“As mulheres não precisam de mais incentivos, são imparáveis”

Vanessa Navarro é advogada e exerce a sua profissão em Portugal desde 2020. Dois anos depois de estar a trabalhar como advogada, montou o seu próprio escritório, que já conta, hoje, com espaços no Porto e em Lisboa. Esta entrevista revela a opinião de uma mulher, imigrante e advogada que veio para Portugal ao encontro das suas origens e enfrentou preconceitos para alcançar o que almejava.

0
173

Exerce a profissão de Advogada no Brasil e em Portugal. O que a fez escolher Portugal como pais de residência e de trabalho?

Sou descendente de portugueses. Sempre admirei a cultura dos meus antepassados, em 2017 passei a pensar que seria bom viver no país do meu bisavô, com mais segurança. Embora exercer a Advocacia aqui tenha sido um desafio no início, hoje vejo que foi uma decisão acertada, pois ultrapassadas as dificuldades dos primeiros anos, hoje estou muito bem em Portugal!

Sentiu de alguma forma um choque cultural quando imigrou para Portugal? Quais foram os principais impactos sentidos?

Senti muito, posso citar algumas situações. Primeiro, quanto à alimentação: no Brasil somos acostumados a comer muita carne de vaca, carne vermelha, e aqui comemos mais carne branca. Isso foi difícil para mim, no início, bem como deixar de comer feijão e farofa todos os dias. A segunda questão foi o clima, eu cheguei no Inverno, em dezembro de 2018, um ano de muito frio, eu não estava habituada, entretanto hoje no Verão eu rezo para chegar o Inverno, já me acostumei a viver no frio, e passei a ter dificuldade de sentir calor intenso. Em terceiro, em Portugal o Sol põe-se por volta das 21 horas no Verão, no Brasil o sol põe-se entre 17:30 e 18 horas, no início estranhei, hoje acho uma maravilha poder chegar do trabalho ainda em plena luz do dia, e poder dormir um pouco mais ao amanhecer. Quarta questão, durante o mês de junho, no Porto, é comum ver portugueses a soltar balões. Isso foi um choque para mim, pois no Brasil não é permitido, porque onde cair o balão com certeza ocasionará incêndio. Por fim, o hábito de tomar vinho ao almoço diariamente foi uma das coisas que me causou espanto, sobretudo no intervalo do almoço do trabalho, durante a semana.

Que dificuldades sentiu enquanto mulher empreendedora, para conseguir criar o seu espaço? Revê-se na ideia de que ainda é mais difícil ser empreendedor quando se é mulher?

Na verdade, a dificuldade maior não foi empreender sendo mulher, a dificuldade foi começar a trabalhar na minha profissão em Portugal sendo imigrante. Eu vivi quase dois anos e meio no Porto, e lá fui muito discriminada pelo facto de ser imigrante, não por ser mulher. Cansada, candidatei-me para trabalhar nos escritórios de Lisboa, onde fui chamada e admitida como advogada. Depois de um ano e seis meses, decidi que tinha chegado o momento de partir para a prática individual, montei o meu próprio escritório em julho de 2022, e desde então só estou a crescer, já conto com uma unidade em Lisboa e outra no Porto.

Que conselho deixa àquelas mulheres que estão também a tentar criar o seu negócio, em qualquer área de atividade?

O primeiro passo é acreditar e confiar em si, no seu potencial, fazer formações, procurar qualificar-se e
atualizar-se dentro da sua área. No início, não existe dia, nem horário para quem quer vencer. Ser apaixonada pelo que faz também faz toda a diferença, porque o trabalho é um prazer e não uma obrigação. É claro que passamos por muitas dificuldades, mas conseguimos superar por acreditar que temos capacidade para exerce o nosso ofício.

Considera necessário que a Europa, e por consequência também Portugal desenvolvam medidas para incentivar o empreendedorismo feminino?

Não acho necessário haver incentivo, as mulheres nem precisam de ter incentivo. As coisas no mundo inteiro transformaram-se de tal maneira que hoje as mulheres com a sua força de trabalho, perseverança e confiança estão a vencer, tornam-se chefes de uma casa e de uma família, isso é frequente em todos os países, bem como dentro das empresas públicas e particulares. Somos imparáveis!

Considerando a sua experiência no Direito português e estrangeiro, como definiria as Leis que regulam a imigração nacional e a regularização da situação de um estrangeiro em território nacional? O que necessita de ser feito, na sua opinião, que poderá ajudar a simplificar estes procedimentos?

Portugal tem adotado medidas importantes e necessárias, sobretudo em relação aos jovens, incentivando-os a permanecer em Portugal, mas existem também outras medidas importantes, como as que dizem respeito à regularização dos imigrantes. Entretanto uma das principais medidas que posso mencionar é a contratação de Advogados e de Solicitadores para trabalhar nos processos da AIMA. Com certeza essa medida fará diferença. O Protocolo assinado entre a AIMA e as Ordens dos Advogados e dos Solicitadores fará com que os processos atrasados sofram andamento e assim, com o tempo, haverá mais agilidade no processo de regularização dos imigrantes que chegam a Portugal com intenção de viver. Foi veiculado nos meios de comunicação na data
de hoje que cerca de 1800 profissionais, dentre Advogados e Solicitadores se inscreveram para ajudar a AIMA. Com certeza essa medida do Governo fará diferença.

www.vnadvocaciapt.com