Inglaterra e Portugal são países que, desde sempre, foram parceiros, quer política, quer economicamente. Como caracteriza esta relação de séculos e como a descreveria, nos dias de hoje?
Portugal e Inglaterra são nações marítimas, voltadas para o Atlântico. Essa afinidade geográfica influenciou a nossa conceção partilhada de uma Europa expansionista. Portugal acusou sempre uma maior dualidade entre a pressão continental e as possibilidades que o oceano oferecia, exigindo um compromisso constante. Mas a visão da política externa e de segurança foi e continua a ser um terreno comum e de indiscutível ligação. No plano económico, as relações comerciais bilaterais são muito próximas, sublinhando-se a sua resiliência, independente das circunstâncias conjunturais, sendo que Portugal disfruta de um superavit comercial. O RU continua a ser um parceiro vital no comércio internacional português; o nosso oitavo mais importante fornecedor e o quarto maior mercado de destino de exportações de bens.
Portugal e Inglaterra podem desenvolver ainda mais esta parceria?
Sem dúvida. Os desafios que se apresentam à diplomacia e à economia britânica, designadamente no seu relacionamento com os países da UE, levarão a que sejam abertas oportunidades para convergir e acentuar os laços entre as duas nações. Um exemplo disso é a agenda das alterações climáticas e da sustentabilidade, onde o RU tem tido um papel muito ativo, sendo este um campo em que Portugal pode e deve almejar ter uma voz ativa e de liderança na UE.
Quais as principais áreas económicas em que Portugal e Inglaterra colaboram?
Ao nível das exportações para o RU destacam-se as máquinas e aparelhos, veículos e outros materiais de transporte, metais comuns, vestuário e produtos alimentares. Mas existem outros nichos de oportunidade de negócio a explorar pelas empresas portuguesas. A relevância do RU enquanto país de origem e de destino de investimento direto estrangeiro é inquestionável. No final de 2019, o RU era o quinto maior investidor direto em Portugal, com mais de 10 mil milhões de euros, sendo o 12º destino do investimento português no exterior, com quase dois por cento do total de investimento.
Considerando a questão do Brexit e o consequente acordo comercial que se seguiu, que análise faz da situação atual?
O novo contexto implica alterações profundas na estrutura e modelos de negócio com o RU. As oportunidades continuarão a existir, sendo ainda assim exigível flexibilidade e capacidade de adaptação para responder ao novo contexto. Exemplo disso é uma clara viragem para o e-commerce, um canal de vendas que as empresas portuguesas devem considerar. O e-commerce deve ser integrado na estratégia de internacionalização das empresas quando abordam o mercado do RU, facilitando o seu acesso com custos mais baixos e permitindo efetivar vendas e negócios de forma rápida e ágil.
Como pode a Câmara do Comércio Luso-Britânica ajudar os empresários dos dois países a continuarem a desenvolver os seus negócios?
A Câmara de Comércio Luso-Britânica tem como objetivo a promoção dos interesses dos seus associados relativamente às relações comerciais entre o Reino Unido e Portugal. Devido ao nosso alcance internacional e transversal aos diferentes setores económicos e ao poder do conhecimento de nossos membros, somos capazes de falar com uma perspetiva abrangente e multidisciplinar em todos os assuntos de negócios. A diversidade de atividades e serviços que promovemos tornou-se uma imagem de marca da nossa Câmara. Formação, workshops, seminários, business breakfasts, encontros de networking, acompanhamento das empresas em feiras e desenvolvimento de missões comerciais estão entre os mais visíveis e recorrentes.
Quais os principais desafios que a relação Portugal-Inglaterra enfrentará, a nível económico, nos próximos tempos?
O RU anunciou recentemente um plano de recuperação económica – o “Build Back Better”. Este plano estratégico irá guiar o desenvolvimento da economia britânica, suportado nos pilares de infraestruturas, competências e inovação, em direção a uma economia verde. Existe também real potencial para compatibilizar os objetivos estratégicos de desenvolvimento da economia britânica e as competências dos recursos e empresas portuguesas na área da inovação. Portugal pode ser um destino preferencial para o investimento britânico, no acesso ao mercado único e enquanto país amigo do investimento estrangeiro.