Olhando para a sua obra, parece existir uma linha estética muito minimal. É possível construir, em ambiente profissional, uma tendência de design que caracterize um arquiteto?
Se falarmos de tendências a nível global da Arquitectura, as tendências vão e vêm. São cíclicas. O atelier trabalha desde 1989 e tem feito projetos muito variados, desde a reconstrução de pequenas casas rústicas até hospitais. Mantivemos ao longo do tempo algumas referências formais que são comuns a quase todos os projetos. No entanto, projetos com programas tão variados como os que referi atrás têm necessariamente expressões formais diversas. Por outro lado, a Arquitetura é um processo de invenção que implica inovação e é também natural que gostemos de experimentar coisas novas, sobretudo ao nível dos materiais e tecnologias de construção. Nós fazemos isso, mas há coisas de que não abdicamos, apesar de termos sempre presente aquilo que nos pedem para projetar.
O que vemos no mercado internacional da Arquitetura que ainda carece Portugal?

Comparativamente com outros países da Europa, o mercado da Arquitetura em Portugal é pequeno, por isso a generalidade dos gabinetes são de pequena e média dimensão, como o nosso. Do ponto de vista das aptidões técnicas e dos meios tecnológicos, acho que não estamos mal. As nossas escolas de Arquitetura são boas e a maioria dos arquitetos são bem capacitados. Mas julgo que ainda há um caminho a percorrer na sensibilização dos arquitetos para os problemas ambientais.
Considera que é possível equilibrar design, funcionalidade e sustentabilidade?
Em princípio, toda a Arquitetura atual engloba essa tríade. Faltará aqui a questão construtiva. A sustentabilidade é outro atributo mais recente que resulta do problema ambiental global. Mas “sustentabilidade” é uma hoje uma palavra gasta, porque é utilizada a torto e direito. Uma Arquitetura verdadeiramente sustentável é aquela que otimiza recursos naturais, através de inovação, investigação e trabalho articulado com outras áreas do saber – incluindo a inteligência artificial- e também com a história da Arquitetura, que inclui o Movimento Moderno.
“Uma Arquitetura verdadeiramente sustentável é aquela que otimiza
recursos naturais através da inovação, investigação (…)”.
Que impacto perspetiva ter esta recente promulgação da Lei dos Solos?
Quando falamos de cidade e de território, temos um país desregulado. Os fogos florestais não são apenas consequência das alterações climáticas, mas também fruto de décadas de falta de planeamento do território,
onde se destaca o problema da dispersão urbana. A nova Lei dos Solos vai muito provavelmente agravar o problema do desordenamento do território. Sendo dependente da decisão das Câmaras e das Assembleias Municipais, esta nova medida pode resultar em mais especulação imobiliária e em mais irracionalidade na gestão dos solos.









