Sempre quiseram dedicar-se à advocacia?
EG – Desde que me lembro. Reza a história que era muito “refilona” e a minha frase de eleição era “não é justo”.
JN – Sim, a decisão de me licenciar em Direito veio muito cedo na minha vida. Com a prática, veio o fascínio pela advocacia na vertente de trabalhar para as pessoas, com as pessoas – daí a dedicação às áreas da imigração e nacionalidade.
O facto de serem mulheres dificultou as vossas carreiras?
E.G.– Na verdade, não, mas creio que assim foi porque trabalhei em escritórios de pequena e média dimensão, onde é mais fácil mostrar o valor do nosso trabalho a quem tem o poder de decisão na organização interna.
J.N.- Não acho que tenha dificultado. Sempre tentei rodear-me de pessoas que tivessem uma visão muito clara da paridade de género, sei que tomei decisões profissionais de forma a não compactuar com nenhum tipo de discriminação. Penso que a questão da maternidade é um grande foco de desigualdade, especialmente na advocacia – não temos licença de parentalidade. Ser mãe e advogada é uma decisão assustadora e difícil e não devia ser assim.
A liderança de uma mulher é distinta da de um homem?
E.G – Claro. Tendencialmente as mulheres são mais empáticas, metódicas e organizadas. Mas em simultâneo é preciso ser também combativo, assertivo e firme. Todos temos tudo isto em nós. Um bom líder reúne características de ambos.
J.N.– Ser mulher é diferente de ser homem. Nunca me ouvirão dizer que somos todos iguais, porque não somos. Acredito que a liderança de uma mulher, é, na grande maioria dos casos dotada de uma maior organização e sensibilidade.
Ainda é mais difícil uma mulher impor-se profissionalmente?
E.G.- Sim, ainda é. Dificuldades criadas não só pela condescendência masculina, mas também por mulheres em posições de chefia, que tendo tido de batalhar pela sua posição, reprimem o seu lado mais feminino. Ainda está muito patente a ideia de que as mulheres são “demasiado” emotivas e, logo, frágeis, conotando estas características negativamente sem se perceber que elas são uma mais-valia.
J.N.- O percurso das mulheres é, na grande maioria dos casos, mais difícil e menos facilitado. Tem existido uma enorme evolução no caminho da paridade de género, enquanto houver quem se sinta legitimado para perguntar, numa entrevista de trabalho se a candidata pretende ser mãe ou se está disponível para deslocações ao estrangeiro por ter filhos, ainda há um longo caminho a percorrer.
Reconhece nas empresas portuguesas uma maior abertura à liderança feminina?
E.G.– Nas micro, pequenas e médias empresas. Mas porque muitas são criadas e geridas por mulheres.
J.N.- Reconheço. Mas pensemos: são cada vez mais as mulheres a licenciar-se. Como é que ainda assim Portugal apresenta números tão residuais de mulheres em cargos de liderança? Mesmo com o regime da representação equilibrada?
Já sentiu que tinha de descurar um lado – pessoal ou profissional – em detrimento do outro?
E.G.– Caí inicialmente no erro de trabalhar mais horas do que o dia permitia, e descurei de mim própria. Parei e analisei o que não queria ser e trabalho diariamente para o que quero ser. Hoje sou mais produtiva nas horas que trabalho, e não descuro de fazer as coisas que gosto. Gosto muito do que faço, mas não sou exclusivamente o que faço.
J.N.- Não posso dizer que alguma vez tenha sentido pressão para corresponder a uma determinada expectativa, mas sei que tive a sorte de me rodear de pessoas que, a todos os níveis, respeitam que existam dois lados em mim que têm de ter equilíbrio. Acredito que não é fácil, mas é possível conciliar todas as versões, papéis e ambições que uma mulher carrega dentro de si.
Considera que a advocacia é uma área em constante adaptação?
E.G.- A lei é uma forma primordial de mudar comportamentos e conformar a sociedade às posições políticas e legislativas. Por isso o voto é tão importante. Temos de estar em constante aprendizagem. A especialização torna-se cadavez mais uma necessidade por isso mesmo.
J.N.- Na medida em que a nossa profissão passa por ajudar a resolver problemas, de pessoas, de empresas, a nossa adaptação é tanto maior e mais rápida quanto a evolução dos problemas da sociedade.
Como está o vosso escritório a preparar-se para as “novas áreas” do Direito, como o Direito cibernético e a digitalização de dados?
E.G.– Estudo, estudo e mais estudo. Felizmente temos na equipa quem adore dedicar-se a estas matérias.
J.N.- Acredito que o desafio maior será antecipar problemas relacionados com os efeitos perversos que a utilização da robótica, da inteligência artificial provocarão no emprego e como a sociedade de hoje conviverá com essa nova realidade.
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