A EVOLEO Technologies trabalha na Engenharia e Desenho de sistemas complexos, sobretudo a nível de eletrónica e desempenha atividades em três áreas distintas. Que áreas são estas e quais as aplicações do vosso trabalho em cada uma das áreas?
A EVOLEO tem sido uma empresa fundamentalmente de Engenharia, com alguma capacidade produtiva e de criação de soluções à medida do cliente. As três áreas em que trabalhamos são o Espaço, a Infraestrutura (ferroviária), e a área Industrial. Nesta última, a EVOLEO desenha, muito à medida do cliente, sistemas de teste, máquinas industriais de apoio ao teste em linha de produção ou de suporte aos departamentos de verificação de qualidade. No entanto, estamos numa fase em que nos procuramos afastar desta personalização e da especificidade. Queremos conseguir aproximar-nos mais do produto recorrente. A segunda área em que
trabalhamos é a área da Ferrovia. Aqui, operamos principalmente com equipamentos de monitorização, ou seja, de aquisição de sinais para analisar as condições (o estado) do material circulante quando passa por algumas
secções da infraestrutura ferroviária. Em Portugal, temos instalados vários projetos-piloto que servem para analisar os comboios que passam por cima da infraestrutura, nomeadamente no que respeita à pesagem
dinâmica ou danos nos rodados e verificar se existe possibilidade de descarrilamento. Mais recentemente, no âmbito dos PRR’s, trabalhamos no projeto SMART WAGON, que é o futuro vagão inteligente português. Este
projeto é liderado pela dinâmica Medway e o nosso papel é na parte da instrumentação desse vagão. Ainda na área ferroviária, temos projetos fora do país, com os caminhos de ferro alemães, que passam pela operação
remota de locomotivas, através das redes de comunicação normais. Isso, em termos de eficiência, aumenta radicalmente a capacidade de criação da composição (junção de vagões). A terceira área – e a que mais se destaca – é o Espaço, até porque a EVOLEO nasceu na sequência da continuidade do trabalho que eu desenvolvia na EFACEC. Esse foi, na altura, o nosso maior projeto nacional, na área do hardware espacial, e eu quis continuar com o trabalho quando saí da EFACEC. A EVOLEO começou com atividades espaciais e é aí que tem, atualmente, a maior parte do seu negócio.
Que serviços desenvolvem na área espacial?
A EVOLEO atua no Espaço em quatro áreas: a primeira são Unidades de Computação – computadores – para Espaço e para pequenos satélites, ou para equipamentos científicos; uma segunda área está relacionada com
Fontes de Alimentação, ou seja, adaptação e distribuição de energia para os diferentes componentes do satélite; na terceira área são criados sistemas de teste – tal como fazemos para a área de industrial, também os
componentes espaciais têm de ser testados e criamos esses sistemas de teste. Há, depois, uma quarta área, de Desenho Digital, que é fundamentalmente baseada em engenharia e agrega eletrónica e programação, e são
principalmente serviços, ou seja, não há produtos, mas sim partes de produtos.

O Espaço divide-se em Old Space (ou Classic Space) e o New Space. Quais as diferenças entre estas áreas e as vantagens para as PME no New Space?
A EVOLEO começou a sua atividade no Old Space (agora designado Classic Space). Os sistemas ou satélites desenvolvidos nesta filosofia exigem fiabilidade extrema, são complexos e usualmente operam para lá do campo magnético terrestre. O acesso ao negócio nesta forma de trabalhar sempre foi muito difícil, porque é muito peculiar. O campo magnético da Terra ajuda a proteger tudo o que está contido nele, nomeadamente os Seres Humanos e a vida terrestre. Da mesma forma, os componentes eletrónicos que voem ainda dentro do campo magnético terrestre estão mais protegidos, mas os componentes eletrónicos que voam fora do campo magnético da Terra têm grande probabilidade de falhar, se não forem consideradas medidas específicas. Por isso, têm de ser criados de forma especial, para que suportem as agressões das partículas cósmicas e da radiação. Esse know-how é muito específico e muito caro. Imagine que um componente para automóvel ou industrial custe 1 euro,
facilmente custa na versão militar entre os 100 a 1000 euros, e pode ir até aos 3 ou 4 mil euros, na versão espacial. Este é um mundo que só está ao alcance das grandes agências espaciais. Desde há cerca de 10, 15 anos, o acesso ao espaço e à tecnologia espacial começou a democratizar-se, de modo que empresas privadas pequenas pudessem lançar os seus próprios satélites. Os grandes fabricantes, como a Airbus Defence and Space
ou Thales-Alenia Space, são empresas privadas que constroem os satélites em parcerias com as agências espaciais. As pequenas empresas, como a EVOLEO, fazem pequenos trabalhos para essas grandes empresas. Os negócios do Old Space são negócios institucionais e são missões de muitas dezenas ou centenas de milhões de
euros. São missões com ciclos de muitos anos, que podem demorar muito tempo, o que significa que só teremos trabalho enquanto estivermos envolvidos nos projetos. No entanto, para soluções à volta da Terra, de baixa órbita, a EVOLEO tem conhecimento para produzir e lançar micro-satélites – também conhecidos como cubesat. Qualquer empresa pode agora aceder ao espaço. Só que, em vez de utilizar equipamentos que têm de ser, todos, protegidos contra a radiação, uma vez que estes satélites estão protegidos pelo campo magnético terrestre, podemos usar componentes típicos da indústria, o que reduz consideravelmente os custos. Conseguimos lançar um satélite por 50-100 mil euros. Isso é chamado New Space e é para aí que a EVOLEO está a tentar caminhar. De mãos dadas com a excelente engenharia e lições aprendidas do Old Space, mas a tentar caminhar para a recorrência baseada em tecnologia New Space, seja para a Estação Espacial Internacional, seja para os próprios
lançadores de foguetões ou para pequenos satélites. Os últimos dois lançamentos em que participámos foram em dezembro de 2021, um para a Estação Espacial Internacional, e outro com o lançamento do James Webb Space Telescope.

Tendo por base este vosso novo objetivo, como se querem posicionar neste setor, futuramente?
A EVOLEO quer tornar-se o equivalente à BOSCH, para o Espaço, em matéria de referência para fornecer subsistemas para o New Space. Na área do New Space ainda não há uma referência que se destaque das outras
para produção de diferentes equipamentos ou produtos. O nosso objetivo é multiplicarmos por 10 os nossos resultados em cinco anos e posicionarmo-nos, no âmbito do New Space e através de parcerias, como a empresa a bater à porta quando precisam de um componente/subsistema. É isso que queremos fazer. Aproveitar o know-how que temos no contexto de Old Space e aplicá-lo no New Space. Queremos tornar-nos numa referência, pelo menos europeia, no que diz respeito a sistemas para aplicações no New Space, sejam elas no âmbito de lançadores, experiências científicas, pequenos satélites ou em futuras estações espaciais.