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) e em empresas de apoio domiciliário – que este era um serviço com falta de humanismo. Na Cuidarvos, procuramos entregar isso.

Como selecionam os vossos colaboradores, de forma a assegurar cuidados de excelência e humanismo?

Eu tento perceber não só a competência em termos de formação técnica e de experiência, como a competência humana. Eu já tive cuidadoras presentes em entrevistas que até tinham formação e experiência, mas a postura que tiveram não foi a melhor. Se eu tenho uma pessoa à minha frente sempre agarrada ao telemóvel, acredito que seja esta a postura que irão apresentar no espaço de trabalho. E isso não pode acontecer, porque o local de trabalho é a casa do cliente e é fundamental que mantenham a postura profissional a todo o momento. Se essa postura profissional não existe no momento da entrevista, por mais competência que possa ter em termos de formação e técnica, não passa. A formação é importante, mas não é fulcral, o mais importante é a experiência profissional e validar essa experiência. Com uma necessidade cada vez mais imediata por parte dos clientes, infelizmente não
é possível apostar em Formação. E em termos financeiros, mesmo sendo empresas privadas, esse investimento é muito pesado. Além disso, nenhum cuidador entra ao serviço sem serem validados o registo criminal e as referências.

Quais os serviços que a Cuidarvos disponibiliza?

Temos disponíveis o serviço de higiene, findo o mesmo o cuidador vai embora. Depois, no serviço externo temos várias opções de tempo, desde as duas horas até ao máximo de oito horas consecutivas. Além disso, temos ainda o serviço durante a noite ou as 24 horas, em serviço interno.

Quais os principais problemas com que as famílias com idosos se deparam?

O maior problema das famílias é o financiamento. Uma reforma que ronda os 1400 euros não paga acompanhamento domiciliário, fraldas, medicação, comida… e os serviços de apoio domiciliário ou as ERPI existentes são, na sua maioria, privados. As famílias acabam, muitas vezes, por se ver confrontadas com uma realidade em que ou alguém se despede e assume o cuidado do idoso, com todas as consequências financeiras, familiares e pessoais que isso acarreta, ou os filhos juntam as suas próprias economias para conseguirem pagar um bom apoio domiciliário ou ERPI aos pais.
A Segurança Social não abrange estas pessoas com valores de reforma acima dos mil euros. Este é o grande problema da velhice do nosso país: idosos que até têm reformas confortáveis, mas quando verdadeiramente precisam de as utilizar, não chegam para as suas necessidades e não são abrangidos pelos apoios sociais.

O que lhe parece que seria fundamental criar/estabelecer, a nível estatal, para que estes problemas fossem menorizados?

Os mecanismos para pedir apoios não podem ser tão burocráticos, não podem demorar dois anos a dar resposta. Além disso, acredito que temos de olhar para os escalões, porque mil euros de reforma não faz de ninguém rico.
As comparticipações do Estado têm de ter outro tipo de abrangência, não só económica, como social. Por exemplo, a maioria das IPSS não funcionam em agosto, nem aos fins de semana e feriados. Ora, quem não pode pagar outro apoio, com que cuidados fica, nestes dias? É preciso encontrar soluções abrangentes, para todos.