“O desafio será a qualidade do abastecimento às cidades”

O grupo SIMAB foi constituído em 1993, tendo como objetivos principais a revitalização, reorganização, modernização, relocalização e gestão dos mercados abastecedores e da logística de distribuição e comércio alimentar. Volvidos 27 anos da sua criação, ao administrador, Rui Paulo Figueiredo, vê os mercados abastecedores como muito mais do que apenas um mercado agroalimentar e garante que a estrutura organizacional portuguesa está ao nível do melhor que existe no mundo, no que ao setor agroalimentar diz respeito.

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Rui Paulo Figueiredo, administrador

Rui Paulo Figueiredo recebeu a Valor Magazine em plena sede do SIMAB, localizada no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), o que permitiu perceber a dimensão desta plataforma de abastecimento e logística.

Após 27 anos da criação do SIMAB, considera que o objetivo principal foi cumprido?

O objetivo principal foi cumprido – a criação de uma rede nacional de interesse público de mercados abastecedores modernos – relocalizando aquilo que eram os antigos mercados dentro da cidade. Atualmente, possuímos mercados abastecedores modernos, apesar de já terem 20 anos, cujas infraestruturas e requisitos de acessibilidade se regem pelos melhores padrões europeus. Aliás, existem estudos europeus que avaliam a evolução deste tipo de plataformas agroalimentares e que divide em quatro fases essa mesma evolução: a primeira fase é a instalação de um novo espaço e o seu crescimento; a segunda fase é aquela em que à volta do mercado se desenvolve um cluster de atividades de todo o tipo, sobretudo logística e transportes; a terceira fase – e aquela onde estão, atualmente, os mercados abastecedores nacionais – é o ecossistema próprio do mercado, através dos negócios que se realizam entre empresas, realização de eventos e formações e criação de espaços de inovação e de apoio às start-ups. A quarta fase começa quando é necessário voltar a relocalizar o mercado, pois dado o seu crescimento a sua capacidade esgotou.


Solidez financeira
O SIMAB cresceu, nos últimos quatro anos, em todas as vertentes. O grupo aumentou os rendimentos operacionais e os indicadores financeiros – EBITDA e EBIT – e conseguiu diminuir a dívida financeira líquida em 41%, enquanto o resultado líquido de 2019 foi de pouco mais de cinco milhões. Tal foi possível devido ao investimento nas infraestruturas, na reposição da capacidade produtiva, na qualidade e capacidade do serviço que é prestado aos clientes e nas condições oferecidas às empresas para fomentar o investimento privado nos espaços do SIMAB

Como coordenam as diferentes necessidades dos vossos clientes?

O setor agroalimentar foi dos poucos que cresceu e se modernizou durante a última crise económica, isto porque é dos setores onde efetivamente existe sempre consumo, seja ele maior ou menor. Por isso, temos nos nossos espaços pequenos agricultores, pequenos e médios grossistas, grandes empresas nacionais e inclusivamente grandes multinacionais. Ao todo, são cerca de 1500 empresas, cujas necessidades são respondidas, desde logo, através da diferente tipologia de espaços de comércio que disponibilizamos, que podem ir de uma “pedra”, uma marcação no chão para pequenos produtores, a pavilhões inteiros, quando necessário, para as empresas nacionais e multinacionais, que exportam, importam, produzem e comercializam. É de salientar que todos os espaços têm as condições logísticas de aprovisionamento e venda. Além disso, beneficiam de muitas sinergias, nomeadamente no que respeita aos negócios que podem ser realizados entre empresas, a existência de outros serviços complementares, como a limpeza interior e exterior e remoção de resíduos sólidos, segurança, manutenção, as formações, o apoio à inovação e desenvolvimento e o facto de existirem, também nestes espaços, serviços de logística e de transporte

É um setor cada vez mais atrativo para a nova geração de empresários?

As novas gerações começam agora a assumir as responsabilidades dos negócios da família, na sua maioria, e têm a ambição de crescer e de se internacionalizar, com foco na inovação do seu produto e na modernização dos seus espaços. O setor, em si mesmo, fez esse mesmo caminho e modernizou-se, tornou-se resiliente e recebeu inclusivamente pessoas de fora do setor, que viram na agricultura uma solução profissional. Isso provocou um aumento da produção, mas também da qualidade dos produtos, o que levou à procura de novos mercados e à consequente exportação, nomeadamente no que respeita ao vinho, ao azeite e mesmo a produtos hortofrutícolas. Atualmente, assistimos a cada vez mais contratações de pessoas qualificadas e a um aumento significativo das parcerias entre o setor agrícola, as universidades e as entidades bancárias, o que nos leva a afirmar que o setor agroalimentar está em franco crescimento e nós estamos na linha da frente daquilo que existe de melhor no mundo em termos de mercados e plataformas logísticas.

Neste momento, Portugal enfrenta uma pandemia e a saúde pública está em causa. Que cuidados estão a ser tidos nos mercados abastecedores do Grupo Simab?

O Grupo SIMAB, enquanto entidade gestora dos Mercados Abastecedores da rede nacional de interesse público, tem, naturalmente, como todas as instituições da República, acompanhado com atenção a evolução do surto mundial do novo coronavírus e da doença Covid-19, a existência dos diagnósticos positivos em Portugal e as recomendações da Direção Geral de Saúde e do Governo. Similarmente, tem estado em contacto com as diferentes autoridades locais de saúde dos concelhos onde temos presença. Os Mercados Abastecedores do Grupo SIMAB seguem as recomendações da Direção Geral de Saúde, que recomenda práticas de prevenção de infeções: Medidas de higiene e comportamento do foro respiratório. A par dessas medidas o Grupo SIMAB desenvolveu um Plano de Contingência, que se consubstancia em várias fases, consoante a evolução da situação, que integra medidas preventivas e de monitorização, de contenção e contenção alargada e de mobilização da resposta bem como procedimentos destinados aos nossos trabalhadores, aos nossos clientes e aos clientes dos nossos clientes, bem como ações de comunicação destinadas a todos esses públicos alvo. Cada empresa do mercado, independentemente da sua dimensão, do volume de negócio ou do número de funcionários, e seguindo as orientações/recomendações da DGS, deve ter o seu plano de contingência e ser responsável pelo fornecimento do material de proteção que entenda por apropriado para os seus funcionários. Mais se informa que foram tomadas medidas específicas, tais como reforço da desinfeção dos espaços comuns exteriores e interiores do mercado, através da utilização de produtos que se encontram de acordo com as recomendações indicadas pela DGS, relativamente à situação anormal de pandemia COVID19, bem como reforço do piquete de limpeza nas instalações sanitárias. No pavilhão dos produtores, no MARL, colocaram-se dispensadores com desinfetante e, pelas suas caraterísticas específicas, está a ser praticado o controlo de acessos, por forma a limitar, no período inicial, o aglomerado de pessoas. Relembramos também que durante este período de contingência não existe a obrigatoriedade de a venda se manter durante todo o período estabelecido, podendo cada empresa, dentro da janela horária 15h30 – 23h00 – praticar o horário que entender. Contamos com a colaboração de todos os utilizadores do MARL para que sejam levadas a sério e cumpridas todas as recomendações da DGS por forma a conter o contágio por COVID-19.

No que respeita ao futuro, quais são os principais desafios que o SIMAB enfrenta?

O grande desafio do futuro passa essencialmente pela logística e a sua reorganização. Os mercados abastecedores cada vez mais vão funcionar como hubs logísticos de primeiro nível, mas depois, no que respeita ao nível do abastecimento da cidade, existirão hubs de abastecimento secundários, nomeadamente os mercados municipais, que são equiparados a pick-up points ou pequenos supermercados. Aquando dessa distribuição para os mercados secundários, as horas de cargas e descargas terão de mudar , os veículos de distribuição também serão diferentes e a interconectividade entre mercados municipais e abastecedores terá de ser sujeita a debate. Por outro lado, temos de continuar a modernizar os nossos espaços, de forma a continuarmos a criar valor, em conjunto com os acionistas e os nossos clientes, para os servirmos melhor. Além disso, precisamos de aprofundar oportunidades de negócio e diversificar os serviços, nomeadamente no que respeita ao comércio internacional e eletrónico, aos serviços complementares e aos espaços de inovação. O grande debate futuro será a articulação entre os hubs de primeiro nível e os de nível seguinte e, posteriormente, com os clientes e o consumidor final. Estará em causa a qualidade e a segurança do abastecimento agroalimentar às cidades.

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