Como foi o trajeto profissional de cada uma, até se encontrarem e se proporem a criar a Linha Pediátrica?
Estudámos na mesma cidade, mas só em 2012 nos cruzámos, no Hospital Pediátrico de Coimbra. A Susana tinha finalizado o internato médico em Pediatria e, já como especialista, integrava a equipa fixa do Serviço de Urgência,
enquanto a Ana estava a dar os seus primeiros passos no internato médico. A cumplicidade profissional e pessoal foi imediata, gerando, desde então, múltiplos projetos de sucesso comuns, tanto no âmbito do SNS, como da medicina privada. Mais recentemente, abraçámos o desafio da pediatria digital, na Linha Pediátrica.
O que vos levou a idealizar e criar uma clínica online na área da Pediatria?
A Linha Pediátrica nasce do contacto diário com o doente pediátrico e com as dinâmicas das famílias atuais, bem como da perceção das necessidades reais que estas crianças e suas famílias sentem no seu dia a dia, em
particular, no que se refere aos cuidados de saúde. Com a alteração na demografia, a parentalidade passou a ser vivida de forma mais isolada, com menos apoio das gerações mais velhas. Esta realidade, aliada às enormes exigências que a sociedade imprime às famílias a vários níveis, traduz-se num acréscimo de insegurança dos pais sobre os cuidados dos filhos. A Linha Pediátrica nasce, precisamente, desta necessidade de criar uma resposta
especializada, composta por profissionais altamente diferenciados, garantindo que a melhor medicina pode chegar a casa de todas as famílias. Atualmente somos mais de 40 profissionais, entre os quais médicos, enfermeiros,
terapeutas e psicólogos, com um perfil de formação e especialização académica muito diferenciado, contando com diversos docentes universitários, doutorados e doutorandos, que realizam videoconsultas, tanto para a fase da gravidez, como para o pós-parto e para o bebé, criança e adolescente.
Que desafios vos colocou este projeto? Isso fez-vos ir além da vossa área clínica e desempenhar funções de gestão e coordenação? Que impacto teve no vosso desenvolvimento e evolução enquanto profissionais?
Os maiores desafios prenderam-se com o rigoroso processo burocrático, em particular, o que diz respeito à proteção de dados. Muitas pessoas não sabem, mas a telemedicina digital exige um conjunto de regras que têm de ser comprovadas junto da Entidade Reguladora para a Saúde. Ora, este é um projeto de profissionais de saúde e com investimento 100% privado, pelo que, naturalmente, foram também exigências com que nos confrontámos
e que tivemos de ultrapassar com grande flexibilidade e investimento pessoal. Este processo, apesar de longo e complexo, foi uma mais-valia para a nossa construção enquanto profissionais de saúde, primeiramente, porque se tornou mais fácil entender alguns processos, e por outro lado, porque contribuiu para um mais completo entendimento de áreas menos próximas à nossa.
”A Linha Pediátrica nasce desta necessidade
de criar uma resposta especializada,
[…] garantindo que a melhor medicina pode
chegar a casa de todas as famílias”.
Até ao momento, que mais-valias claramente já perceberam que advêm do sucesso deste projeto?
A mais-valia principal foi perceber que as pessoas recorrem ao serviço, e têm uma boa experiência. A maioria das situações agudas, tanto em Pediatria, e até na saúde pré e pós-parto, podem resolver-se ou ter uma orientação por videoconsulta, desde que esta seja realizada por um profissional experiente e diferenciado. O que não é possível de realizar, porque não é legal nem seguro, é a telemedicina pela via de aplicações como o Whatsapp
ou Instagram. No entanto, o nosso objetivo é continuar a manter o investimento num serviço clínico de proximidade para as famílias.