Resultados de um inquérito levado a cabo sobre condições de vida e rendimento, revelaram que 34,3% das pessoas com 16 ou mais anos, teriam manifestado sintomas de ansiedade generalizada, com maior incidência no
género feminino (40,1%) face a (27,4%) no género masculino (INE, 2023).
Apesar de todas as perturbações de ansiedade (e.g. perturbação de ansiedade generalizada; perturbação de ansiedade de separação; fobias; pânico) partilharem uma característica comum que é o medo e ansiedade intensos), diferem entre si dependendo do tipo de situações que provocam a alteração emocional e comportamental. Sentir medo é uma resposta emocional face a uma ameaça real ou percecionada, já a ansiedade relaciona-se com a antecipação de uma ameaça futura.
Sentir ansiedade e medo faz parte do desenvolvimento normal, no entanto quando são excessivas e persistentes no tempo, tornam-se desadaptativas e disfuncionais.
A ansiedade pode manifestar-se de diferentes formas, seguem-se alguns exemplos:
Alguns sintomas no CORPO:
-Ritmo cardíaco e respiratório acelerados;
-Tremores ou dormências;
-Náuseas;
-Dor de barriga;
-Dor ou aperto no peito;
-Calor ou frio excessivo;
-Tonturas;
-Alteração do apetite;
-Dor de cabeça;
-Tensão muscular;
-Mal-estar geral;
-Falta de ar;
-Fadiga;
-Suores;
Alguns PENSAMENTOS perturbadores:
-Preocupação excessiva com acontecimentos, situações e pessoas;
-Preocupação excessiva com o passado ou antecipação do futuro;
-Receio de falhar;
-Receio de desiludir os outros;
-Pensamentos recorrentes sobre a mesma coisa;
-Vergonha ou embaraço perante os outros;
-Antecipar sempre ou quase sempre o pior;
-Estar em constante alerta – sempre hipervigilante;
Alterações do COMPORTAMENTO:
-Evitamento de situações, locais, pessoas ou objectos;
-Preocupação com experimentar situações novas;
-Evitamento de locais, eventos ou pessoas que geram ansiedade;
-Não ser capaz de desfrutar de tempo livre;
-Dificuldade em dormir;
-Dificuldade em relaxar;
-Dificuldade de concentração/foco;
-Afastamento dos outros.
Estes sintomas apesar de serem na maioria das vezes inócuos para a saúde, tendem a reforçar e validar o pensamento de que existe um perigo real. Percebamos que sentir ansiedade é uma resposta adaptativa e funcional do ser humano quando confrontado com situações potencialmente stressantes ou perigosas. No entanto, enquanto na perturbação da ansiedade as preocupações são excessivas, invasivas, perturbadoras, e não raras vezes surgem inesperadamente, com impacto negativo no funcionamento psicossocial da pessoa, na ansiedade adaptativa ou
não patológica, as preocupações são percecionadas como possíveis de lidar e a sua intensidade tende a reduzir ou cessar quando o acontecimento ou actividade causadores da ansiedade são resolvidos ou desaparecem, permitindo à pessoa prosseguir com as suas rotinas de vida sem défice no funcionamento emocional, social e ocupacional do
comportamento. Dependendo do desenvolvimento da pessoa ao longo do seu ciclo de vida, diferentes perceções e visões do mundo se vão construindo, esta estrutura influenciará o modo como a pessoa irá reagir às adversidades que vai encontrando no seu caminho. Gatilhos ou estímulos que podem ser pensamentos ou situações, tendem a ativar respostas psicológicas de alerta que contribuem para a exacerbação da ansiedade, por exemplo preocupações com doença, dificuldades financeiras ou perda de rendimentos, perda da liberdade, conflitos relacionais e/ou sociais, instabilidade profissional, preocupação parental, entre outros.
A depressão está associada a um profundo sofrimento psicológico, com impacto negativo em todos ou quase todos os contextos de vida do indivíduo. A pessoa com perturbação depressiva, tem uma visão negativa de si, do
mundo e do futuro, o que a leva a uma interpretação selectiva e enviesada das suas experiências de vida, tendendo a moldar os factos para que estes encaixem nas suas crenças pré-existentes que por sua vez reforçam e
confirmam pensamentos e sentimentos de ser insuficiente, incapaz, e não ser amada/o. Alguns sintomas predominantes manifestam-se através de:
-Humor deprimido;
-Tristeza;
-Choro fácil;
-Sem esperança no futuro;
-Desmotivação e desânimo;
-Redução da satisfação;
-Inércia;
-Procrastinação;
-Fadiga ou perda de energia;
-Alterações do sono e do apetite;
-Sentimentos negativos em relação a si próprio;
-Autocrítica e autodesvalorização;
-Dificuldade de concentração/foco;
-Indecisão;
-Perda de vínculos emocionais com outras pessoas;
-Expectativas negativas;
-Isolamento e evitamento.
A perturbação depressiva pode surgir em qualquer idade, contudo a probabilidade do seu desenvolvimento intensifica-se com o início da puberdade. A maior incidência ocorre no género feminino, numa proporção de 1,5 a 3
vezes. Estima-se que a hereditariedade oscile nos 40% e que os descendentes de primeiro grau de indivíduos com perturbação depressiva major apresentem um risco acrescido de 2 a 4 vezes mais elevado de desenvolverem a
perturbação face à população em geral. Causas complexas contribuem para o desenvolvimento de estados depressivos ou perturbação depressiva. Se está a experienciar pensamentos, emoções ou comportamentos difíceis de lidar e que impactam negativamente a sua vida nos vários contextos, familiar, social, académico e ou profissional, talvez seja o momento para procurar ajuda profissional.
A Psicologia Clínica é uma área da saúde mental que por meio de técnicas e estratégias científicas para o tratamento das perturbações psicológicas, visa reduzir ou eliminar o sofrimento psicológico, promovendo o desenvolvimento de pensamentos e comportamentos mais adaptativos e funcionais, e consequentemente uma vida mais tranquila e feliz.