Que características tem este terreno de três hectares e que castas tem plantadas?
Trata-se de uma pequena quinta situada no concelho de Felgueiras. Está a uma altitude de 400 metros, o solo é xistoso-argiloso e tem uma exposição solar Nascente/Sul. Está ocupada com videiras (Azal, Loureiro e Arinto) com 30 anos.
A Quinta da Palmirinha foi a primeira quinta a trabalhar em produção de agricultura biodinâmica no país, há 16 anos. Que conceito é este e como é que ele é aplicável à produção agrícola e vitivinícola?
Comecei a trabalhar esta vinha em 2000. Em 2001, foi anunciada uma formação de uma semana em agricultura biodinâmica, em Celorico de Basto, com um prestigiado formador francês, Pierre Masson. Foi aqui que decidi que era este o caminho que iria percorrer. Ao longo de vários anos, tive a sorte de poder contar com o apoio de um brilhante técnico de viticultura, Daniel Nöel, que me ajudou muito a obter a certificação biodinâmica, em 2008. Desde então, passei a utilizar no rótulo dos meus vinhos a designação “Demeter”. A agricultura biodinâmica tem como metas principais recuperar a fertilidade do solo, promover o equilíbrio entre o mineral, o vegetal e o animal e produzir alimentos de altíssima qualidade. Tanto quanto possível, dentro da quinta deve encontrar-se resposta para todos os problemas que surjam a nível de fertilização, combate a insetos e fungos. Obrigatoriamente, são aplicados os preparados biodinâmicos. Também o acesso a um calendário lunar pode auxiliar o agricultor a planificar os seus trabalhos para dias mais propícios.
Que vantagens traz esse tipo de agricultura, ao solo e ao produto final?
A agricultura biodinâmica regenera os solos agrícolas, quer pelo coberto vegetal que mantém em permanência, quer pela aplicação dos preparados biodinâmicos. Não utilizando nem herbicidas, nem inseticidas, o solo recupera
uma vida extraordinária. Necessariamente, os frutos extraídos são de qualidade superior, tanto nos teores de matéria seca, como pela sua pureza.
“Todos os vinhos que faço são protegidos exclusivamente com a flor de castanheiro”
Fez uma alteração à forma como conservava os vinhos – substituiu o sulfito por extrato de flor de castanheiro no mosto, com bons resultados. Que resultados foram estes? Por que motivo foi importante esta alteração, a nível da conservação do vinho?
Eu não me conformava com o facto de ter que acrescentar, dentro da adega, um químico (sulfuroso) que, frequentemente, provocava alergias às pessoas que bebiam os meus vinhos. Em 2015, com o apoio do Instituto Politécnico de Bragança, ensaiei a Flor de Castanheiro. Nos dois anos seguintes, acertámos as dosagens e, a partir de 2018, todos os vinhos que faço são protegidos, exclusivamente, com a Flor de Castanheiro, com excelentes resultados. Para além da pureza e autenticidade, estes vinhos têm um tempo de conservação muito longo.
Como tem sido a produção, ao longo dos anos? A forma biodinâmica de produção ajuda a obter vinhos com resistência diferente às alterações climáticas, por exemplo?
As colheitas, no que toca a quantidade, variam muito de ano para ano, havendo anos, como 2023, que são para esquecer. Com os recursos tão limitados para o combate de fungos (enxofre e cobre, sendo este limitado a 3kg/ha/
ano) e a plantas com características antifúngicas, nos anos mais chuvosos, uma má colheita pode sempre acontecer. Temos, no entanto, uma vantagem: em anos muito secos, sendo o nosso solo muito poroso – em resultado das práticas atrás descritas – a água da chuva entranha-se até à profundidade e ali fica reservada até ao Verão e assim o risco de escaldão torna-se muito menor.
Quinta da Palmirinha
sumbi@sapo.pt | joaogoucho@palmirinha.com
255 422 886 | 962 785 717