Durante a pandemia, tornou-se membro efetivo da Ordem dos Psicólogos e criou a sua plataforma online. O que a motivou a lançar este projeto e como é que ele influenciou a sua visão sobre o papel da Psicologia nas redes sociais, num momento tão sensível?
Iniciei o estágio de acesso à Ordem dos Psicólogos em 2019 e quando terminei, em 2020, deu-se o início da pandemia. No entanto, nessa altura continuei a exercer funções como psicóloga. No ano de 2021, em conversa com uma colega, surgiu a ideia de divulgar o meu trabalho nas redes sociais (Instagram e Facebook) de modo a partilhar informações que sensibilizassem para a importância da saúde mental. Este projeto teve um impacto bastante positivo, mostrando que cuidar da saúde mental é tão importante como cuidar da saúde física.
Disponibiliza consultas online e presenciais. Quais são as principais diferenças e desafios que observa entre as duas modalidades?
Em ambas, aplica-se o mesmo código deontológico. Em relação à consulta online, poderá observar-se alguma relutância, uma vez que esta modalidade é recente. No entanto, estudos realizados demonstram que os resultados são reconhecidamente positivos. Podemos até considerar algumas vantagens como: ser realizada
em qualquer lugar, não existindo deslocações nem tempo despendido acrescido ou ter a possibilidade de ser atendido por um profissional que não seja da área de residência. No entanto, existem condições que têm de estar asseguradas: local com privacidade, poder realizar consulta por videochamada e estabilidade no acesso à internet. Para quem valoriza o contacto presencial e/ou não consegue assegurar as condições da consulta online, então a consulta presencial será a mais indicada.
Refere muito a importância do autocuidado como uma parte essencial da sua vida, com práticas como exercício físico, leitura, meditação, tempo com a família. Podemos dizer que esse autocuidado influencia também a sua prática clínica?
O autocuidado é um dos alicerces fundamentais para estarmos bem na nossa vida. Em consulta, quando abordamos este tema, costumo dar o exemplo das instruções de segurança quando vamos viajar de avião: primeiro colocamos a nossa máscara de oxigénio e só depois a da pessoa ao nosso lado. Se não tivermos a
nossa máscara de oxigénio, não vamos conseguir ajudar o outro. O autocuidado funciona da mesma forma. Através do autocuidado, melhoramos o nosso bem-estar e sentimo-nos melhor física e psicologicamente.
Como vê a evolução da Psicologia Clínica em Portugal, especialmente no que diz respeito ao atendimento online?
A Psicologia Clínica em Portugal tem evoluído significativamente, existindo uma regulamentação através da criação da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), o que trouxe mais credibilidade e segurança à profissão e
a quem a procura. Na minha perceção, durante a pandemia existiu uma maior sensibilização para a importância da saúde mental através dos meios de comunicação social e da OPP. Como alternativa às consultas presenciais, os psicólogos encontraram o recurso online como resposta às necessidades das pessoas que já eram acompanhadas por um profissional da área.
A ansiedade é uma das suas áreas de intervenção. Na sua perceção, qual o impacto da ansiedade na vida das pessoas?
As perturbações de ansiedade são um problema muito comum da saúde psicológica que pode afetar todas as pessoas de todas as idades. Para além disso, a forma como respondemos à ansiedade pode ser muito diversa e o impacto que ela tem na nossa vida também. Podemos referir algumas estratégias que podem ser adotadas de forma a promover o bem-estar: praticar um estilo de vida saudável, realizar exercício físico, ter uma boa alimentação, aprender técnicas de respiração, relaxamento/meditação/mindfulness, ter uma boa higiene do sono, focar no que podemos controlar, entre outras. No entanto, é muito importante procurar ajuda profissional para ser feita uma avaliação do caso e a intervenção ser o mais adequada às dificuldades apresentadas.
O Burnout é um dos riscos psicossociais que mais afeta as organizações. Quais as estratégias que poderão ser adotadas por quem se encontra em ambientes profissionais exigentes?
O Burnout caracteriza-se, sobretudo, pela exaustão emocional e pela diminuição do envolvimento pessoal no trabalho. Este não acontece de um dia para o outro e é possível estarmos atentos a alguns sinais como: menor motivação no trabalho, fadiga, alterações no sono, exaustão emocional, relações sociais e familiares que podem ser afetadas e menos bem-estar no geral. Apercebendo-se de algum nível de stress no trabalho, pode adotar algumas estratégias como: estabelecer prioridades e limites, delegar tarefas, realizar pequenas pausas ao longo
do dia, criar momentos de conexão consigo mesmo, entre outras. No caso das estratégias não serem eficazes e sentir que os seus recursos internos são menores face às exigências do meio, deverá procurar ajuda especializada.