A SMI conta com 32 anos de mercado. Como caracterizariam, em particular, o mercado neste ano de 2020, tendo em conta toda a vossa experiência na área?
O ano de 2019 terminou em alta, sempre em crescimento e com números recorde. 2020 prometia uma continuação deste crescimento e, logo no final do primeiro trimestre com a pandemia Covid-19, essa situação alterou-se. Obviamente que o mercado não foi completamente abaixo, mas houve uma grande adaptação, quer ao nível do trabalho, quer ao nível da execução dos negócios – tivemos de respeitar bastantes questões sanitárias, mudar a nossa forma de trabalhar, utilizar mais as ferramentas das redes sociais e fazer visitas interativas, algo que até à data não era prática corrente. Depois, a incerteza que todos hoje vivemos não é alheia ao mercado imobiliário, provocando muitas incertezas na concretização dos negócios. Apesar de o mercado não ter descido abruptamente, podemos afirmar que, estando o ano a terminar, o mercado de arrendamento tem demonstrado uma diminuição de valores, consequência do aumento da oferta pela retoma dos apartamentos em regime de alojamento local ao mercado mais tradicional.
Como foi possível adaptarem-se aos novos modos de trabalho, sobretudo videoconferências, visitas virtuais e teletrabalho, bem como às questões de cuidados a ter nas visitas aos imóveis? Os clientes continuaram a procurar casa na pandemia?
Sentimos que houve uma ligeira diminuição na compra de imóveis mas, em simultâneo, temos consciência de que as pessoas, estando em casa, têm mais liberdade e predisposição para procurar alternativas de imóveis. No entanto, entre março e junho houve uma restrição quase absoluta às visitas. Para a SMI, porém, é, no fundo, mais uma crise à qual temos de nos adaptar e superar com toda a resiliência. A nossa experiência de mais de 30 anos de mercado, confere-nos uma capacidade para lidar com esta expectativa negativa que as pessoas têm. Este mercado é cíclico, depois da grande crise financeira de 2008, nos últimos cinco anos tivemos um crescimento imobiliário exponencial, o que para muitos significava, também, a tal “bolha imobiliária”, prevendo-se uma nova crise. A pandemia Covid-19 veio antecipar essa realidade e com repercussões inimagináveis. Apesar de tudo, podemos dizer que a a SMI nunca parou, tivemos sempre investidores que continuaram a surgir e a querer investir. Resumindo, sentimos uma ligeira diminuição do mercado, mas continuamos a ter negócio efetivo.
Neste momento, à luz da pandemia, quem são os vossos principais clientes?
Trabalhámos muito com investidores e com clientes de longa data – temos uma imagem criada nos últimos 32 anos de muita confiança e foi com base nessa confiança e proximidade aos clientes que nos foi possível continuar a fazer visitas, porque as pessoas sabiam quem nós éramos e nunca tivemos ninguém que nos fechasse a porta. Mas essa proximidade implica clientes muito antigos. O nome da SMI está associado a uma empresa familiar e as pessoas sentem-se mais próximas e mais empáticas com este tipo de empresas. Cada vez mais, é importante personalizar o serviço. Os clientes apreciam quando têm um relacionamento e um serviço mais pessoal.
Quais as características que apontariam à vossa forma de trabalhar, além da confiança e proximidade?
A juntar a essas duas, temos a discrição. Discrição quer com os clientes, quer com os imóveis, ainda que também saibamos da importância que a imagem e a publicidade têm nos dias de hoje. A qualidade dos imóveis que temos em carteira também é fundamental e, acima de tudo, a busca do melhor negócio para ambas as partes. Nós somos mediadores, portanto a nossa missão é mediar algo entre as partes, comprador e vendedor, e dessa forma proporcionar o melhor negócio para ambas.
Como definiriam o vosso mercado, em relação à oferta e à procura?
Do lado da procura, identificamos dois grandes alvos: os investidores, que procuram oportunidades de negócio e, em simultâneo, o comprador final. Hoje, com a pandemia, a importância da varanda ou pequeno terraço cresceu, por isso aumentou a procura por moradias. Como o preço nas grandes cidades é mais elevado, procuram também nas cidades limítrofes das cidades grandes. Do lado da oferta, continua a existir construção nova suficiente para equilibrar os dois lados.
Que análise fazem dos preços do mercado?
Para alguns, os preços estão altos, para outros, o mercado continua competitivo. Todavia, muitas pessoas acreditavam que os preços iam baixar abruptamente, devido à pandemia, mas tal não sucedeu. Os Vistos GOLD tiveram, inclusivamente, um aumento de 35%, o que denota um interesse dos investidores, talvez devido ao facto de Portugal ter tido uma excelente imagem no exterior durante a primeira fase da pandemia, onde tivemos excelentes resultados. Ainda temos de ter em consideração a questão das moratórias, que podem resultar em muitas insolvências e crédito malparado, o que levará a um inundar do mercado com imóveis resultantes desses processos bancários e judiciais. Prevemos que o mercado imobiliário não ficará indiferente a estas condicionantes, o que poderá provocar oscilações nos preços.
Se tivessem de me destacar algumas questões que consideram que precisam de resolução, no vosso setor, quais seriam?
Era importante que houvesse uma regulamentação e fiscalização efetiva do setor, pois temos a concorrência direta de outras imobiliárias e a concorrência indireta de freelancers, que não têm como atividade principal a consultoria imobiliária. A carga fiscal provoca uma asfixia do setor, que não se prevê que melhore no próximo ano. Mesmo com todos estes desafios, o que queremos e nos propomos é continuar a trabalhar da forma mais profissional, transparente e eficiente possível, esperando continuar aqui por mais 32 anos.