“A sociedade deve contribuir para o crescimento profissional da mulher”

Roberta Miotti é advogada há mais de 25 anos. Com domicílio profissional no Brasil, em Portugal e em Itália, assume ser uma “cidadã do mundo” que escolheu Portugal para viver. Reconhece que o país está legislativamente evoluído, mas no que respeita à mulher e à equidade relativamente ao homem, sobretudo na evolução na carreira, a mulher ainda tem algum caminho para percorrer.

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Em Portugal, ainda persistem algumas barreiras à evolução da carreira que diferem entre géneros. Por que motivo ainda têm as mulheres mais dificuldade em aceder a cargos de liderança dentro das organizações?

Desde os primórdios até meados do século XX as mulheres ocupavam um papel secundário nas sociedades e ao longo da evolução dos povos. Após séculos de subserviência, as mulheres começaram a manifestar-se, lutar por igualdade de direitos, pelo direito de estudar, trabalhar, votar e equipararem-se aos homens, mas foram
necessários muitos anos, protestos, manifestações para que essa realidade começasse a ser transformada. As mulheres têm demonstrado grandes capacidades, obstinação, resiliência, não somente no que tange às suas
qualidades intelectuais, mas também em vários âmbitos pessoais e profissionais. Na minha perceção, apesar dos paradigmas, há uma grande evolução no sentido da equiparação e existem mulheres fortes que exercem cargos de extrema relevância em grandes empresas, na Advocacia e até mesmo na política.

Quanto peso ainda tem, para uma mulher as suas tarefas sociais e familiares? Isso influencia a própria, aquando da possibilidade de se candidatar a uma posição de maior responsabilidade dentro de uma empresa, por exemplo? Enquanto advogada, a progressão nesta área de atividade é já equilibrada e justa, a seu ver? Por que motivo optou por praticar Advocacia em prática isolada?

Atualmente a mulher tem conseguido conciliar trabalho e família e há muitas que se candidatam a uma posição de maior responsabilidade dentro de uma empresa. A meu ver, a progressão na área da Advocacia é equilibrada e justa em alguns contextos, mas ainda há muito a ser trabalhado e aprimorado, dentro e fora dos escritórios, pois a sociedade também deve contribuir para o crescimento e reconhecimento profissional da mulher. Optei por praticar a Advocacia em prática isolada porque tenho uma experiência e uma vivência internacionalista, cosmopolita, sou uma “cidadã do mundo”! Tenho os meus métodos e áreas de atuação preferenciais e uma
personalidade excêntrica, costumo “nadar contra a corrente” e escolho trabalhar com o que me alegra o coração e a alma, tenho uma personalidade forte, acredito que nada seja impossível. Ser independente e autónoma é a
melhor escolha que eu fiz na minha vida profissional.

Que questões ainda lhe parece que Portugal tem para resolver, a nível de problemáticas graves, e das quais seria importante dar nota?

Na minha opinião, Portugal hoje tem problemas gravíssimos que precisam de ser resolvidos antes que seja tarde demais. A imigração, por exemplo, é algo positivo, trabalho nesse âmbito e considero que é muito importante a integração entre pessoas de países e culturas diferentes, bem como o acolhimento e proteção de pessoas em
situação de vulnerabilidade ou perigo, mas a “imigração desenfreada e descontrolada” é inadmissível. Há cidadãos que vêm a Portugal para trabalhar honestamente, agregar, integrarem-se na comunidade, mas também há os que vêm com intuitos nada louváveis. Portugal está perto de um colapso, a AIMA há mais de 15 dias não faz mais marcações (nem para reagrupamento familiar) e a Segurança Social também está no limite. O IMT também não está a dar conta de toda a demanda, tenho um cliente italiano à espera da troca da carta de condução há mais de quatro meses! Há processos de vistos Gold que aguardam a “análise” há mais de sete
meses! E vistos D7 há mais de um ano! Isto não pode continuar assim.

Quais são os principais desafios de ser advogada em 2024? Com a sua experiência profissional, que análise faz à evolução da profissão?

Em 2024 os principais desafios de ser advogada são: manter vivas as principais características intrínsecas da profissão, como a idoneidade, honestidade e a ética. Também há que se afrontar problemáticas como a “procuradoria ilícita” e a realização de atos próprios de advogado por quem não o é.