Fez mestrado integrado em Arquitetura na Universidade de Coimbra, sob o tema “Sentir tudo sem nada me ter sido explicado” . O que significa esta ideia, para si? Que impacto tem este conceito na Arquitetura que cria?
O título da minha tese refere-se a uma passagem do caderno de viagens do arquiteto Fernando Távora, durante a sua visita a Taliesin, nos EUA, em 1960: “sentir tudo sem nada me ter sido explicado”. Esta ideia destaca que a Arquitetura e os espaços que criamos vão além da mera utilidade, pois impactam a vida, de forma positiva
ou negativa, de quem os utiliza. Este conceito influencia a Arquitetura que crio. Ao projetar um espaço, acredito que a nossa intervenção vai além do aspeto técnico ou utilitário. A minha reflexão durante a tese foi sobre o papel do arquiteto nesse processo: somos responsáveis por criar ambientes que não apenas sirvam uma
função prática, mas que proporcionem uma experiência significativa/positiva a quem os utiliza.
Como se descobriu uma apaixonada pela Arquitetura? Quando percebeu que queria mesmo enveredar pela Arquitetura?
A vontade de ser arquiteta surgiu para mim muito cedo e de maneira natural. A viagem sempre fez parte do meu contexto familiar. Desde pequena, viajo com a minha família, dentro e fora do nosso país, explorando diferentes lugares e culturas. De forma quase inconsciente, fiquei fascinada pela espetacularidade de compreender os modos de habitar de cada cultura. Era cativante perceber a diferença da importância dos espaços pois estes variam significativamente, dependendo da cultura. Compreendendo essas diferenças, fica evidente que a Arquitetura deve respeitar os modos de viver de cada comunidade, sem se impor, reconhecendo as necessidades de cada sociedade, família e indivíduo.
É CEO da ZECEGO, um atelier de Arquitetura fundado recentemente. Que características definem os projetos que aqui são desenvolvidos?
A ZECEGO tenta colocar em prática todos os conceitos que vos falei. Nem sempre é fácil, uma vez que dependemos da abertura do cliente. Começámos com projetos de arquitetura de interiores. O desenvolvimento da empresa veio com a pandemia. Sentimos que fizemos a diferença em famílias que não se sentiam em casa. Atualmente, o foco é a habitação a custos controlados para o setor público. Os desafios para implementar
esses conceitos aumentam significativamente, devido às condicionantes dos programas nacionais e das diretrizes financeiras da Europa. Fazer Arquitetura que tenha impacto positivo e significativo torna-se uma missão quase impossível.
Hoje, as mulheres já estão muito mais ativas no mundo laboral. Muitas criam os seus próprios negócios e outras conseguem, inclusivamente, evoluir dentro das empresas em que trabalham e alcançar posições de liderança. Que considerações tece à forma como a mulher está, hoje, presente no mercado de trabalho?
É inegável que a mulher está mais presente no mercado de trabalho do que no passado. A mulher tem vindo a impor-se no mercado de trabalho em diversas áreas. Mas esta imposição é feita em esforço, deixando para trás objetivos familiares e a qualidade de vida. Para atingir determinado patamar a mulher tem que lutar mais do que o homem, mas não por ter menor capacidade, apenas porque não há reconhecimento imediato. Nota-se que a sociedade tem vindo a mudar, mas por imposição. Na Arquitetura é bastante claro. Há poucas mulheres (arquitetas) em lugares de decisão e muitas estão apenas a preencher cotas. É um tema pertinente! Ainda há muito trabalho pela frente, pois persistem desafios como a desigualdade salarial e a conciliação entre o trabalho/
família com o avanço na carreira.
Que mudanças traria ao mundo laboral uma maior presença das mulheres em cargos de liderança? Que conselhos deixa para quem pretende construir a sua carreira e está agora no início da jornada?
A crescente presença de mulheres em cargos de liderança pode contribuir para mudanças significativas no mercado de trabalho. Em primeiro lugar, a diversidade de género e as diferentes perspetivas enriquecem os processos de tomada de decisão. Em segundo lugar é fundamental ter paixão pelo que se faz e acreditar genuinamente nas suas capacidades. Essa autoconfiança, que foi um dos meus maiores desafios, é essencial para o crescimento profissional e tem de ser trabalhada continuamente. Em terceiro lugar, é importante cercar-se de pessoas que acreditam e nos motivam a ir mais longe. Por último, a procura contínua de conhecimento. A busca constante pelo querer saber mais e fazer melhor podem ser ferramentas-chave para que a jornada de
ser mulher e líder seja menos desafiadora.