“Sem saúde mental não há saúde”

Inês Figueiredo é psicóloga clínica e tem a seu cargo a direção clínica e executiva da clínica à qual empresta o nome, um “espaço-casa” onde trabalham profissionais dedicados exclusivamente às diferentes áreas da saúde mental. A celebração do Dia Mundial da Saúde Mental foi a oportunidade para conhecer os serviços disponíveis e dar a conhecer os sintomas que podem ser indicadores de uma saúde mental a necessitar de atenção.

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Descreve-se como obstinada e empreendedora. Acredita terem sido estas duas características que a levaram a criar a sua clínica em nome próprio?

Desde miúda que sou descrita como teimosa e obstinada. Este sonho foi e é um projeto em construção: pensado cuidadosamente em cada detalhe, sem nunca baixar os braços, foi um caminho que fiz com foco e muitas certezas. Acredito que, em parte, foram essas características que me permitiram chegar onde estou. Quando me lancei sozinha, não tinha a ambição de abrir uma clínica. Soube, em poucos meses, que seria esse o caminho. Depois do primeiro ano, já com uma pequena equipa, decidi abrir o espaço onde estamos atualmente. Somos, de facto, diferenciados. Somamos atualmente 16 profissionais, entre os quais psicólogos, psiquiatra, pedopsiquiatra, uma gestora de clientes e uma diretora financeira. Esta equipa é o motor disto tudo. E é graças a todos eles que esse objetivo, posso afirmá-lo hoje, está cumprido!

Quais as principais vantagens de poder trabalhar numa clínica sua?

A principal vantagem é poder desenvolver um projeto norteado por valores de proximidade, empatia, respeito, transparência e confiança. Estes valores são transversais à minha atuação: tanto na qualidade de psicóloga, como na qualidade de gestora e diretora. O posicionamento que tenho foi conquistado, lado a lado, com a minha equipa. É, por isso, também uma conquista de todos eles. Somos reconhecidos e procurados como uma referência na saúde mental. Creio que todos os que nos colocam nesse patamar sabem, por experiência própria, que desde que entram no nosso espaço são recebidos de forma próxima e acolhedora. Nenhum cliente sai de uma primeira consulta na minha clínica sem saber exatamente aquilo que pode esperar do profissional que o atendeu. Estamos todos perfeitamente alinhados. Trabalhamos para desmistificar a saúde mental e, para isso, precisamos de explicar em que é que consiste o nosso trabalho. Foi sempre isso que quis: um espaço onde todos se pudessem sentir respeitados, compreendidos e em casa. Tenho um estilo de gestão muito próximo, o que me permite pensar as decisões com e pela minha equipa. Ajudar os outros pode levar-nos, muitas vezes, a esquecermo-nos de nós próprios. Por isso, incentivo todos os que trabalham comigo ao autocuidado. Reunimos
frequentemente para falar, discutir casos e crescer profissionalmente. Mas não desvalorizamos o essencial: as relações. Nesse sentido, investimos em convívios fora do trabalho para nos conhecermos, divertirmos e apoiarmos uns aos outros.

A Clínica Inês Figueiredo dedica-se em exclusividade à saúde mental. Que serviços disponibilizam?

Somos exclusivos na saúde mental e sabemos que é isso que nos torna únicos. Temos, atualmente, resposta nas áreas da psicologia infantil, juvenil e de adultos, terapia de casal e familiar, aconselhamento parental, sexologia clínica, terapia EMDR, consulta de gravidez e transição para a parentalidade, psiquiatria e pedopsiquiatria. A nossa equipa dá resposta a estes serviços porque cada um de nós se tem vindo a especializar nas áreas que são de maior interesse e para as quais sente uma maior aptidão. Isto permite-nos agir com profissionalismo, conhecimento e competência em cada área.

Quais são os problemas que surgem com mais frequência nas suas sessões?

Diria que os quadros de ansiedade e de burnout são os que temos, neste momento, com maior prevalência em consulta. A ansiedade tornou-se a emoção do séc. XXI e, hoje em dia, uma grande parte da nossa população
experiencia, diariamente, níveis severos de ansiedade. Numa sociedade que cada vez mais exige e cada vez menos tolera, o terreno é fértil para que o medo comece a dominar. Em relação ao burnout, as pessoas estão exaustas. Têm trabalhos que priorizam os números, onde lhes são exigidos resultados e performances acima
do que é humanamente possível, levando-as ao limite. Não se toleram falhas, nem se tolera menos do que a perfeição. É tudo para ontem e os empregadores estão a contratar pouco, sobrecarregando e exigindo mais de quem fica.

Que sinais mostram que podemos estar a necessitar de ajuda?

Há muitos sinais aos quais devemos prestar atenção: tristeza, desmotivação, dificuldade de concentração, alterações frequentes de humor, diminuição de produtividade, anedonia e sintomas de ansiedade, como palpitações, suores, tremores, cefaleias, alterações no apetite, no sono, entre outros. Contudo, a saúde mental começa na maneira como lidamos connosco próprios e na qualidade da nossa relação interna. Por isso, considero fundamental que nos proponhamos a estar mais presentes e a olhar para dentro para nos darmos conta do modo como pensamos, daquilo que nos preocupa e de como as nossas relações e contextos nos fazem sentir. A
Psicologia é a ciência que, a partir da relação, ajuda a promover autoconhecimento, a definir objetivos, a desafiar crenças e pensamentos negativos e a experienciar novos padrões de relação e de comportamento. Gosto de relembrar que sem saúde mental não há saúde.