O que a levou a apostar, a determinado momento, numa carreira enquanto intermediária de crédito?
No exercício das minhas funções como procuradora dos principais bancos, atuei num período marcado pela descida das taxas de juro, que revolucionou o setor e impulsionou a compra de habitação própria, levando-me a prestar serviços jurídicos no âmbito do direito imobiliário. Além disso, adquiri experiência em contencioso e incumprimento de crédito, desenvolvendo uma compreensão profunda dos desafios jurídicos e financeiros, e dos impactos
significativos desses problemas na vida das pessoas, gerando stress, insegurança e dificuldades na recuperação financeira familiar. Essa combinação de experiências proporcionou-me um conhecimento mais completo do mercado
de crédito e da importância da formação jurídica na intermediação. Assim, a transição para esta área foi um passo natural, permitindo-me colocar o meu conhecimento ao serviço de pessoas e empresas que necessitam de soluções
financeiras ajustadas às suas necessidades.
Como surgiu a Credify?
A Credify surgiu da fusão das minhas experiências profissionais mas também das oportunidades partilhadas entre mim e o meu filho, Sérgio, que é meu sócio na empresa. A minha experiência no setor imobiliário e financeiro
permitiu-me acompanhar de perto as dinâmicas do crédito à habitação, enquanto o meu filho, que lidera uma empresa de importação automóvel, identificou a necessidade de os seus clientes obterem soluções de financiamento para a aquisição de veículos. Estavam, assim, reunidas as condições e a oportunidade para dar vida a um projeto que oferecesse um serviço de intermediação de crédito especializado nas duas maiores áreas de financiamento do mercado português.
Que análise faz ao momento atual da intermediação de crédito no país, no que respeita à sua regulamentação?
O Banco de Portugal tem vindo a reforçar a supervisão do setor, estabelecendo normas de conduta mais exigentes e incentivando uma maior responsabilização. Hoje, um dos grandes desafios é a proteção dos consumidores exigindo que os intermediários atuem de forma ética e transparente, assegurando que os clientes tenham acesso a informação clara, imparcial e completa sobre os produtos financeiros. A digitalização dos serviços de intermediação
de crédito e o crescimento das plataformas digitais apresentam desafios regulatórios, especialmente no que se refere à proteção de dados, à prevenção de fraudes e à adaptação da legislação às novas formas de intermediação.
A regulamentação deve evoluir em paralelo com estas mudanças, garantindo um equilíbrio entre inovação e segurança para todos os agentes do mercado.
O Banco de Portugal voltou a regulamentar, este ano, esta área. Agora, é necessária ainda maior transparência. Sentiu esta diferença no mercado, enquanto players do mesmo?
A exigência de maior transparência e separação de atividades beneficiou, sobretudo, os consumidores. Antes, havia situações em que um mesmo agente imobiliário promovia um imóvel e, ao mesmo tempo, sugeria soluções de crédito, o que poderia gerar conflitos de interesse. Com a nova regulamentação, que, a meu ver, era imperativa, o consumidor tem agora uma garantia acrescida de que o aconselhamento financeiro é prestado com maior isenção e independência por profissionais especializados.
“É importante que os consumidores
sintam que os intermediários
de crédito possam ser a ponte perfeita
entre as suas necessidades
de crédito e os Bancos, que hoje em
dia, por força das circunstâncias,
estão mais afastados do contacto
direto com os clientes ”.
Como se controla a transparência? É possível à entidade reguladora aferir da forma como as empresas levam a cabo o processo de intermediação de crédito junto dos clientes?
O Banco de Portugal, na sua função reguladora, dispõe de mecanismos de fiscalização da atividade dos intermediários de crédito, por meio de auditorias, ações corretivas ou até sanções em caso de incumprimento das regras, podendo ainda atuar sempre que há denúncias ou indícios de irregularidades. A exigência de registo dos intermediários de crédito no Banco de Portugal, que pode ser consultado online por qualquer consumidor, assegura a conformidade da atividade com as regras do setor. É ainda relevante notar o impacto da publicidade nas redes sociais, onde se verifica um aumento de campanhas que prometem condições de crédito irreais ou soluções financeiras que não correspondem à realidade. Tais práticas induzem os consumidores em erro e comprometem a
credibilidade de uma atividade regulada, que segue um código de conduta profissional. A transparência exige que a informação seja clara e objetiva, especificando os critérios de elegibilidade, os riscos envolvidos e as reais condições de financiamento. Embora seja um desafio controlar todos os aspetos da intermediação de crédito, é fundamental equilibrar marketing e os requisitos de transparência e isenção impostos pela regulamentação do Banco de Portugal. No entanto, verifica-se uma atenção crescente a estas questões.
É verdade que ainda existem muitas pessoas que desconhecem a forma como a intermediação de crédito se processa e a sua importância para, por exemplo, a contratação de um crédito habitação?
Ainda existem muitas pessoas que não conhecem o funcionamento da intermediação de crédito e a sua importância, especialmente na contratação de um crédito habitação. O processo de intermediação de crédito ainda é desconhecido por muitos consumidores, que não sabem quais os passos necessários, quanto tempo pode demorar a obtenção de financiamento ou qual a documentação exigida. Além disso, muitos ignoram que os intermediários são remunerados pelos bancos parceiros e que este serviço não implica custos diretos para os
clientes. O fecho de agências bancárias, a falta de funcionários, a redução do atendimento telefónico e dos horários de atendimento afastaram os consumidores do contacto direto com os balcões, que se verificava anteriormente. É
precisamente neste contexto que a atividade de intermediação de crédito assume especial relevância podendo oferecer um atendimento mais próximo e alargado, agilizando o processo de obtenção de crédito.
Uma comunicação mais clara sobre esses benefícios poderia ajudar a desfazer a ideia errada de que recorrer a um intermediário é complicado ou desnecessário, evitando também a exposição a esquemas fraudulentos e contribuindo para a criação de um mercado financeiro mais seguro e bem informado.