“Investir em saúde mental é um ato de inteligência coletiva”

Laura Alho é psicóloga e criou a Think Wise para conseguir ajudar o maior número possível de pessoas. Afirma que ainda falta reconhecimento às mulheres e ao seu papel profissional, mas também que continua a faltar fazer mais pela saúde mental.

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Sempre quis ser psicóloga? O que a impeliu para esta carreira?

Na verdade, não. Comecei em Línguas e acabei em Psicologia. Uma crise existencial fez-me perceber que o denominador comum em tudo o que fazia era o contacto com o outro e a capacidade fácil de ouvir, acolher e transformar. Foi aos 23 anos que percebi que queria ser um agente de mudança na sociedade em geral.

Que impacto acredita que as mulheres têm nas atividades profissionais que desempenham?

O impacto é a vários níveis. Não falo apenas de competência técnica, mas da forma como muitas mulheres trazem inteligência emocional, empatia, atenção ao detalhe e capacidade de cuidar e liderar simultaneamente. Somos educadas para cuidar do outro, e embora isso nem sempre jogue a nosso favor, no contexto profissional pode ser uma mais-valia. As mulheres transformam equipas pela forma como gerem relações, tempo e tarefas. Também inspiram mudanças e constroem ambientes mais humanos.

Teve situações (ou assistiu a elas) em que uma mulher tivesse sido tratada de forma desigual a qualquer colega homem?

Infelizmente, sim. Já vi mulheres com ótimas ideias serem ignoradas em reuniões, até um homem repetir a mesma ideia em voz mais firme e ser aplaudido. E já senti na pele a diferenciação de salários. Hoje há mais espaço para
conversar sobre estas desigualdades, mas ainda há muito por fazer.

Como lhe parece que o país está a atuar, no sentido de levar a sério doenças do foro mental?

O sistema público continua sobrecarregado, há poucas vagas, poucos psicólogos nos centros de saúde, e a psicoterapia continua inacessível para muitas famílias em termos financeiros. O reconhecimento existe, mas a atuação prática ainda está aquém do necessário, quer pelo Estado, quer pelas empresas privadas (e.g., mais vagas
nos serviços públicos, mais comparticipações).

Que sociedade teríamos se a saúde mental estivesse no topo das preocupações dos governantes e das empresas?

Teríamos uma sociedade mais saudável e funcional. Trabalhadores menos exaustos, relações mais saudáveis, crianças com mais ferramentas para lidar com o que sentem, menos violência, menos burnout, mais criatividade.
Empresas mais humanas. Escolas mais seguras. Famílias mais conectadas e menos solidão.